Greve confirmada, afirma presidente do Sindicato dos Metroviários de SP

Entrevista com Altino de Melo Prazeres Junior, presidente do Sindicato dos Metroviários da Cidade de São Paulo, sobre a greve marcada para o dia 5 de junho.

Publicamos aqui a entrevista realizada pela estudante de Jornalismo da Cásper Líbero, Ana Júlia, com o presidente do Sindicato dos Metroviários da cidade de São Paulo. Uma entrevista extremamente esclarecedora e importante para entendermos um pouco mais da perspectivas e razões das greves que vêm ocorrendo pelo Brasil nesses últimos meses. Um ótimo trabalho jornalístico de uma grande amiga e companheira que foi gentil em liberar essa pauta para o Colunas Tortas.

 Sindicato dos Metroviários de São Paulo
Foto: Sindicato dos Metroviários de São Paulo

A greve vai acontecer, afirma presidente do Sindicato dos Metroviários de SP – Por Ana Júlia Cano

Altino de Melo Prazeres Junior, 47, além de condutor dos trens da Linha 1-Azul do Metrô, é presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo. Ele é o mediador de todas as negociações entre a categoria e o Metrô e entre a categoria e o Governo do Estado. A seguir, entrevista com Altino sobre a greve dos metroviários, que pretende parar a capital paulista na próxima quinta-feira (5).

Ana Cano: Hoje (30) ocorreu mais uma das reuniões de negociação entre a categoria dos metroviários e o Metrô. Vocês conquistaram as reivindicações ou a greve continua agendada para o dia 5 de junho?

Altino Prazeres: A greve continua para o dia 5. Hoje discutimos bastante os temas da campanha salarial: desde o reajuste até vale refeição, vale alimentação, plano de carreira e outros itens da campanha. Porém, concretamente, o Metrô não avançou em nada e, por isso, a proposta de greve continua. Nós teremos mais duas rodadas de negociação no Tribunal na segunda e na quarta feira, há expectativas por parte da categoria, mas, por enquanto, a empresa não avançou na negociação.

AC: A última proposta da empresa foi reajuste de 7,8%. No entanto, vocês reivindicam 35,47%. Qual a explicação para esse número e por que um salto tão grande entre as propostas?

AP: Os 35,47% são uma composição da inflação do IGPM (Índice Geral de Preços do Mercado) com um estudo encomendado por nós, feito pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos), para calcular a produtividade dos metroviários. Daí o índice de 35,47%.

AC: Vocês propuseram ao invés de entrar em greve – não trabalhar –, liberar as catracas para a população, o que, na verdade, prejudicaria menos a economia da cidade. Ainda assim, a empresa e o governador Geraldo Alckmin optaram pela greve. Qual foi a justificativa dada por eles e o que o senhor acha disso?

AP: Desde 2011 colocamos como alternativa, como desafio, liberar as catracas em vez de declarar estado de greve. É uma forma de pressão sobre o governo, que, dessa forma, perderia dinheiro. No entanto, o Metrô nunca aceitava essa proposta. Antigamente o Governo do Estado, ainda com o Secretário dos Transportes, Jurandir Fernandes, argumentava que o problema era de segurança. Agora o argumento mudou: o problema é financeiro. O que mostra que o governo não está muito preocupado com a população, que está preocupado, na verdade, em manter a lucratividade da empresa em cima dos trabalhadores.

AC: Para a greve ter resultado, toda a categoria precisa aderir e participar do movimento. Todos estão de acordo com a greve ou há opiniões divergentes, o que complicou, por exemplo, a greve dos motoristas e cobradores da semana passada?

AP: A nossa categoria é muito unida, muito coesa. Mas sempre há diferenças de opiniões. Antigamente quem dirigia o sindicato era a CTB e a CUT, hoje, quem dirige são os setores, de certo modo, mais à esquerda, que são ligados à CSP-Conlutas, independentes. Dessa forma, o sindicato, hoje, não é filiado a nenhuma central, mas possui opiniões variadas. Mas, mesmo assim, há uma unidade: todos, particularmente na base da categoria, sabem que quando formos à luta, vamos todos juntos. Quem acaba furando a greve da categoria são os supervisores, chefes e encarregados, mas a maioria da base vai junta para a greve e, por isso, é uma greve muito forte. O Metrô vai tentar funcionar parcialmente, mas, basicamente, com supervisores.

AC: Nós estamos há duas semanas da Copa. Vocês entrarão em estado de greve dia 5 de junho e pretendem assim permanecer até quando? O sindicato não corre o risco de ser multado?

AP: Se, de fato, houver a greve – o que depende das próximas negociações –, ela continuará por tempo indeterminado até resolvermos o nosso problema. Corremos o risco de levar multa, receber pressões de todos os tipos, mas estamos firmes e convictos na luta.

AC: O prefeito Haddad definiu, anteontem, algumas das greves que vêm ocorrendo como “oportunistas” devido à proximidade com a data da Copa. Entre elas, está a greve dos professores da rede pública. Você concorda com ele?

AP: Estas são greves válidas, não é oportunismo. Por exemplo, nós fizemos uma greve em 2012 exatamente no dia 5 de junho, a mesma data da greve da semana que vem. Isso não é oportunismo. O que existiu foi uma coincidência entre as datas da nossa campanha salarial com a Copa. Mas a questão vai além, tem a ver com a realidade política do país: desde as manifestações de junho do ano passado há uma sensibilidade da população e, particularmente, dos trabalhadores, em acreditar que dá para alcançar objetivos lutando: nem todos pensavam assim antes. Daí então, o maior número de greves: a dos garis do Rio de Janeiro, dos rodoviários aqui em São Paulo, dos terceirizados de Cubatão, dos operários do monotrilho também aqui. O que os trabalhadores estão percebendo? Que todos estão ganhando dinheiro – inclusive no período da Copa –, que os empresários estão aumentando os preços dos produtos: tudo o que você imaginar está mais caro por causa da Copa. Nós, trabalhadores, perdemos poder de compra. A inflação também subiu. Então, por que os trabalhadores também não podem pedir por seus direitos? O problema é que os governos sempre veem como oportunismo quando a coisa não está a favor deles.

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