Somos Abelhas

A personagem de hoje é uma abelha curiosa que fica na janela procurando estórias para tentar entender a dela mesma. Para ela, nada é por acaso. Porque ela quer falar dos perdedores, dos desgraçados, dos banidos, dos que vagam pela cidade, das abelhas e de outros insetos. Não porque ela seja extremista ou que queira mostrar rebeldia, mas sim, pela beleza que há por trás.

O corpo está fisicamente cansado. Tenta se deleitar e distrair com um filme argentino. De fato isso ocorre: os músculos da face e das costas não se contraem e o personagem de fora se vê na tela, ali dentro, fazendo parte da dramaturgia. E pensa consigo mesmo: – Que bom que tem sido assim ultimamente. O caminho das artes e da literatura tem me salvado e me indicado ótimas nuances! Além, é claro, de aumentarem minhas indagações.

A película segue um fluxo efêmero e estimulante. O desfecho é como o personagem real faria. Aí, a grande companheira, a Insônia chega de repente, sem avisar e instiga suas utopias idealistas: – Feche os olhos, conte carneirinhos – ela diz. O personagem acata, mas isso é provocante demais. Para que perder tempo dormindo, se quando chegar a minha hora de partir, irei dormir eternamente?

Espia o celular de canto de olho, são mais de 2h40min. O jeito é se render ao inevitável: Pensar no silêncio. O que deixa as histórias excepcionais não são as maneiras de contar e sim, a preocupação forte e verdadeira de narrá-las. A maior parte dos livros e filmes são publicados para ter retorno financeiro. De alguma forma, banalizam o todo e a gente meio que já sabe o que está por vir. Esta é a grande diferença. Quando você é causado por uma preocupação até então não revelada. Shock! O incômodo é total e lhe causa estranheza, dor… E nem por isso, o final poderá ser ruim.

O longa-metragem argentino “Medianeras” proporciona uma abertura quanto às questões de Era Digital, Relacionamentos Urbanos do século XXI e Arquitetura moderna. São os temas centrais que se entrelaçam. E há dois personagens que são os principais: um homem e uma mulher. Cada um vive na sua “caixa de sapato”, termo que quer dizer casa, devido ao fato de que a população aumenta e os “apertamentos” crescem. As histórias de ambos são unidas no decorrer da película. Os dois universos que são diferentes possuem algo em comum. !Dale! Cabe agora a você descobrir. Aqui, Leitor, só tento instigá-lo.

Particularmente, gosto de caminhar sem pressa no centro em dias nublados e olhar para cima, tentando descobrir o que cada “abelha” está fazendo. Vamos combinar que há prédios que são uma grande colmeia, 60, 80 apartamentos. Sou apenas uma dentre bilhões de abelhinhas.

Uma à direita, toma uma ducha e cantarola. Outra à esquerda, briga ao telefone. Em baixo, a janela mostra o rapaz fazendo o rango. Na do lado, um casal de namorados querendo desfrutar do prazer carnal em cima da mesa da sala. No outro, um senhor chora sentado confortavelmente no sofá. E, ali um solitário…

O fluxo segue seu ritmo. A personagem de hoje é uma abelha curiosa que fica na janela procurando estórias para tentar entender a dela mesma. Para ela, nada é por acaso. Porque ela quer falar dos perdedores, dos desgraçados, dos banidos, dos que vagam pela cidade, das abelhas e de outros insetos. Não porque ela seja extremista ou que queira mostrar rebeldia, mas sim, pela beleza que há por trás.

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