Se é possível nomear os grandes referenciais do movimento surrealista, um deles é Rene Magritte. Suas obras são de uma lucidez e, ao mesmo tempo, de uma psicose sem tamanho e seus traços se distinguem dos surrealistas pela perfeição como seus objetos são retratados. Mas sua história não se limita a algumas pinturas famosas. As informações são do MoMA.
Magritte nasceu em 1898, na cidade de Lessines, na Bélgica e era filho de um grande industrial. Sua mãe, em 1912, cometeu suicídio se jogando no rio Sambre e Magritte olhava atento no momento em que seu corpo foi retirado das águas. Pouco tempo depois, o artista decide entrar na Académie Royale des Beaux-Arts, em Bruxelas. Suas primeiras pinturas tinham clara influência cubista e futurista, lembrando o famoso pintor catalão, Pablo Picasso. A obra “Three Nudes” (à esquerda), de 1919, pode ser tomada como exemplo desta fase.
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No início de sua carreira, além de arranjar diversos pequenos trabalhos para conseguir pagar as contas em sua casa, Magritte usou seu tempo livre para se dedicar totalmente à criação artística. Após se impressionar com uma obra de Giorgio de Chirico, que abriu sua mente para fora da realidade, suas experimentações o guiaram para o surrealismo, estilo que o deixava à vontade. A transição pode ser vista em Blue Cinema, de 1925, com traços mais leves e formas mais suaves. Este seu estilo de transição fez parte também de seu trabalho em peças publicitárias: Magritte trabalhou desenhando entre posteres e capas de discos durante boa parte da década de 20 e 30.
Rene Magritte: obras de um surrealista de fato
Em sua entrada de fato para o mundo surrealista, Magritte foi fundador do primeiro grupo surrealista da Bélgica, que tinha práticas diferentes e independentes do grupo da França, muito mais conhecido. Enquanto na França havia uma tentativa transcendental de alcançar a arte surrealista pela libertação do inconsciente, os belgas tentavam realizar o procedimento surrealista de forma consciente, alterando a própria forma como os objetos eram representados e os retirando de seu contexto (ou colocando outros objetos que não estariam naquele contexto).
Em 1926, Magritte pôde dedicar seu tempo exclusivamente para a pintura, após assinar um contrato com Paul-Gustave Van Hecke, administrador de uma galeria em Bruxelas. Foi lá que ele realizou sua primeira exposição solo, o colocando no cenário das artes como um verdadeiro surrealista, principalmente pela pintura “Lost Jockey”, em que um jockey tenta fugir de um lugar desconhecido, em que fora e dentro se confundem. As formas lineares de seu trabalho apontam para a infinitude monótona do cenário.
A partir da metade da década de 20, Magritte começou a reproduzir formas corporais padronizadas, que viriam a se repetir em seus quadros durante toda a sua vida. O homem de chapéu teve sua primeira aparição no quadro “Threatened Assassin“, de 1927, em que aparece fazendo parte de um cenário de romance policial, com suspeitos e um típico local de crime.
Rene Magritte: obras durante a Grande Depressão
A década de 30 trouxe a grande depressão e obrigou Magritte a abrir um negócio em Bruxelas com um amigo pintor. Eles produziam a arte que seria posteriormente colocada em banners, anúncios, capas de livros e qualquer outra forma de publicidade. A galeria que exibia as obras de Magritte acabou sendo comprada e suas obras foram transferidas para o Reino Unido, onde ganhou enorme reconhecimento.
No período pós-guerra, ao contrário do comum, Magritte tentava mostrar o “lado bom da vida”. Suas pinturas tinham uma referência clara ao impressionismo, com cores claras sendo usadas de uma maneira para tirar sarro do movimento citado, entretanto, as formas ainda pertenciam ao surrealismo, que não abandonou durante toda sua vida. Na pintura “L’Eclair”, de 1944, com um ramo de flores cinzas jogadas, feito em pinceladas delicadas, ou no quadro “Age of Pleasure”, de 1946, com uma caricatura ao estilo Renoir, foram amplamente criticados por círculos surrealistas.
Logo em seguida, ele fez uma série de pinturas em óleo no inverno de 1947-48, exclusivamente para uma exibição em Paris, na Galerie du Faubourg. Nestas obras, o pintor se utilizou de todas as técnicas aprendidas no estilo popular chamado fauvismo, em parte como uma maneira de atacar aquilo que ele considerava ser a superficialidade do público francês. O exemplo comum é a pintura “Le Galet”, de 1948, em que uma mulher nua é coloca em frente a um fundo padronizado com traços largos.
Apesar de ter conseguido reconhecimento mesmo antes da Segunda Guerra Mundial, com suas exibições junto ao grupo surrealista e suas exposições solos, ele só conseguiu ficar famoso internacionalmente após assinar um contrato com Alexandre Lolas, que se tornou seu agente até sua morte. Magritte produziu diversos retratos encomendados e de 1951 até 1961, ele realizou uma pintura em um teto e três murais, em que ele adaptou diversos símbolos já utilizados anteriormente.
Fez muito sucesso até sua morte, em 67, e chegou a trabalhar em alguns filmes surrealistas com tom cômico, utilizando seus amigos como atores e diretores. Também fez algumas esculturas baseadas em suas pinturas, mas seu nome foi gravado na história do surrealismo por seu traço único e sua utilização singular de símbolos pertencentes à sua própria obra.
Instagram: @viniciussiqueiract
Vinicius Siqueira de Lima é mestre e doutorando pelo PPG em Educação e Saúde na Infância e na Adolescência da UNIFESP. Pós-graduado em sociopsicologia pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo e editor do Colunas Tortas.
Atualmente, com interesse em estudos sobre a necropolítica e Achille Mbembe.
Autor dos e-books:
Fascismo: uma introdução ao que queremos evitar;
Análise do Discurso: Conceitos Fundamentais de Michel Pêcheux;
Foucault e a Arqueologia;
Modernidade Líquida e Zygmunt Bauman.
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