Filósofo Luiz Felipe Pondé e o maior problema dos jovens de direita

o filósofo Luiz Felipe Pondé, em sua coluna para a Folha, diz que um dos maiores desafios dos jovens de direita é... pegar mulher. Não, não é mentira e nem um brincadeira de mau-gosto, ele escreveu isso.

Em sua coluna para a Folha, Luiz Felipe Pondé produziu um texto peculiar. Segundo sua lógica filosófica, “um dos maiores desafios dos jovens que não são de esquerda” é a falta de mulher. Para Pondé, a barreira na vida dos jovens de direita (quais?) é a falta de mulher que se interesse por eles. Ele chega ao ponto de dizer que “a esquerda festiva (que é quase toda ela) reproduziu porque teve muitas mulheres à mão”.

Uma lógica bem estudada. Existem jovens e movimentos de esquerda por que a esquerda se reproduziu, já que tinha o monopólio das mulheres. Vivemos em uma horda, aliás, é necessário deixar claro. Sobrevive quem detém o monopólio das mulheres, tanto para satisfação sexual como para reprodução e continuidade da espécie. A esquerda é uma espécie, também é necessário deixar claro: ser de esquerda está no sangue.

filósofo luis felipe pondé nas redes sociais
Pondé não foi perdoado pelas redes sociais

Segundo o filósofo, as mulheres não se interessam por coisas chatas dominadas por jovens liberais (que não são os conservadores amantes da ditadura, ele deixa claro): economia, administração e as engenharias são os cursos dos liberais que não pegam ninguém, já as ciências sociais, pedagogia, letras e psicologia são aqueles em que mais se encontra mulheres com potencial de sexo com gente de esquerda, já que são cursos dominados pela esquerda, (de acordo com Pondé!).

A sua perspicácia e seu “tom provocador” (ou machista) ainda ecoa em seus comentários sobre como seriam os xavecos que acontecem nesses ambientes: “imagine você dizendo para uma menina bonitinha algo assim: “O capital mata crianças de fome na África!”. Mesmo sendo ela uma jovem endurecida pela batalha contra a opressão da mulher (por isso tenta desesperadamente ser feia), seu coração jorrará ternura”, terminando com um comentário lindo sobre a função do álcool na sociedade, “desde as primeiras populações na pré-história sabe-se que sem álcool e conversa (por isso aprendemos a falar, do contrário só as meninas falariam) a humanidade teria desaparecido porque mais da metade das meninas não iam querer transar –principalmente quando descobriram a dor do parto”. Embebedar para transar, nada mais natural.

O problema de Pondé é com a cara de Sheldon que um bando de homens discutindo economia transparecem. Meu amigo, esse é o menor dos problemas.

filósofo luis felipe pondé
Mais uma tiração de sarro do texto de pondé

Em poucos passos, como um texto meramente “provocador” (insisto, este é o adjetivo perfeito para caracterizar qualquer coisa vazia de conteúdo e preenchida com rancor) consegue se tornar uma piada tão grande? A resposta é fácil e difícil. Fazer um texto que tem como mote principal a atividade masculina e a passividade feminina não é mérito do Pondé, mas é uma surpresa que ele ainda queira ser levado à sério com essa façanha.

Seu texto provocador não é só um texto de deboche, mas é um discurso muito bem localizado em nosso dia-a-dia. Temos uma mulher passiva que precisa ser conquistada pelo homem ativo, monopolizador da vontade sexual. Mulheres frágeis que se protegem do desejo sexual e que precisam ser embebedadas (ou que precisam de um baseado, como ele próprio sugere) pra sentirem vontade de transar.

Ao mesmo tempo, homens que falam qualquer merda pra conseguir seus objetivos (os xavecos furados que ele exemplifica são do tipo Charlie Harper – daqueles que só funcionam desta maneira em séries de televisão americanas).

