Pierre Clastres (1934-1977) trabalha em A Sociedade Contra o Estado sobre a categorização do poder[1]. Essa coletânea de textos lançada em 1974 que tem como base sua experiência em analisar as populações indígenas da América do Sul. As pesquisas de campo com os Guayaki, Guarani, Chulupi, Yanomami e os Guaranis mbyá durante os anos de 1962 a 1974, o fazem transpassar as noções de poderio embasado em uma dinâmica de Estado.
Refutando o pensamento evolucionista europeu do século XIX-XX, Clastres desmembra o conceito do Estado como o ponto definitivo de evolução e avanço, o qual em sua visão não é necessário para uma formação social consistente de um povo. Ele procura demonstrar que o poder não precisa estar concentrado em uma figura central, mas pode ser encontrado na ajuda mutua ou em relações políticas não coercivas.
Na “pragmática” Guayaki, Clastres encontra a linha de fuga para o paralisante dualismo “indivíduo” e”sociedade”. O desafio parece ser precisamente este: como construir modelos de intencionalidade sem sujeitos? Como não personificar a sociedade, fazendo dela um mega-sujeito? Como sair do individualismo metodológico sem cair em certo holismo transcendental ou vice-versa? Há como pensar relação social sem sociedade? Ou alternativamente, em termos que se aproximam mais da discussão que travaremos a seguir: como a “objetividade” da socialidade opera por meio da “subjetividade” das pessoas-em-interação?[2]
Como se desprender de um poder coercivo e centralizado? A política pode se desligar da figura central do Estado e ser comandada pela própria sociedade? Pierre Clastres analisa esses questionamentos ao longo de A Sociedade Contra o Estado, buscando em exemplo de povos que refutam a ideia de um estado e da noção de centralizar o poder. Povos que zombam da figura política, tem consciência de que no Estado se baseia em violência e abuso de poder, de que a luta pela continuidade de uma sociedade primitiva é constante nos povo indígenas pós colonização das Américas.
Clastres apesar de ter falecido prematuramente aos 43 anos, impactou a Antropologia contemporânea profundamente. Sua postura anti-autoritária coloca uma filosofia anárquica ao estudo da Estado e de como é possível construir uma sociedade fora de sua dependência e longe de suas características coercivas.[3]
Resenha detalhada
Abaixo, nossas resenhas detalhadas capítulo a capítulo de A Sociedade Contra o Estado:
Capítulo I – Copérnico e os Selvagens
Capítulo II – Poder e troca: A filosofia do chefe indígena
Capítulo III – Independência e Exogamia
Referencias
[1]CLASTRES, PIERRE. Society Against the State. Urizen Books, Nova Iorque. 1977
[2]BARBOSA, Gustavo Batista, A Sociedade Contra o Estado: A Antropologia de Pierre Clastres. Revista de Antropologia. vol.47 no.2 São Paulo. 2004.
[3]PASSETTI, Dorothea Voegeli . Pierre Clastres e a Antropologia libertária. Revista Ecopolítica, n. 10, set-dez, pp. 107-20. São Paulo. 2014.