Em A Queda, Albert Camus nos introduz a um monólogo disfarçado de diálogo em que um ex-advogado, que agora se autodenomina “juiz-penitente”, enuncia, ao falar sobre sua vida, um mundo sem referências, uma descrença em relação a seus contemporâneos e aos homens em geral, à linguagem e ao estilo, à amizade e ao amor, e aos valores pressupostos no emprego e na família.
Em certo momento, seu ofício de advogado, que até então o satisfazia, esgota-se. “Assim corria eu, sempre pleno, jamais saciado, sem saber onde parar, até o dia, ou melhor, até a noite em que a música parou e as luzes se apagaram.” Um acontecimento aparentemente banal à beira do Sena, cuja lembrança o acompanharia para sempre e o levaria a uma autocrítica que atingirá também a toda a humanidade. E será esta insaciedade, por sua vez, que o levará a ceder ao que ele chama de sua própria natureza, a única passível de legitimidade, ainda que a sociedade condene seus prazeres pelo nome de “egoísmo”.
A profissão atual do ex-advogado, explicitada ao longo de sua narrativa, é sintomática e diz respeito a algo que ele julga ser um dever comum a todos os seres humanos – seres estes que anseiam pela liberdade ainda que desconheçam o que significa possuí-la- : a autocondenação.
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Acredito que a palavra segue sendo meu ponto fraco.