Pierre Bourdieu, em Os Herdeiros, demonstrou como a herança social tem uma papel importantíssimo para a construção do sujeito e sua colocação na estrutura social. Um sujeito ocupa uma dada posição não só por atributos externos (por pertencer a uma classe social), mas também por aquilo que ele consegue expressar e aquilo que ele consegue manusear – nem todos são aptos a “apreciar” da maneira considerada legítima a música clássica, quem consegue, é um Deus entre a plebe, é a representação do refinamento, é o dom incorporado.

Veja também: Gostos de Classe e Estilos de Vida – Pierre Bourdieu

filosofo luis felipe pondé na folha
Ganhou notoriedade depois que começou a escrever para a Folha

Então não se trata de ser rico por ter dinheiro, mas de ser rico por ser refinado, delicado, por ter a capacidade de utilizar de ferramentas culturais que não seriam utilizadas por qualquer pessoa, por dominar assuntos em particular que não seriam dominados por qualquer um (como ser um especialista em teatro ou em Bach).

E o que isso tem de importante? Para Pondé, o monopólio das mulheres que a esquerda conquistou (WTF?! Ele diz isso mesmo!) dá vazão para a reprodução do tipo social “de esquerda”. Mas a realidade cotidiana mostra que o que mais há são pessoas que não ligam para a esquerda ou para a direita. Esquerda e direita nem mesmo é um conflito importante na maioria das conversas cotidianas.

A ideia de Pondé sobre essa reprodução do tipo social “de esquerda” também é bem anacrônica. Sexo não gera filhos automaticamente, sexo tem uma função além da biológica: sexo tem função social. A função social vai além e domina a função biológica, ela dá a abertura para a função biológica acontecer ou não.

O que isso significa? Significa que dizer que existe uma reprodução do tipo social “de esquerda” não é só idiota por ter como pressuposto um “monopólio das mulheres”, mas também por considerar que toda trepada gera um filho ou que todo xaveco gera um casamento. Por incrível que pareça, às vezes as pessoas somente transam pra gozar.

A função social do sexo vai além da continuidade da espécie e está desde o “quero carinho” até o “quero gozar”, passando por “estou com tempo” e fazendo curvas no “você é legal”.

Então existem três pontos mais ou menos ocultos neste texto “provocador”: 1) pressuposto da oposição Atividade X Passividade sobre a oposição Homem X Mulher, 2) pressuposto da falta de desejo na mulher e 3) pressuposto da oposição Racionalidade X Emoção sobre a oposição Homem X Mulher. Isso é bem freudiano: quem deseja é ativo, quem não deseja, não utiliza a pulsão, o instinto, o impulso sexual. Objetos reprimidos que estão esperando pela ação externa. Ainda há o terceiro ponto, segundo os estudos iniciais de Freud, que mais tarde foram revisados, a mulher não teria um superego tão forte quanto o masculino: o superego é a Lei da Cultura, a lei é aquilo que dá ordem ao caos, é aquilo que permite a racionalidade.

É claro que, por ser um texto “provocador”, não se leva isso à sério. Entretanto, essas três características sub-reptícias estão presentes não naquilo que o texto quer, mas naquilo que o texto diz. É como se isso fosse um pressuposto pra entender a “provocação” do texto. Talvez isso indique por que quem é de direita, na visão do Pondé, seja um frustrado sexual. Talvez este seja o grande desafio dos jovens de direita, deixarem de ser tão machistas.

Abaixo o texto na íntegra:

Por uma direita festiva – LUIZ FELIPE PONDÉ

O maior desafio para um jovem estudante liberal no Brasil é pegar mulher no meio universitário e afins

Ser jovem e liberal é péssimo para pegar mulher. Este é o desafio maior para jovens que não são de esquerda.

Um dos maiores desafios dos jovens que não são de esquerda não é a falta de acesso a bibliografia que seus professores boicotam (o que é verdade), nem a falta de empregos quando formados porque as escolas os boicotam (o que também é verdade), mas sim a falta de mulheres jovens, estudantes, que simpatizem com a posição liberal (como se fala no Brasil) ou de direita (quase um xingamento).

