Max Ernst: Biografia e obras
Max Ernst foi um artista plástico surrealista nascido em 1891, na Alemanha. Seu aprendizado na arte se deu em intermináveis tentativas de copiar as paisagens de Van Gogh e sua inspiração também deveu muito a sua experiência na Primeira Guerra Mundial. Ernst era canhoneiro e após servir ao exército, teve uma rápida fase cubista, que só durou até o momento em que ele foi um pioneiro das artes na cidade de Colônia, fundando o grupo dadaísta sob a proposta de destruir todos os padrões estéticos da época.
Segundo o artista, “Nós jovens voltávamos da guerra perdidos e nossa aversão por ela precisava encontrar um escape. Quase naturalmente, a aversão tomou a forma de um ataque às bases da civilização que criou essa guerra – ataque através da linguagem, sintaxe, lógica, literatura, pintura e muito mais”. Entretanto, os grupos Dadá de Colônia e Berlim entraram em um conflito irrecuperável: enquanto Berlim se preocupava mais com as implicações políticas da arte, Ernst tinha em planos um dadaísmo que expandisse as formas de expressão artísticas.
A colagem foi descoberta nestes anos, “num dia chuvoso de 1919, me encontrando numa vila no Reno, fui surpreendido uma obsessão que prendia meu olhar às páginas de um catálogo ilustrado de objetos para demonstrações antropológicas, microscópicas, mineralógicas e paleontológicas”, e continua, “Essas visões se chamavam novos planos, por causa de um encontro com um novo desconhecido (o plano da não-concordância). Na época, era suficiente embelezar as páginas do catálogo, acrescentando pinturas ou desenhos, e, com isso, reproduzir apenas o que via em mim mesmo, uma cor, uma marca de lápis, uma paisagem exterior ao objeto representado, o deserto, a tempestade, um corte transversal geológico, um chão, uma única linha reta significando o horizonte… assim obtive uma imagem fixa fiel às minhas alucinações e transformei em dramas reveladores os meus mais secretos desejos – tudo isso a partir do que antes eram apenas umas banais páginas de anúncios”.
Em seus experimentos com colagem, Max Ernst recortava figuras de catálogos da virada do século e os rearranjava sob uma ordem fora da lógica, refazendo a realidade presente na relação entre as figuras. Foi com estes trabalhos que Breton tomou conhecimento de Ernst e começou a dar atenção para suas obras.
Max Ernst: biografia de um surrealista
Em 1922 fez uma viagem para a França e conheceu André Breton, líder do movimento surrealista. Os dois se tornaram grandes amigos e Max Ernst passou a fazer parte do grupo surrealista francês. O autor tentava expressar sua impressão do mundo e suas preocupações em suas obras, sendo a ascensão do nazismo e do estalinismo seus dois maiores medos para a Europa. Ele estava certo, anos depois da ascensão nazista a Segunda Guerra Mundial começou e o artista se exilou nos Estados Unidos, após ser caçado pela Gestapo.
Uma das suas preocupações era a criação de novos métodos e instrumentos para realizar suas pinturas. Foi ele que redescobriu a técnica do frottage, que consiste em aplicar um papel de arroz sobre as pinturas e quando uma peça de grafite era esfregada sobre ele, se formava um negativo da pintura original. Segundo Max Ernst, sobre seu uso da técnica, “começou com uma memória da infância, no curso da qual um painel de mogno falso, situado na frente da minha cama, tinha gerado todo tipo de estímulos óticos em estados de vigília, e, me encontrando em um anoitecer chuvoso no litoral, fui tomado pela obsessão que fixou meu olhar no assoalho, que possuía milhares de ranhuras profundas”.
E continua, “decidi então investigar o simbolismo desta obsessão e, no sentido de auxiliar minhas faculdades meditativas e alucinógenas, fiz várias séries de desenhos das tábuas colocando sobre elas pedaços de papel ao acaso, que rabisquei suavemente com grafite preto. Olhando atentamente para os desenhos, eu obtive ‘passagens muitos escuras e outras de uma penumbra delicadamente iluminada’, fiquei surpreso com a repentina intensificação das minhas capacidades visuais e com a sucessão alucinante de imagens contraditórias sobrepostas, uma sobre a outra, com uma persistência e a rapidez característica das memórias amorosas”
Ernst também aprendeu a técnica de grottage, em que várias camadas de tinta são aplicadas e, após a secagem, elas são raspadas para revelar as camadas mais claras anteriores. Ele aplicava incontáveis camadas de cores escuras e depois as raspava para encontrar o brilho branco da tela, desenvolvendo as cores menos esperadas em seus quadros.
A pintura automática também era um de seus tópicos de interesse: Max Ernst contrariava alguns membros do movimento surrealista que negavam a possibilidade de existir uma pintura surrealista por não haver como produzi-la sob o pressuposto do automatismo, técnica para libertar aquilo que está no inconsciente sem ser transformado drasticamente pela racionalidade do superego repressor.
O autor chegou a escrever que “graças ao estudo entusiástico do mecanismo da inspiração, os surrealistas tiveram êxito na descoberta de certos processos poéticos essenciais, por meio dos quais a elaboração do trabalho plástico pode ser liberta da influência das tão chamadas faculdades conscientes. Chegando ao encantamento tanto do gosto como da razão e da vontade, esse processo resulta na aplicação rigorosa da definição surrealista para o desenho, a pintura, e, até certo ponto, para a fotografia”.
“Trabalhando mais e mais para conter minha ativa interferência no desenvolvimento do quadro, e, dessa forma, ampliando a interferência das faculdades alucinantes da mente, eu passo a existir como espectador no nascimento de todas as minhas obras”. Isso abre uma perspectiva do autor enquanto mero espectador do inconsciente.
Max Ernst: biografia de uma artista independente
Ernst também valorizava sua independência artística, ou seja, a possibilidade de trilhar por caminhos diversos dentro de várias escolas artísticas sem se alienar em nenhuma delas. Ele não aguentava a pressão em fazer de sua arte um produto meramente político (exatamente por isso saiu do grupo dadá que fundara, como já dito), mas também não conseguia aceitar a prisão em um determinado número de regras estéticas. Este viria a ser uma de suas características pessoais: Max Ernst não aceitava a padronização da arte e dizia que qualquer ser humano normal carregava dentro de si a capacidade de se tornar um artista.
Ele não era relativista, mas tinham plena certeza de que o mito de gênio artístico não era verdade. A possibilidade de um artista espectador derrubava a hegemonia do artista enquanto sujeito possuidor de um dom divino.
Morreu em 1976 na cidade de Paris, quando já era cidadão francês. Veja abaixo um pouco de suas obras.
Instagram: @viniciussiqueiract
Vinicius Siqueira de Lima é mestre e doutorando pelo PPG em Educação e Saúde na Infância e na Adolescência da UNIFESP. Pós-graduado em sociopsicologia pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo e editor do Colunas Tortas.
Atualmente, com interesse em estudos sobre a necropolítica e Achille Mbembe.
Autor dos e-books:
Fascismo: uma introdução ao que queremos evitar;
Análise do Discurso: Conceitos Fundamentais de Michel Pêcheux;
Foucault e a Arqueologia;
Modernidade Líquida e Zygmunt Bauman.
Obrigada pelas informações!!