Bar Da Dona Onça e Olivier Anquier Recalcado

Olivier Anquier partiu em defesa do Bar da Onça contra o site BoicotaSP. Este site faz o papel de um livro de denúncias contra os bares e restaurantes em SP que cobram preços abusivos por pratos comuns. Como desculpa, Olivier diz que o trabalho regulamentado e os gastos com segurança encarecem os preços dos restaurantes, colocando a culpa dos preços nos braços do Estado.

Em um texto na seção de opinião da Folha, Olivier Anquier tentou justificar os preços extraordinários de restaurantes paulistas para pratos simples. O seu objeto foi o omelete da Dona Onça, de R$36. Para quem não sabe, há um site que denuncia os restaurantes caros. É um boicote que Anquier chama de “neoterrorismo eletrônico covarde e destruidor”.

De acordo com Anquier, os bares precisam gastar com segurança (já que o governo não dá), com melhores fornecedores, com o alto preço do funcionários mal qualificados (não dá pra contratar um bom, é necessário contratar uma porrada de péssimos funcionários para compensar), além dos custos dos encargos trabalhistas e com as indenizações altíssimas promulgadas contra os empreendedores a favor dos trabalhadores (sim, ele escreveu isso) e tantas outras despesinhas, como a infraestrutura que suporta toda a atividade gastronômica.

padeiro, cozinheiro olivier anquier
Olivier Anquier

Isso tudo, somado ao serviço simbólico que o restaurante pode fornecer à sua clientela de classe-média alta que precisa frequentar bons lugares, com boas pessoas, mantendo bons contatos e reafirmando suas posições sociais com um estilo de vida que envolve frequentar lugares como o Dona Onça. É claro que isso ele não falou com estas palavras nem com este tom… Seu enunciado foi mais subordinado:

“A primeira pergunta a fazer é: “Por que a pessoa saiu de casa para pedir um omelete no Dona Onça?”.

Provavelmente pelo prazer de sair para se divertir, de comer um omelete de qualidade, em um estabelecimento que um empresário corajoso idealizou, apoiando-se em anos de trabalho para montar um lugar agradável, com alma.”

O discurso de Anquier é o discurso do empreendedor que, em uma sociedade de risco, decidiu arriscar um pouco de seu capital com um empreendimento criativo e inovador no mercado de restaurantes. Um empreendedor, sujeito vital na sociedade de risco, “pois somente a obstinação e a coragem movem-nos a colocar em ação a monstruosa máquina que é uma empresa para a satisfação do seu público.“

Recalque Bate à Porta

Convenhamos, os gastos de um grande restaurante é similar aos gastos de restaurantes comuns. Não há nada que justifique o preço exorbitante de um omelete. De tudo que Anquier falou, somente uma coisa – que ficou meio que em segundo plano – pode justificar este omelete de ouro: a aura de prestígio que o restaurante suporta.

Nada, tirando esta aura de diversão requintada, porém sem o calibre de um restaurante de alto nível, destinado a situações extremamente formais ou especiais, pode justificar a existência de um prato como este no menu do Dona Onça e de seu preço nada justo.

bar dona onça com omelete a 36 reais
Bar Dona Onça

Outra face do recalque de Anquier se refere aos coices que tenta dar ao governo. Porém, creio que a situação fica cômica quando reclama das altas multas que sistematicamente são aplicadas aos pobres empreendedores, motores da nossa sociedade. Pelo amor de deus, né?

Criticar os encargos trabalhistas e as indenizações proveniente de processos trabalhistas é criticar a única forma de defesa de qualquer trabalhador comum. O desejo de Anquier é ter um restaurante com um exército de escravos especializados (já que os trabalhadores atuais não são especializados o bastante para satisfazer a clientela exigente), por mais paradoxal que seja!

O sonho de Anquier já está começando a virar realidade, pois a quantidade de trabalhadores qualificados a preencherem vagas que não precisam da qualificação exigida aumenta a cada ano. Seu sonho do escravo especializado está se tornando realidade, pois mesmo altamente qualificados, os trabalhadores precisam aceitar salários e horários abusivos.

Não há nada que se possa dizer para Anquier – ele é daqueles que corrobora e tenta, com sua autoridade, dar legitimidade perante o grande público às atitudes mais grotescas do mercado. Só resta esperar que o neoterrorismo também o atinja, para que possa se virar com as críticas populares.

0 Comentários

  1. A desqualificação sempre aparece no Brasil. Diz=se “aura” e não “áurea”.
    Duvido que esse comentário seja publicado, ao contrário dos que aparecem no siteoicota SP”.

  2. legal seu texto. Eu sou o cara que desencadeou tudo isso: eu quem escrevi no BoicotaSP sobre o Omelete de Ouro (e olha quem nem comi o referido prato), mas o valor de uma refeição por pessoa eu achei exorbitante e comecei a citar exemplos. Com o tempo e as respostas dos blogs e do proprio BoicotaSP, ficou chato pro “Padeiro Gourmet”

  3. Só vou concordar em um ponto que o Olivier Anquier escreveu… “indenizações proveniente de processos trabalhistas” . Na área de bares e restaurantes, existe uma indústria de processos trabalhistas. Não importa o quanto o empregador tenha sido correto, funcionário que sai já avisa que vai “por no pau” para tirar mais algum. Já vi funcionário que trabalhava das 19 as 23hs processar patrão alegando que o patrão não pagava almoço. Já vi processo pedindo indenização retroativa a 3 anos, sendo que a casa só tinha 1 ano… O processo trabalhista é visto como um complemento de renda, um “ele tem mais do que eu, então vamos arrancar tudo o que podemos”. Muitos empresários honestos quebram por causa das indenizações. De resto, $ 36 por uma omelete é piada !

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