O homem da servidão

Ao caminhar sob a luz noturna, um casal de amigos pára em um bar para enfim se despedirem. Começam a explanar sobre a família, livros e temas sem relevância. A moça por um instante se prendeu na conversa de outra mesa. Lá continha um grupo de trabalhadores de serviço mecânico e a palavra de um deles, chamou a atenção dela:

– Cara! Vai dar certo… É só confiar em Deus…

A amiga inquieta então, reflete as várias possibilidades de significação que poderia ter com seu amigo e explana:

No viés do devir, o homem mesmo que se diz pós-moderno ainda tem sua liberdade em oposição ao pensamento. Como o racionalista holandês Baruch Espinosa causou incômodo pelas suas reflexões no século XVII: “É em momentos como esse que recorro a minha amiga querida: solidão. Assim, não sou odiado pelos ignorantes e nem me sinto compelido a provocá-los”. O que é o sentido da vida? Qual a finalidade de se acreditar em Deus? E, por quê ele sempre tem que ser a resposta para quase tudo?

Nossas fadigas, tolices, reclamações e opressões sociais são extremamente jogadas na esfera coletiva e o refúgio é morte como produto final. Vai além de um ciclo vicioso: Nossa liberdade é falsária. A sociedade nos molda a sermos obedientes desde a infância. O pai e/ou mãe ditam as regras, basta aceitá-las. Quando crescemos continua… Na universidade também é assim (com ressalvas). Em sua maioria, os alunos são ouvintes e meros receptores. O choque não é permitido. O mesmo ocorre no âmbito do trabalho… Aí, se você discordar do chefe ou explanar na sinceridade os mecanismos de produção é outro história… O “certo” é aceitar tudo como está e dizem que isso é o feedback. O ciclo se estende pela Igreja até chegar ao Estado.

Entre um grande gole e outro ela prossegue:

– Para Espinosa são livres todos os que faz trabalho de produção sem constrangimento. Logo, não existe a possibilidade de que os homens sejam livres, o que implica dizer que o homem é prisioneiro do sistema e de si. Nessa lógica, só Deus é livre porque nada o constrange.

O amigo retruca:

– Mas é claro! Quem que pode julgar Deus além dele mesmo? Foi por ser racionalista ao extremo que o filósofo foi excomungado pela Igreja e apontado como traidor ateu. Para ele, Deus não é o Deus como dizem. Deus é a natureza. E o raciocínio, o pensamento é a força maior da vida. Homens devem entender que somos parte da natureza, que somos todo um corpo social que contém marcas. Friedrich Nietzsche estava de mãos dadas nessa condição também.

– Nada se conquista sem liberdade. Do contrário, os jardins dos sonhos seriam impossíveis – finalizada a moça curiosa.

Um brinde às transformações é feito.

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