Silogismos da Amargura, de Emil Cioran

Nessas meditações sobre morte e existência, Cioran nos mostra as suas várias facetas da maneira mais concisa já atingida em sua obra.

A história das idéias é a história do rancor dos solitários.[1]

Emil Cioran é o mais lírico dos filósofos – mesmo que a alcunha de pensador não lhe caia exatamente bem – e em “Silogismos da Amargura” a sua prática poético-niilista assume sua melhor forma: curto e direto, Cioran vai ao âmago das questões que analisa rapidamente em frases que escondem contextos mais profundos.

Os silogismos são aridamente inteligentes, provocam reflexão e parecem ter sido feito no formato e na intensidade corretas para o desconforto, em tempos em que não conseguimos manter a nossa concentração para obras mais longas e elaboradas.

Ele explora vários temas nesta obra, que é por definição dispersa apesar de manter a confluência de temas comum às obras do romeno. Concentra-se no mal e na decadência da civilização ocidental como temas relativamente mais importantes, mas não deixa de tecer elogios a Shakespeare (“encontro de uma rosa com um machado”) ou falar sobre o ato de escrever (“um livro que, após haver demolido tudo, não se destrói a si mesmo, exasperou-nos em vão.”).

Uma obra com influências Schopenhauerianas, com ecos do existencialismo e mesmo de nomes como Nietzsche, a quem passou a recusar (leia mais sobre isso aqui) e Wittgenstein.

Como não poderia deixar de ser, Cioran foge do aspecto inerente aos silogismos. Enquanto silogismos são modelos de raciocínio baseados na relação entre premissas e conclusões, que podem ser analisados, por exemplo, a partir de tabelas-verdade, os silogismos de Cioran são subjetivos, apenas conclusão, e só são passíveis de análise pelo “espírito”.

Em suma, os Silogismos não possuem muita necessidade ou possibilidade de explicação. O romeno, em carta para o tradutor da edição brasileira, fala sobre sua compreensão do sucesso do livro, das perspectivas da própria vida e da relação da obra com as nossas:

Estes silogismos, publicados em 1952, passaram durante muito tempo despercebidos. Desde que apareceram em edição de bolso, seduziram os jovens. Só uma geração desiludida poderia se entusiasmar por uma visão tão negativa da história. Só da história? Da existência em geral. É preciso ter coragem de reconhecer que a vida não resiste a uma interrogação séria e que é difícil, e mesmo impossível, atribuir um sentido ao que visivelmente não comporta um. Por outro lado, nem que seja por gosto do paradoxo, podemos ser seduzidos por esse naufrágio, pela amplidão, pelo brilho do nada de tudo o que vive.

O homem tem todas as chances de desaparecer e desaparecerá mais cedo do que pensa, mas, por outro lado, tem razão em prolongar essa tragicomédia, nem que seja por distração ou por vício. [2]

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Referências:

Nota: Obra original de 1952. Tradução de 2011 para o português feita por José Thomaz Brum para a Editora Rocco.

[1] CIORAN, 2011, p.2  [Voltar ao texto]

[2] CIORAN, E. Carta ao Tradutor. Link aqui.   [Voltar ao texto]

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