TV Relaxa e TV Falácia já podem se abraçar

TV Relaxa e TV Falácia são faces da mesma moeda: crianças que não saem do apartamento e botam Strokes pra escutar em seus iPods.

TV Relaxa.
TV Relaxa.

Esses dias estava dando uma olhada na minha timeline e reparei num post de uma página chamada TV Falácia. O nome me chamou atenção e fui dar uma olhada, foi então que percebi que se tratava de uma página mais ou menos em oposição àquela outra chamada TV Relaxa. Não que fosse uma oposição direta, mas sim uma oposição ao seu núcleo: aos seus argumentos e a sua visão de mundo (e esses dois não são só desta página, mas são vistos comumente pelo Facebook).

O TV Relaxa não precisa de apresentações para quem já ficou mais de meia hora na rede social: é uma página que se diz de esquerda, apoia pautas progressistas, parte de um princípio de que a vivência está acima de tudo e de que é necessário a desconstrução de si para cada militante dito privilegiado (brancos em geral, homens em geral, cis em geral e etc) – a temática da desconstrução já foi tratada em minha coluna bem aqui.

Veja também: Lênin, Estado e a Revolução

Acontece que a oposição entre a TV Relaxa e a TV Falácia é falsa. Ou melhor, é uma oposição que só existe dentro de uma espectro bobo: o da ciência positivista como verdade. Por exemplo, quando se diz que a vivência está acima da ciência, não se assume que a ciência está errada em seus métodos, só se rejeita suas conclusões. Da mesma forma, a TV Falácia emite os mesmos grunhidos dos cientistas do fim do século XIX: é ciência, tem métodos, tem um objeto específico, então tem a possibilidade de um conhecimento objetivo do mundo.

Uma das interpretações falhas do TV Falácia sobre os argumentos do TV Relaxa.
Uma das interpretações falhas do TV Falácia sobre os argumentos do TV Relaxa.

De um ponto de vista marxista, não interessa se a cadeira está realmente ali. Não que ela possa não estar, mas a cadeira em que eu estou sentado ser ou não real não faz parte da verdade nuclear que o marxista pode conceber: a verdade nuclear do marxismo é a verdade das relações de produção. Não interessa se a cadeira está de fato aqui (o marxismo assume isso como pressuposto, porque realmente isso não interessa) o que interessa é que esta cadeira passou por um processo de produção em que membros da classe trabalhadora foram explorados para que ela pudesse existir. A existência da cadeira enquanto unicamente uma mercadoria cobre o fato da exploração.

Se tratando de uma realidade dialética, a verdade não é a compreensão da matéria que forma a cadeira em que eu estou sentado: a realidade é dialética na medida em que as relações sociais de produção são modificadas dialeticamente, tendo como motor principal a luta de classes.

A TV Relaxa, com seu individualismo epistemológico, e a TV Falácia, com sua primazia do objeto, já foram superados há anos: um é bobo e burguês, já o outro é também burguês, mas é velho. Se trata da luta entre o novinho e o ancião.

Quando se tem um punhado de classe média com dinheiro pra ser descolada e ir aos melhores shows internacionais e, óbvio, com preguiça de sair da cadeira atrás do computador, se tem o TV Relaxa. Quando se tem um punhado de criança mimada arrogante, com vontade de sair por aí dizendo a verdade absoluta, neo ateus e conservadores com menos de 18 anos, aí se tem o TV Falácia.

É o espectro da babaquice da internet: o novo e o velho já corrompidos pela ideologia burguesa que preza uma relação mecânica entre sujeito e objeto.  De um lado a primazia do sujeito, do outro a primazia do objeto. Cresçam.

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Quer entender um pouco mais do jovem Marx? Leia O que é Alienação para Marx?

6 Comentários

      1. Cérebro? Tem certeza? Então me explica, como “método correto” produz “conclusões” falsas, como sugere o texto acima? Nunca vi tanta confusão de conceitos…rs

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