Os cursos em que você encontra jovens liberais (economia, administração de empresas, engenharia e afins) têm muito poucas mulheres e as que têm não têm muito interesse em papo cabeça e política. O celeiro de meninas que curtem papo cabeça e política são cursos como psicologia, letras, ciências sociais, pedagogia e afins, todos de esquerda.

E aí se recoloca o problema: quando liberais se reúnem há uma forte escassez de mulheres, o que é sempre um drama. E quando junta muito homem falando papo cabeça sem mulher por perto, todos ficam com cara de Sheldon. Sem mulheres, tudo fica chato em algum momento. Como resolver um problema sério como esse?

Vou repetir, porque eu sei que questões altamente filosóficas são difíceis de se entender: o maior desafio para um jovem estudante liberal no Brasil é pegar mulher (no meio universitário e afins), sendo liberal. Claro, charme pessoal, simpatia, inteligência, grana, repertório cultural, sempre são fatores importantes, mas a esquerda tem um ponto a favor dela que é indiscutível: se você é de esquerda, pegar mulher é a coisa mais fácil do mundo. Qual o segredo da esquerda? É ser festiva.

Outro dia, conversando com um amigo e colega que é bastante conhecido (por isso vou preservar sua privacidade), chegamos à conclusão de que a direita (liberal, claro, não estou falando de gente que gosta de tortura, tá?) precisa desesperadamente encontrar sua face festiva.

A esquerda festiva (que é quase toda ela) reproduziu porque teve muitas mulheres à mão. Imagine papos como: “Meu amor, se liberte da opressão sobre o corpo da mulher!”. Agora, imagine que você esteja num diretório de ciências sociais no final da noite ou num apê sem pai nem mãe (dela) por perto. Um pouco de vinho barato, quem sabe, um baseado? Um som legal, uma foto grande do Che (aquele assassino chique) na parede.

Ou imagine você dizendo para uma menina bonitinha algo assim: “O capital mata crianças de fome na África!”. Mesmo sendo ela uma jovem endurecida pela batalha contra a opressão da mulher (por isso tenta desesperadamente ser feia), seu coração jorrará ternura.Imagine a energia de uma manifestação! Braços dados ou não, mas caminhando e cantando. Imagine a fuga, correndo juntos da polícia. Os corações batendo juntos!

E claro, imagine vocês no bar da faculdade (matando a aula, porque quem assiste aula não pega mulher): muita cerveja, muitas juras de revolta contra as injustiças sociais, muitas citações de Marx e Foucault.

Ou, mais sofisticado ainda: um festival de documentários em Cuba! Meu Deus, pode haver paraíso melhor para se conhecer meninas “donas do seu corpo”?

Desde as primeiras populações na pré-história sabe-se que sem álcool e conversa (por isso aprendemos a falar, do contrário só as meninas falariam) a humanidade teria desaparecido porque mais da metade das meninas não iam querer transar –principalmente quando descobriram a dor do parto.

O canal para uma direita festiva é: fale de liberdade, do sofrimento humano, de corpo, discuta documentários, diga que a vida não tem sentido, mas que a beleza existe, não se vista como o Sheldon, viaje para a Islândia, e (pelo amor de Deus!) não fale de economia. As meninas destetam economia, essa “ciência triste”, porque atrapalha a alegria da vida.

Ou rezem para o Brasil virar a Venezuela e aí os meninos liberais vão pegar todas.

Eu sei: vão dizer que estou afirmando que discutimos papo cabeça para pegar mulher, mas, lamento, é isso mesmo que estou dizendo, pelo menos em parte. Acordei hoje numa “vibe” darwinista. Sorry.

Um comentário

  1. Os machos ‘homens intelectuais da direita’, não pegam mulheres porque elas se interessam por assuntos ‘ilusórios da esquerda drogadita’? que lógica mais festiva liberal. Valeu Vinicius!

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