Apesar de pouco explorada atualmente, a poesia também é parte da expressão artística surrealista e Rodrigo Brito, artista cuiabano de 25 anos, sabe explorá-la como ninguém. Solstício ao Luar, lançado pelo selo FutuArte Poesia em 2013, é seu primeiro trabalho editoral solo, mas o autor tem uma estrada longa trilhada.
Cevada Amante
A tempestade colorida anseia
os mimos da sua parede vermelha
na imensa rua estreita da passarela
absoluta de seus cachos fotográficos
dentro daquele pulmão engraçado
de seu licor de abacaxi
O livro tem influência dos ícones surrealistas, “no período que escrevi o livro, eu estava em intenso contato com as músicas do Ciro Pessoa e com as poéticas de André Breton, Salvador Dalí, Buñuel e Magritte. Os cinco artistas me serviram de inspiração e exerceram de alguma forma, influência sobre os meus poemas ou sobre mim”, diz Rodrigo ao Colunas Tortas. Antes de produzi-lo, o psicólogo de formação já havia escrito para os jornais A Tribuna (Rondonópolis), Zero Hora (Porto Alegre), Jornal de Santa Catarina (Blumenau) e nas antologias “Concurso Literário ‘Prof. Sérgio Dalate’: Contos e Poemas (EDUFMT, 2009) e “Concurso Nacional Novos Poetas 2012: Prêmio Sarau Brasil” (Vivara, 2012).
Veja também: O que é pós-modernidade?
Ciro Pessoa tem uma importância ainda maior na construção do poeta surrealista, “o contato visceral com o Surrealismo teve início em 2012, quando eu ouvi ao álbum ‘Em dia com a rebeldia’ pela primeira vez. Fiquei impactado com as músicas do Ciro Pessoa e senti as ressonâncias do Surrealismo em mim”, revela Rodrigo. Após a introdução no mundo surreal com a música, seus horizontes se expandiram dentro das películas de Buñuel, “em especial Un Chien Andalou”.
A paixão pelo surrealismo é, ao mesmo tempo, um manifesto contra a pós-modernidade, “é a vanguarda que mais se aproxima com o que eu explorei no livro, com os elementos oníricos em colapso na explosão da realidade e da racionalidade. Em pleno século XXI, recorrer à vanguarda, é um ato de negação da contemporaneidade, haja vista o conservadorismo em evitar estilos artísticos”.
Revolta Lasciva
Desenho o vazio suspenso
do frio solar marginal
para mastigar a voz laranja
que tens na valsa
os pastéis octogonais da memória
Ai, O futuro foi tão nostálgico!
Lembrava dos bacanais estéticos
tenebrosos que apontam aos cadernos anões
e absinto as pernas das paredes brancas
No início do ano, o poeta apresentou um pouco de sua obra em público, declamando “Revolta Lasciva”, como pode ser visto no vídeo abaixo. “Ainda não possuo o hábito de declamar com frequência. É algo que estou aprendendo e tem sido uma experiência nova e muito interessante”, conta Rodrigo.
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=cMQU0_pTC3Y]
Pulsação Versátil
Sozinho nos jardins aglomerados
imensos de estrelas cantoras
que cantam as desconhecidas
cantigas de um universo acolhedor.
A ouvir o aroma do piscar sônico
um silêncio ensurdecedor lamenta
a despedida binária de luz intensa.
As chuvas galácticas são líricas
e desvendam os passos amorosos
aos versos de uma estrela giratória
que tocou as mãos meigas no rosto
de um beijo de primavera nos afagos
gentis de estrelas de nêutrons em transes
As estrelas são engraçadas!
Ao sorrir, desenhei um vento para
me lembrar as essências doces de cabelos
sedosos que recordam as linhas vermelhas
da eternidade enluarada e permanente
O ronco da Nebulosa do Caranguejo tripé
emite a cor massiva e me faz desejar
viver no rio colorido de seu olhar abrasador.
Oh, Nebulosa! A sinfonia de seu enigma
soletra o capítulo de amor em um
abraço carinhoso de Supernova
A arte, por meio de suas apresentações, se reproduz e vaga pelo ar, não há opção neutra perante uma poesia. “A arte gira, vibra e potencializa o que está presente no abismo interior”, conta o poeta.
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=e5marDrBS6g]
Instagram: @poressechaopradormir
Pós-graduado em sociopsicologia pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo e editor do Colunas Tortas.
Atualmente, com interesse em estudo do biopoder nos textos foucaultianos.
Autor dos e-books:
Fascismo: uma introdução ao que queremos evitar;
Análise do Discurso: Conceitos Fundamentais de Michel Pêcheux;
Foucault e a Arqueologia;
Modernidade Líquida e Zygmunt Bauman.
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