Site “A Razão Inadequada” promove mesa de debates em São Paulo

"A Razão Inadequada" é um site parceiro com qualidade e conteúdo fora do eixo hegemônico. No dia 05 de junho, uma mesa de debates foi aberta na livraria Blooks sob a organização do site. Veja detalhes.

A vida em sociedade não é uma vida livre, na verdade, é uma vida delimitada, é uma vida regrada, é uma vida em que o sujeito precisa necessariamente da linguagem para não só expressar ideias, mas também para construí-las. Isso significa dizer que aquilo que não pode ser falado também não pode ser pensado, o processo de simbolização está intimamente ligado com a possibilidade de criar novas possibilidades para a vida. Tendo como objetivo a construção de um espaço de diálogo plural, o site “A Razão Inadequada” realizou (por meio de seus dois administradores, Rafael Lauro e Rafael Trindade) na quinta-feira (05) a primeira edição da mesa de debates em parceria com o canal “Entre Vistas” e a livraria Blooks.

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Evento em andamento na livraria Blooks, na rua Frei Caneca, centro expandido de São Paulo. Foto: Facebook

A livraria Blooks do shopping Frei Caneca foi palco da mesa de debates promovida pelo site “A Razão Inadequada”. Esta mesa pretende ser mensal e, para esta estreia, contou com a presença da psicóloga Bruna Dantas. O tema da discussão se concentrou em outra grande iniciativa, a primeira edição da revista homônima.

A revista “A Razão Inadequada” foi produzida no ano passado e é recheada de textos que envolvem o “regime ditatorial de valores”. Os textos presentes na revista são versões ampliadas e ilustradas de alguns textos já presentes no site, que impressiona pela organização. Na sessão de “Filósofos Essenciais”, podemos encontrar textos de Nietzsche, Foucault, Deleuze, Espinosa e Camus, segundo os autores, “são os filósofos que dizem respeito a nós dois”.

Com essa afirmação, já é possível ter conhecimento do que será encontrado no site: séries sobre esquizoanálise, O Homem Revoltado, de Camus e Assim Falou Zaratustra, de Nietzsche, recheiam o território virtual conquistado pela dupla e por seus colaboradores. Para ambos, conseguir realizar o evento na Blooks foi parte da conquista do próprio lugar, “espaços não faltam. Falta criar possibilidades para a discussão se efetuar. Buscar essas possibilidades não precisa ser uma briga com os espaços já existentes, questioná-los não é nosso objetivo”, dizem.

O que reflete, também, o próprio nascimento do site, “ele surgiu a partir de nossas discussões. Somos amigos de longa data, sempre fomos questionadores e sempre discutidos sobre diversos assuntos, foi então que decidimos escrever”. A naturalidade com que o site foi crescendo retirou até mesmo a necessidade da criação de pautas – as próprias conversas de ambos alimentavam a necessidade de assunto para a redação de novos artigos e novas séries.

“Até hoje essa maneira de criar pauta funciona. Enquanto nós conversamos as pautas vão surgindo e numa tarde nós levantamos muitos assunto, muito mais do que se estivéssemos lendo em casa. No site também há uma parte mais estrutura e conceitual, que aborda os conceitos filosóficos como ferramenta”, revelam os autores.

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A plateia lotou o local. Foto: Facebook

A importância de Nietzsche

O autor alemão é um dos autores principais, e é considerado como um ícone da história da filosofia. “Nietzsche fez a maior crítica dos valores ocidentais. Se vieram pessoas antes e depois dele, talvez ele tenha feito esta tarefa de maneira impiedosa. Mesmo após a morte de Deus, ainda somos religiosos, ainda temos valores transcendentais e Nietzsche escreve O Anticristo, Assim Falou Zaratustra, Crepúsculo dos Ídolos, Humano, Demasiado Humano e Além do Bem e do Mal para falar que os valores vigentes não nos servem mais. Não há mais instâncias transcendentes que os justifiquem”, contam.

“Ele foi o primeiro filósofo essencial que apareceu para nós e leva outros filósofos a se aproximarem ou a se afastarem de nós”, revelam.

Nietzsche é famoso por ter uma filosofia destrutiva, a filosofia do martelo, mas eles acreditam que não há nada pior do que parar na parte destrutiva da filosofia nietzschiana, “a criação é a chave, não podemos negar, é a pedra angular da potência do ser. Mas o problema é a maneira como os valores são estruturados, precisamos de uma etapa anterior à criação, para deixarmos de estar presos. Nietzsche é sim um grande niilista, um dos mais pedantes, que leva mais à sério o programa de questionar tudo, mas não se deve parar por aí, pois se perde o lado fundamental, da criação”.

Nietzsche. Foto: Hommo Literatus
Nietzsche. Foto: Hommo Literatus

“A destruição só existe porque há uma afirmação maior por trás. Não se nega por negar, pois quando a diferença se dá, ela busca uma afirmação, e para isso ela precisa operar uma destruição em determinadas estruturas e determinados valores. Eu falo ‘não’ porque eu preciso dizer um ‘sim’ maior que esse ‘não'”.

Eles nos atentam, “é necessário tomar cuidado para não cair no individualismo e no nazismo, o Nietzsche procura aliados em sua filosofia. O Zaratustra, quando desce da montanha, não procura por seguidores, e sim por aliados, assim evitamos o individualismo”.

A Alemanha Nazista utilizou a figura de Nietzsche como grande filósofo do novo homem que estaria por surgir, o “último ariano”, porém a sociedade nazista não vivenciou o paradigma nietzschiano, “dizem que você torce um pensamento filosófico o quanto você quiser. Você consegue reterritorializar um pensamento da maneira que quiser: quando a irmã do Nietzsche organiza, junto de seu marido nazista, o livro ‘Vontade de Potência’ de um jeito específico, colocando prefácios e posfácios, colocando peso em determinadas questões, como a aversão aos movimentos sociais, ao anarquismo e ao socialismo, se cria um novo pensamento – que não foi organizado por Nietzsche”.

Nietzsche não impõe um projeto de sociedade, nem um modelo de ação individual. É neste princípios que ambos os autores criam seus textos e levam o projeto da mesa de debates, com total liberdade para manusear da maneira que der na telha. Aquilo que é interessante será escrito, aquilo que é saudável, será debatido. Vida longa ao pensamento livre!

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