Por Cesar Barbosa
Recentemente ganhei o celular da minha irmã (que por motivos de ser muito mais foda que eu, ganhar mais que eu, poder trocar o celular e me dar o velho). Daqueles celulares que eram fodões em 2007. Sem teclas, internet, android….
Após vários tutoriais consegui atualizar o sistema para poder baixar aplicativos.
O primeiro escolhido foi o Whatsapp, pouco tempo depois uma enxurrada de vídeos, fotos e gravações de casais se pegando. Achei estranho as conversas, os grupos e as pessoas que falavam comigo, logo lembrei que meu número era novo e percebi que fui colocado em tudo aquilo por engano. Não conhecia nenhum daqueles seres e comecei a reclamar e a xingar como se conhecesse e como se não houvesse amanhã.
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Logo começaram a me chamar de viadinho, bicha e etc simplesmente por não aprovar aqueles compartilhamentos e aqueles julgamentos que vi.
Fui expulso dos grupos, mas fiquei assustado e puto por eles ainda existirem por aí, fiquei puto com os caras e as meninas que julgavam as garotas dos vídeos, passavam o facebook delas e ainda tiravam sarro de um possível suicídio “Não zoa não cara, vai que ela se mata!”. E sim, seria muito natural se ela se matasse, como algumas fizeram.
Como uma espécie de ranking idiota e sádico o cara mais foda do grupo é aquele que consegue vídeos de pessoas próximas, vizinhas, colegas de sala, faculdade. Postar facebook, telefone e até endereço das envolvidas são pontos extras, qualquer vídeo novo alguém sempre perguntará “Facebook?” alegando a veracidade do vídeo e a proximidade de quem o postou.
Me assusta ainda a frieza dos comentários, dos xingamentos e da vergonha que fazem os envolvidos dos vídeos passarem “Postei esse no grupo da faculdade!”. Me assusta o sentimento de vingança que fica em quem amou muito e esquece disso em questão de cliques. Me assusta essa exigência de uma virilidade rude, machista e até cega, uma virilidade que esquece dos problemas sociais, pessoais e pensa apenas no próprio pau, assim como os caras que me chamaram de viado queriam que eu fosse. Me assusta o machismo em sua forma mais grossa e rude, cultuando o homem do vídeo e bestificando a mulher do vídeo, é como se voltássemos séculos e as mulheres fossem proibidas de sentir prazer, de gemer, de transar, de amar.
Nelson Rodrigues uma vez disse que “Se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos outros, ninguém cumprimentaria ninguém”, o que é uma grande besteira.
Instagram: @poressechaopradormir
Pós-graduado em sociopsicologia pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo e editor do Colunas Tortas.
Atualmente, com interesse em estudo do biopoder nos textos foucaultianos.
Autor dos e-books:
Fascismo: uma introdução ao que queremos evitar;
Análise do Discurso: Conceitos Fundamentais de Michel Pêcheux;
Foucault e a Arqueologia;
Modernidade Líquida e Zygmunt Bauman.