As palavras e as coisas, por Michel Foucault

As palavras e as coisas é um livro de Michel Foucault publicado originalmente em 1966 pela editora Gallimard.

Faz parte da dita fase arqueológica do autor, em que desenvolve análises no nível do discurso para diferentes objetos. Neste livro, o homem e as ciências humanas são investigadas.

Além disso, movimentos e ferramentas que serão mais tarde explicados em A Arqueologia do Saber são utilizados em uma pesquisa histórica que passa do período anterior ao classicismo, o atravessa e desagua nas ciências humanas modernas.


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Segundo Luama Socio[1]:

Edição original de As palavras e as coisas.
Edição original de As palavras e as coisas de 1966.

O primeiro capítulo de As palavras e as coisas nos afigura como o degrau inicial da espiral discursiva-que se delineará ao longo de mais nove capítulos -, descrevendo uma possibilidade da problematização do sujeito como significado na palavra que, aqui, aparece oportunamente sobreposta à problemática da representação, ponto inicial da questão da relação da linguagem com as coisas, simbolizada pelo quadro de Velásquez.

O texto prosseguirá nessa espiral em seus desdobramentos, começando por tocar aquele hipotético estado inicial da história do pensamento, localizado na anterioridade do século clássico, no ponto de indistinção entre palavras e coisas no sentido em que, tanto umas como outras, são entendidas como concretudes, e não como abstrações, já que o pensamento analógico, próprio da época anterior ao classicismo, concebe o “mesmo” se desdobrando em formas sempre semelhantes a si próprio. O senso de concretude estaria associado a esse senso de semelhança caracterizado por uma visão de mundo que pressupõe coisas como marcas de coisas. “A marca e aquilo que ela designa são, exatamente, da mesma natureza”. Na opinião de Foucault, o predomínio dessa metodologia da similitude incorre numa repetição empobrecedora do conhecimento, no sentido de ser aditiva, e não criativa. Aqui vemos o contraste dessa visão de mundo, que incorre na consequência da finitude, com a visão de mundo que permite a leitura feita do quadro de Velásquez no primeiro capítulo, que incorre, ao contrário, na consequência da infinitude. Se no século XVI, conhecer era interpretar, no século de Foucault, conhecer será, talvez, criar.

Para Lucas Roahny[2]:

Ao final de PC [As palavras e as coisas], Foucault passa da denúncia filosófica do antropologismo para uma descrição crítica do conhecimento produzido no interior de saberes que, a despeito de se enraizarem no solo epistêmico moderno, conseguem subvertê-lo e desterritorializá-lo – são capazes, enfim, de pensar “no vazio do homem desaparecido”. Dentre esses saberes aos quais já me referi, Foucault concede especial importância a dois: a psicanálise e a etnologia. O primeiro porque trabalha com três figuras do pensamento – a Morte, o Desejo e a Lei – que não só deslocam a questão do ser do homem, mas também “designam as condições de possibilidade de todo saber” sobre ele; elas são, com efeito, “as próprias formas da finitude” – o que indica o quão longe a psicanálise está do empreendimento que caracteriza o conjunto das ciências humanas, qual seja: a transposição dos conhecimentos positivos para o terreno da reflexão sobre o ser do homem (aquilo que Foucault designa como uma “analítica da finitude”). 

Para Cesar Candiotto[3]:

Um dos diagnósticos mais significativos em As palavras e as coisas consiste em ter mostrado que o homem é uma invenção moderna, recorrentemente ambígua, posto ser ele ao mesmo tempo analisado como objeto empírico por parte das ciências e elevado à condição de sujeito transcendental pelas filosofias. Resulta de tal ambiguidade a impossibilidade de postular sua unidade. Ao contrário, essa invenção recente na ordem saber, é inseparável de sua múltipla e iminente dispersão em razão de sua frágil constituição. Fragilidade que é extensiva às ciências que buscam objetivá-lo: as chamadas ciências humanas, que se movem num terreno movediço, quase inapreensível.

Sustentamos que esse diagnóstico de Foucault, na verdade, é o efeito da estratégia de análise por ele empregada no livro de 1966, cujas características principais estão assentadas na proposição de simultaneidades arqueológicas entre os saberes, detalhadas no próximo item. A opção por essa estratégia implicou tomar distância de uma concepção filosófica de homem, intemporal e universal, em vistas de problematizá-lo a partir do exterior do discurso filosófico, ao identificar sua emergência na história daqueles domínios que o enfocam como ser vivente, trabalhador e falante.

Em As palavras e as coisas Foucault empreende esse projeto: descrever, por um lado, descontinuidades históricas entre o final do Renascimento(século XVI) e a Idade Clássica (séculos XVII e XVIII), e entre esta e a Modernidade (séculos XIX e XX); e por outro, identificar simultaneidades arqueológicas entre saberes empíricos diferentes entre si, entre estes saberes e os discursos filosóficos, entre diferentes correntes de opinião em torno de um mesmo saber.

Resenhas:

Resumo

Livro:As palavras e as coisas;
Publicação:1966;
Autor:Michel Foucault;
Precedido por:O Nascimento da clínica (1963);
Seguido por:A arqueologia do saber (1969);

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Discurso em Michel Foucault

Referências

[1] SOCIO, Luama. As palavras e as coisas: uma história do pensamento que nos ajuda a entender a emergência da questão do sujeito na filosofia moderna. Periódico Sapere aude – Belo Horizonte, v. 7 –n. 12, p. 58-69, Jan./Jun. 2016.

[2] ROAHNY, Lucas. RESENHA: As Palavras e as Coisas: uma Arqueologia das
Ciências Humanas. PET/Ciências Sociais (UFPR).

[3] CANDIOTTO, Cesar. Notas sobre a arqueologia de Foucault em As palavras e as coisas. Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 21, n. 28, p. 13-28, jan./jun. 2009.

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