Em geral, tanto a Filosofia como a Ciência têm o objeto de suas buscas bem definido: a Verdade. Contudo, o que exatamente é isso que buscamos? Quais são os critérios para que algo seja estabelecido como verdade? Em seu livro “A verdade”, Danilo Marcondes procura descrever as “teorias tradicionais sobre a verdade” e mostrar que, no que concerne ao objetivo destas áreas de conhecimento, também devemos encarar as divergências.
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O autor descreve uma obra renascentista de Boticceli chamada “A calúnia de Apeles”. Neste quadro, a verdade é retratada na forma de uma mulher bela e nua que aponta seu dedo para cima, e a mentira por uma mulher veia e feia, envolta em muitas vestes e apontando para o chão. A partir desse contraste, concluímos que a verdade, portanto, é aquela que atrai quem a contempla, enquanto a mentira é aquela que repele.
É comumente aceito entre os filósofos, desde Platão e Aristóteles, que apreendemos a verdade quando o discurso (logos) que usamos para descrever a realidade é correspondente à realidade em si mesma. No entanto, e principalmente ao longo do tempo, a concepção de verdade deixou de ser una. O autor enfatiza a importância de dissociar verdade de certeza, uma vez que esta última continua sendo uma crença: “um estado subjetivo em que alguém crê que algo seja verdadeiro, podendo não sê-lo.”
Em seguida, trataremos de algumas das concepções de verdade abordadas pelo autor.
Teorias tradicionais sobre a verdade
1. A verdade como correspondência
É a mais clássica visão de verdade, que se caracteriza por uma visão realista do mundo. Esta concepção é a platônico-aristotélica de que a verdade é resultado da adequação entre o pensamento humano (a linguagem que expressa este pensamento) e o mundo exterior. Quando a relação descreve os fatos tais como são, temos um pensamento ou uma sentença verdadeira.
Esta concepção parte de um pressuposto realista de que há uma realidade predeterminada e independente do pensamento, e também de que podemos conhecê-la e descrevê-la tal como ela é. No entanto, o que garante que essas duas naturezas possa efetivamente se relacionar?
2. A verdade como coerência
Segundo esta visão, a verdade se dá sempre no interior de um sistema, sempre dependente de sua coerência com um conjunto de crenças de que ela faz parte. A verdade é uma relação interna e um sistema de crenças, de modo que o discurso, em certo sentido, torna-se um mundo em si mesmo.
Alguns críticos das teorias coerentistas questionam a própria noção de “coerência” como não tendo uma definição clara. Quais são, afinal, seus critérios? Outra objeção é a de que pode haver vários sistemas coerentes de crenças e que, portanto, não haveria uma única forma de determinar a verdade.
3. A verdade como consenso
Enquanto a noção de coerência se aplica ao sistema e ao conjunto de crenças que o constitui, a noção de consenso se aplica ao período histórico e cultural em que se mantêm essas crenças, ou seja, diz respeito ao conjunto de indivíduos que no contexto da sociedade de determinada época as aceita ou adota. É importante, porém, não confundir “consenso” com “acordo explicitamente adotado por todos”.
Nesta perspectiva, qualquer pretensão a falar do real envolve mais elementos compartilhados pela comunidade de falantes do que correspondência simples e direta; são as convenções sociais de uma comunidade que estabelecem um parâmetro para o que pode ser considerado verdadeiro.
4. Concepção pragmática da verdade
A última das visões de verdade que abordaremos é a pragmática. Segundo esta visão, podemos considerar uma hipótese verdadeira de acordo com os resultados alcançados em consequência de sua aplicação prática, de modo que a verdade nunca é estabelecida de forma definitiva, e sim provisória. Ela é sempre revista, pois novas aplicações de hipóteses podem ampliar ou levar à revisão das hipóteses adotadas.
Para concluir, é importante dizer que as teorias acima descritas não são necessariamente excludentes; há concepções de verdade que podem combinar vários aspectos elas.
Acredito que a palavra segue sendo meu ponto fraco.