Egito e o golpe das Forças Armadas: o Exército de novo e novamente

No Egito os novos acontecimentos são de grande valia para tentar perceber que o povo na rua não significa muita coisa se não for politizado: a Fórum fez um artigo falando sobre as manifestações do início da revolução, mostrando que a característica dos manifestantes, muitos deles, que davam o núcleo para as manifestações, eram em sua maioria, estudantes de classe média globalizados, donos de pequenos negócios, advogados, funcionários de cargos médios e etc e etc.

Era quase como a invasão que houve nas manifestações no Brasil. Mas lá, desde o início.

Depois de retirarem heroicamente Mubarack do poder estatal, só esquecem de desmantelar a estrutura que construiu para comandar o Estado. Ele, no fim, era uma parte da estrutura montada, mas não era o todo.

Quando houve eleições democráticas, o resultado não foi estranho: a população elegeu a Irmandade Muçulmana. Os manifestantes não tinham uma linha revolucionária para se pautar: elegeram conservadores que tentaram islamizar o país ‘democraticamente’. Então os manifestantes saíram novamente ás ruas, mas, dessa vez, tiveram apoio do exército Egípcio.

Essa foi a novidade: o exército apoiou as manifestação contra a IM, contra Morsi, e deram um ultimato no presidente em nome do povo. O mesmo exército que tem e sempre teve um enorme poder durante a ditadura de Mubarack. Um artigo no Reflexions On A Revolution trata disso claramente: ouve a entrada da IM e, por própria besteira, não fez nada para atender às demandas da fração pequeno-burguesa mostrada pela Fórum e, agora, após toda a imagem do exército ser desgastada após o início da revolução, ele consegue voltar como um legítimo representante do povo, tomando novamente o papel principal no Egito.

Morsi

É interessante porque mostra aos partidos e à manifestação que, 1º, não se deve confiar na democracia egípcia: o exército está sempre a espreita para fazer valer seus interesses, agora, se ajustando ao regime democrático e se utilizando de táticas oportunistas, 2º, que não é possível confiar na democracia porque não são só as pessoas da fração dominante que votam em um país de extrema tradição islâmica e de frações enormes que são totalmente sincronizadas com as interesses da religião. Parece ser, neste ponto de vista, mais uma afronta à democracia, exigindo sua quebra e mostrando seus supostos defeitos do que uma manifestação do povo. Parece deixar claro que não vale à pena ser democrático.

A IM era popular e antiga. Não foi fora de perspectiva tê-los como grupo ganhador. Mas funcionou como ligação entre a manifestação ainda não politizada e a queda de Morsi. Aplaudem o exército provavelmente sem ter muita noção de que isso significa apoiar aquilo que sempre os massacrou cruelmente e que, de fato, não foi desmantela durante a revolução que ainda está acontecendo. Dissolver o parlamento foi uma forma de varrer a presença política dos muçulmanos, mas, de forma mais abrangente, de abrir o espaço para o exército, novamente.

Exército No Golpe

O ROARMAG diz que houve três fases até agora da revolução: A queda de Mubarack, a eleição e a deposição de Moris. Três momentos notáveis do processo revolucionário: resta saber para onde essa revolução levará o Egito e se o poder estatal será de mãos representantes do exército ou se haverá uma guinada explicitamente partidária (com projeto político claro).

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  1. Faz tempo que eu to ensaiando pra falar do Egito também, mas procurava leituras porque a situação é muito maluca. De fato, é uma coisa tão extraordinária que acredito de verdade que é um acontecimento único. A população depôs o regime militar, colocaram alguém no poder através de eleição, descobriram que ser eleito democraticamente não faz do governo um governo legítimo, voltaram a tirar um tirano e agora sei lá como vão andar com as próprias pernas. Eu acho que dá pra traçar um paralelo com o Brasil (fraco, mas dá): quando tivemos problemas com os policias nas manifestações, fizemos de tudo para combater os “maus policiais” e nos fazer aliados dos “bons” policiais, convidando-os pra luta muitas vezes. O povo ficava eufórico quando conseguia apoio da classe que, via de regra, era agente da repressão do movimento. No Egito, tiveram aquele regime militar ferrenho, tiveram um regime autoritário disfarçado de democracia (mas o exército sempre infiltrado e com poder em todos os momentos) e agora voltam a ver o exército como amigos de causa, pois lutaram “ao lado” deles para depor Morsi (claro que incentivados pelo contínuo interesse de manter sua parcela de poder e influência). Li uns artigos gringos que mostram que os egípcios de fato não veem o perigo de aquilo ser um golpe, eles se veem como aliados! É meio doido, mas não dá pra prever nada. Só esperando o desenrolar. É muito único esse evento.

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