Ainda É Só O Começo
No meio de completa desilusão com política, os jovens de todas as partes do Brasil saem nas ruas e buscam algo mais que 20 centavos num junho que mal passou e já está na historia do país.
No rio, os protestos contra o abuso das tarifas de ônibus vinham reunindo por volta de 300 manifestantes há mais de um ano. Mas parece que São Paulo e principalmente o Movimento Passe Livre tiveram um papel determinante no futuro do movimento. A aliança entre Rio e São Paulo deu aos cariocas a possibilidade de sonhar mais e exigir uma vida sem catracas.
Nos maiores atos, que reuniram mais de um milhão de pessoas nas principais avenidas do centro da cidade o que se viu foi uma infinidade de pautas, indignação de sobra e uma falta de organização recorrente a um povo que, até então, não tinha o hábito de protestar. Esse último fator geraria diversos rachas e discussões entre partidários e apartidários dentro do próprio movimento.
Com o fim do oba-oba da “juventude apartidária Guy Fawkes”, rumos mais plausíveis de uma verdadeira mudança social vieram à tona. Junto ao descobrimento de práticas questionáveis do governador Sergio Cabral (como a utilização de helicópteros para visitas a sua mansão entre muitas outras) e pautas que mobilizara anteriormente milhares pra protestar, a organização dos protestos girava agora em torno de um ponto comum: o impeachment do governador do rio.
A partir daqui podemos virar uma nova pagina da história desses protestos. Através de uma maior organização desses grupos, existiu uma possibilidade de debater e decidir os meios que o movimento utilizaria para ser vitorioso.
Ele continuou com o caráter de buscar dialogar de maneira pacífica, mesmo que o velho Estado se mostre totalmente incapaz disso. Neste contexto, reafirmou que os Black Blocs, junto com sua atuação mais radical e sua ideologia anarquista, são representantes do movimento, visto que estão todos lutando pela mesma causa, numa posição oposta a da mídia tradicional que tentou de todas as formas criminalizar essa parte dos manifestantes – os “vandalos”. Este grupo, para o desespero da mídia, veio crescendo a cada novo ato até uma mudança na política de repressão utilizada pelo governador.
Além da criação da CEIV (que provocou muita discussão até mesmo entre grupos favoráveis ao governador), o Estado decidiu por fim a atuação de P2’s no meio dos protestos e colocar policiais fardados rodando a manifestação visando por fim a atuação dos Black Blocs. Isto se deu logo após a polêmica dos coquetéis molotov lançados por esses policiais à paisanas durante a visita do papa.
A PM conseguiu com que a atuação desse grupo diminuísse, mas a revolta popular e o sentimento de insatisfação continuaram crescendo. Atos quase diários durante a visita do papa foram ocorrendo paralelamente a uma ocupação na rua do governador Sergio Cabral, que ainda ocorre sem data pra sair.
Após essa maior organização, a revolta popular mostrou que veio pra ficar e que seus objetivos serão atendidos, diferente de manifestações ocorridas em outras épocas e que estávamos acostumados. Ainda que esses frutos não sejam imediatos, o PMDB – que desde o anúncio dos grandes eventos manda e desmanda no rio – está totalmente abalado.
Levantou-se uma organização popular e democrática que além de querer tirar o governador do poder e sonhar com uma nova realidade para sua cidade, busca também servir de exemplo para outras cidades fazerem o mesmo, visando nacionalizar o movimento.
Instagram: @poressechaopradormir
Pós-graduado em sociopsicologia pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo e editor do Colunas Tortas.
Atualmente, com interesse em estudo do biopoder nos textos foucaultianos.
Autor dos e-books:
Fascismo: uma introdução ao que queremos evitar;
Análise do Discurso: Conceitos Fundamentais de Michel Pêcheux;
Foucault e a Arqueologia;
Modernidade Líquida e Zygmunt Bauman.