O que “1984”, de George Orwell, pode nos dizer sobre o mundo atual? O Ocidente, a guerra contra o terror e a islamofobia

*Quando este texto foi escrito, o atentado à sede da revista de Charlie Hebdo ainda não havia ocorrido. Devido às inseparáveis questões que permeiam tanto o atentado quanto os temas tratados abaixo, acrescentei uma nota sobre o caso ao final do texto. Presenciamos em 2014, o presidente dos Estados Unidos declarar ao mundo que estava em guerra contra o Estado Islâmico,…

O porquê de votar em Dilma

O governo que aí está, apesar dos tropeços e ao contrário do que prega o senso comum, foi mais competente economicamente, não precisou apelar ao FMI para se salvar e ao aliar a distribuição de renda ao desenvolvimento econômico, ironicamente melhor compreendeu o capitalismo e o cenário internacional do que o governo anterior. E isso se deu justamente por não se desconectar da mencionada realidade material do povo brasileiro. Não governou sozinho como muitos parecem acreditar e se muitas vezes tirou leite de pedra com um legislativo majoritariamente conservador, em outros momentos me decepcionou bastante, não nego. Em 2014 elegemos um congresso ainda mais conservador que os anteriores e pronto pra desmantelar um estado de bem-estar social que ainda está à léguas de distância do ideal mas que, paradoxalmente, nunca evoluiu tanto como nos últimos 12 anos. Muitos falam em alternância democrática, mas essa alternância não pode significar a interrupção de um projeto de nação.

Nós historiadores, precisamos sair de cima do pedestal

Se nós, que somos responsáveis pela preservação da memória histórica mental e material, não entendemos que uma sociedade justa não é um direito, mas um dever, que esperança há para os sonhos utópicos se tornarem realidade? Vejo crianças curiosas e questionando tudo. Quando nos tornamos adultos deixamos de questionar certas coisas. E aí percebo a cruel criação de rebanhos na qual vivemos, necessária pra manter a ordem vigente. Até o mesmo o historiador, cuja natureza devia ser a dúvida e ao lecionar deveria estimular os questionamentos quase sempre se deixa seduzir pelos modelos sistemáticos que explicam tudo e, convenientemente, cabem perfeitamente em uma apostila de colégio.

De tempos modernos a 12 anos de escravidão

O uso da tática do “outro conveniente” como defesa para qualquer crítica ao modelo ocidental me soa como uma espécie de “Você quer que Jones volte, meu amigo?“[6] no sentido oposto. Todo modelo tem um Sr. Jones que serve somente para disseminar o medo e paralisar qualquer intenção de mudança progressista… George Orwell em seu livro não estava meramente descrevendo uma situação real em forma de sátira, “A Revolução dos Bichos” pode ser visto como um tratado de como as relações de poder e seres humanos ocorrem na prática.