Da série “Michel Pêcheux: Conceitos Fundamentais“. O ensaio Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado[1], de Louis Althusser merece ser objeto de nossa preocupação e estudo não só pelo valor que tem como início de uma teoria do Estado marxista, mas também pela importância que tem na obra de Michel Pêcheux, ao inserir o conceito de ideologia levado…
Categoria: Louis Althusser
Louis Althusser (1918-1990)
A principal contribuição que Althusser deu à teoria marxista foi a crítica ao economicismo e ao humanismo que dominavam as leituras de Karl Marx.
Demonstrando a irremediável ruptura entre Hegel e Marx, Althusser oferece uma nova periodização da obra marxiana, distinguindo um período de juventude, ainda ideológico, não-marxista, um período de maturação, no qual Marx formula o corpo conceitual de sua teoria, mas ainda em parte prisioneiro da ideologia burguesa, e o período da maturidade, em que a teoria do materialismo histórico é fundada em bases científicas rigorosas. Assim, por meio do conceito de corte epistemológico, Althusser deixa ver na própria constituição da teoria marxista a emergência da problemática científica do interior do campo da ideologia e em luta com ele.
A afirmação do caráter materialista da teoria de Marx, formada por um conjunto de conceitos científicos, como os de modo de produção, relações de produção, forças produtivas, ideologia, luta de classes, infraestrutura, superestrura, etc, vai se contrapor à interpretação do marxismo como um vago humanismo, ancorado na noção de homem e de seus “predicados”, que remete ao direito burguês e à circulação mercantil, e que sustenta, portanto, os “valores” da própria ideologia burguesa dominante. Igualmente, Althusser rompe com a concepção de que para Marx o “motor” do processo social e histórico seria o desenvolvimento das forças produtivas, de tal sorte que um progresso linear em direção ao comunismo já estaria inscrito na história como destino inelutável.
Rompendo com essa concepção teleológica e economicista, Althusser mostra que Marx, especialmente em O capital, sustenta o primado das relações de produção, abrindo a história para as incertezas da luta de classes. Dessa leitura de Marx, que põe no centro de sua concepção a luta de classes, Althusser recupera a noção de determinação em última instância do econômico, dando assim às instâncias da superestrutura uma eficácia própria que pode permitir a elas jogar o papel dominante na reprodução das relações sociais.
A dialética marxiana, assim, é o contrário direto da dialética hegeliana, na qual a contradição se apresenta como o desdobramento de um princípio interno simples, ao passo que em Marx ela é sempre sobredeterminada, isto é, a contradição nunca se apresenta pura, mas como uma conjunção de determinações eficazes incidindo sobre um determinado objeto. Althusser criticou também a concepção de ideologia como falsa consciência, compreendendo-a como “uma representação da relação imaginária dos indivíduos com as relações de produção e com as relações delas derivadas”, e lhe emprestando uma irredutível materialidade, tal como aparece no conceito de Aparelhos Ideológicos de Estado, que veio permitir que a concepção marxiana de Estado fosse ampliada e aprofundada.
Louis Althusser analisa o processo social como fenômeno objetivo, e não como o resultado da vontade de um sujeito. A sua intervenção teórica ao romper com os limites impostos pelas leituras hegelianas de Marx, põe em evidência a capacidade explicativa e transformadora do marxismo, constituindo, assim, entre as análises marxistas, uma referência importante para a luta dos trabalhadores contra o capital.
Fonte: MIA.
“Nosso objetivo não é a felicidade dos homens”, por Louis Althusser – DROPS #37
ALTHUSSER, Louis. Conversa com Waldeck Rochet. Crítica Marxista, n.47, p.185-191, 2018. Disponível em <<https://www.marxists.org/portugues/althusser/1966/07/02.htm>>. Acesso em 29 mar 2023. Sim, ele diz, eu não estou de acordo com você, não podemos dizer que o marxismo é um anti-humanismo. Anti-humanismo teórico, eu sustento, justamente se eu posso lhe fazer uma crítica, é que você pulou a…
A interpelação em Louis Althusser – DROPS #16
ALTHUSSER, L. Ideologia e aparelhos ideológicos de Estado. 3 ed. Lisboa: Editorial Presença/Martins Fontes, 1980, p. 97-101. Mas o reconhecimento de que somos sujeitos e que funcionamos nos rituais práticos da vida quotidiana. mais elementar (aperto de mão, o facto de você ter um nome, o facto de saber, mesmo se o ignoro, que você «tem»…
O aparelho ideológico religioso – Louis Althusser
É possível compreender que o aparelho ideológico religioso não se resume à instituição religiosa, mas compreende uma realidade de relações que reproduzem as relações de produção da formação social vigente a partir da(s) ideologia(s) religiosa(s) existentes. Como qualquer aparelho e principalmente os aparelhos ideológicos, há luta e há possibilidade de transformação sendo que, talvez, a teologia da libertação possa ser localizada num polo de contracorrente nas lutas presentes no aparelho religioso.
O exemplo da disciplina na produção – Foucault
O sistema capitalista aproveita fundamentalmente das disciplinas nascentes no período da Revolução Industrial para conformar e tornar cada trabalhador produtivo. As disciplinas, por sua vez, expressam-se no ambiente de trabalho a partir do complexo de vigilância e punição das infrações dos trabalhadores. A partir de processos concomitantes e articulados, o trabalhador do sistema de produção capitalista é assujeitado a sanções e normas que garantem a reprodução das relações de produção.
Althusser: sobre a Ideologia
De acordo com Althusser, a ideologia não reflete o mundo real mas representa a relação imaginária entre os indivíduos para o mundo real; Nisso, Althusser segue o termo Lacaniano de Ordem Imaginária, que se encontra a um passo do Real Lacaniano. Em outras palavras, nós estamos dentro da ideologia por dependermos da linguagem para estabelecer nossa realidade; diferentes ideologias são diferentes representações da nossa realidade social e imaginária, não uma representação do Real em si.