A pesquisa participante – Streck e Adams

A emancipação se liga à carne, se expressa na palavra, transforma a subjetividade dos participantes e não só sua cognição. Tomando como exemplo o trabalho de Paulo Freire: não só ensina a ler e escrever, mas constrói, em conjunto com os participantes, a própria histórica local e a memória coletiva por meio da prática da leitura e da escrita, por meio da aproximação que a leitura e a escrita podem ter com a vida política, econômica e cultural. 

Índice

Introdução

A produção de conhecimento é ligada diretamente à própria vida local dos produtores de conhecimento. Este princípio materialista de entendimento do próprio conhecimento como aquilo que é produzido e não simplesmente descoberta revela uma preocupação que se situa, utilizando o vocabulário de Michel Foucault, no nível do saber do poder.

Uma preocupação com a universalização do conhecimento local que, na prática, funciona enquanto dominação. Uma dominação no nível do saber, da própria legitimidade da produção do conhecimento vinda majoritariamente dos países do norte global; uma dominação no nível do poder, em que a estrutura universitária produz intelectuais experts na reprodução do conhecimento fabricado pelo norte. Esta mesma estrutura tende a dificultar a validação dos conhecimentos produzidos localmente.

O objetivo deste artigo é expor uma visão inicial sobre a pesquisa participante enquanto ferramenta de emancipação e criação coletiva de conhecimento com base no livro Pesquia participativa, emancipação e (des)colonialidade de Danilo Streck e Talmo Adams.

O dilema do intelectual negro – Sueli Carneiro

A existência de um dispositivo racial no Brasil formado desde o período colonial produz subjetividades submetidas à relação hierárquica entre classes e produz processos identitários que naturalizam, inconscientemente, a inferioridade de uma raça frente a outra. A participação negra na acadêmia num contexto racista tende a ser um forma de resistência do próprio intelectual quando adequado à norma, mas não surge como solução para os fatores sociais, econômicos, políticos e até mesmo ontológicos que promovem a exclusão negra do trabalho intelectual.

O encobertamento da discriminação social como tática – Sueli Carneiro

Entende-se que o silêncio é uma tática de reprodução das relações de poder e das relações discursivas que garantem a manutenção do dispositivo racial que hierarquiza negros e brancos no Brasil. Entende-se, portanto, que a prática do silêncio cúmplice e do silêncio transitivo é uma maneira de construir subjetividades que normalizam e internalizam as dinâmicas hierárquicas entre raças no Brasil.

Negros não podem ascender socialmente – Sueli Carneiro

Os desenvolvimentos presentes na própria transformação interna do sistema educacional brasileiro e na esfera política nacional não interferem no dispositivo de racialidade na medida em que não visam diretamente alterá-la. O resultado é a mudança nas técnicas de exclusão de pessoas negras do sistema educacional e da educação de qualidade mesmo após os avanços nos últimos séculos.

A educação negada ao negro no período pós-abolição – Sueli Carneiro

Quando as classes altas e médias puderam pagar por escolas privadas que paulatinamente cresciam em número, as escolas de baixa estrutura tendiam a ser destinadas para os alunos pobres e negros. O epistemicídio, assim, acontece na própria exclusão do negro do processo educacional de integração social que tem como consequência um habitus distinto e uma péssima disciplinarização pelos mecanismos que funcionam na esfera do trabalho.

Os jesuítas e o epistemicídio negro no Brasil – Sueli Carneiro

A Companhia de Jesus aplicou no Brasil um humanismo restrito aos sujeitos legitimados enquanto humanos, detentores de alma. Um humanismo restrito àqueles que não eram negros. Uma bondade cristã limitada às determinações históricas e afundada no racismo próprio das nações colonizadoras.

A dificuldade em dizer “não”, por Lívia Barbosa – DROPS #72

BARBOSA, Lívia. O jeitinho brasileiro: a arte de ser mais igual que os outros. Rio de Janeiro: Campus, 2006, pp. 54-56. Dizer não no Brasil é aventura no terreno do desconhecido. A esse respeito, a revista Veja (07/11/1984), na seção “Ponto de Vista”, publicou ensaio intitulado “É preciso dizer não”, de Fernando de Oliveira. Nele,…

O epistemicídio negro – Sueli Carneiro

A teoria da dominação e um analítica do poder são elementos que permitem compreender que o racismo está para além da ignorância ou do esclarecimento. É parte da própria estrutura social. O epistemicídio não promove uma concorrência ou uma convivência entre culturas, mas a hegemonia de uma cultura particular que, sozinha enquanto produtora dos critérios de legitimação, se autoproclama superior.

Mulher negra como signo da negligência – Sueli Carneiro

A própria ausência de pesquisas em nível nacional que evidenciem o recorte racial é uma das maneiras de perceber, enquanto manifestação concreta, o racismo estrutural que o biopoder é apoiado e apoia na fabricação do corpo destinado à morte. As mulheres são alvo do descaso das práticas médicas e da invisibilização da falta de pesquisas que tragam dados em nível nacional deste tipo de negligência.

O homem negro como signo da morte – Sueli Carneiro

É possível estabelecer uma relação entre a escravização, o momento pós-abolição de exclusão social de ex-escravizados que nem sequer entraram no fluxo de disciplinarização para entrada no mercado de trabalho e o presente de morte estatisticamente superior de pessoas negras comparadas com pessoas brancas.