Complexo de vira-latas: Luciano Huck vira cafetão nas redes sociais

Luciano Huck publica em seu perfil no facebook uma proposta para encontrar o "gringo sob medida" para as mulheres cariocas. Além de ser uma contribuição negativa às ações contra o turismo sexual na copa, também contribui para a noção do "complexo de vira-latas".

Ontem (25) pela manhã, Luciano Huck postou em seu perfil do facebook um anúncio para um novo quadro de seu programa em que chamava mulheres cariocas para encontrarem “gringos sob medida”.

A publicação no facebook de Luciano Huck
A publicação no facebook de Luciano Huck. Imagem: SQN

Horas após a publicação e depois de receber diversas críticas pela proposta (inclusive sendo chamado de cafetão), Huck apagou a mensagem de sua timeline.

A grande mídia ainda tentou proteger a figura do apresentador, que também foi alvo de críticas em abril, após impulsionar a campanha oportunista #somostodosmacacos. Segundo matéria da Folha de S. Paulo, “vale lembrar que o programa de Luciano ‘O Caldeirão do Huck’ (Globo), já exibiu reportagem em seu programa na qual procurava na Suécia um príncipe encantado para uma moça paulista”.

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Luciano foi acusado por seus seguidores de contribuir negativamente para a campanha contra o turismo sexual no país. Isso porque a mulher brasileira já é tratada como objeto sexual por pressuposto, vide a rota de turismo sexual existente e a imagem da mulher brasileira na Europa.

Complexo de Vira-Latas

Então, indo além da falha grosseira de Luciano Huck em reforçar a noção da mulher brasileira hiper-sexualizada que deseja um homem de fora, o que ele também reproduz em sua proposta é a mentalidade colonizada de que se relacionar com alguém de fora é “mais especial” que se relacionar com alguém de dentro.

A Folha de S. Paulo tentou equilibrar a balança, ao dizer que o programa de Luciano também realizou o inverso, buscando um príncipe sueco para uma mulher paulista, entretanto ambos os casos refletem o mesmo problema: o complexo de vira-latas.

#somostodosmacacos luciano huck
Imagem: Diário do centro do mundo

Nos dois casos existe uma busca pelo “gringo”, que não é qualquer um de fora do país: “gringo” é aquele que veio de países metrópole. É o europeu, o civilizado. Ele, com seus modos e sua etiqueta superior, seria o tutor perfeito para nossas mulheres (eternamente infantilizadas) e um concorrente imbatível.

Este complexo de vira-latas pode ser aplicado, então, em diversos casos, não só no futebol, conforme Nelson Rodrigues dava ênfase. Segundo o escritor, “por ‘complexo de vira-latas’ entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. Isto em todos os setores e, sobretudo, no futebol”.  Mas a inferioridade que o brasileiro se coloca não é fruto da vontade dos brasileiros em serem inferiores perante o mundo. Também não se trata do mundo todo, pelo menos não hoje.

O complexo de vira-latas tem raízes na colonização, na imposição de valores europeus na sociedade brasileira que se formava. Com a internalização dos valores e da cultura europeia, que se considerava obviamente superior e tutora dos povos não civilizados das Américas. Norbert Elias, ao buscar a sociogênese e a psicogênese do termo “civilização”, descobriu que sua força está nos modos, na etiqueta, numa maneira superficial de se lidar com o mundo, ou seja, de mostrar aquilo que de fato não é.

O povo civilizado, portanto, é aquele com mais regras para a repressão das pulsões (dos impulsos) e com uma maneira de se expressar que demonstre continuamente esta habilidade em “não ser animal”, em ser civilizado, controlado.

Quando este tipo de noção passa a fazer parte dos discursos que atravessam os sujeitos tidos como “não tão civilizados”, é fácil de entender que eles próprios se colocam na posição que lhes parece ser óbvia. Quando a nossa cultura é composta pela significação do colonizador como alguém “merecedor”, automaticamente nós, os colonizados, nos tornamos não merecedores.

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