O interdiscurso aparece como exterior específico de uma FD que, nesta relação de exterior interiorizado e depois expresso discursivamente, se faz como parte integrante do entendimento da formação discursiva. Dominique Maingueneau reafirma o primado do interdiscurso a partir do entendimento de que há o Outro, parte integrante do caráter dialógico de todo enunciado do discurso, que se faz enquanto resposta a algo dito alhures.
Categoria: Dominique Maingueneau
Dominique Maingueneau: biografia
Dominique Maingueneau, nascido em 1950 em Paris, é um linguista francês especialista em análise do discurso. Ele é professor emérito da Universidade de Sorbonne.
Ex-aluno da École Normale Supérieure em Saint-Cloud (1970-1974), professor agrégé em literatura moderna (1973), estudou literatura, filosofia e linguística. Maingueneau obteve um doutoramento em linguística pela Universidade de Paris-X (1974): Ensaio sobre a construção da semântica discursiva; depois, em 1979, um doutorado d’État: Semântica das polêmicas. Do discurso ao interdiscurso. Em 1974, tornou-se assistente de linguística na Universidade de Amiens, depois professor (1988).
Em 2000 foi transferido para a Universidade de Paris-XII, antes de lecionar entre 2012 e 2019 linguística francesa e análise do discurso na Sorbonne. Ele era um membro sênior do Institut universitaire de France (2006-2011).
Principais ideias de Dominique Maingueneau
Maingueneau publicou mais de 30 livros e artigos sobre análise do discurso. Suas obras são marcadas por uma abordagem interdisciplinar, que integra elementos da linguística, da semiótica, da filosofia e da sociologia.
Um dos principais conceitos desenvolvidos por Maingueneau é o de “discurso”. Para ele, o discurso não é simplesmente um conjunto de palavras, mas um evento social que envolve um locutor, um interlocutor, um contexto e um gênero. O discurso é, portanto, uma forma de ação social que tem o objetivo de produzir efeitos de sentido.
Dominique Maingueneau dedica-se a investigar como os textos produzem sentidos dentro de contextos específicos, abordando a linguagem como prática social e não apenas um sistema de signos isolado. Suas teorias se destacam por integrar a análise linguística com aspectos socioculturais, oferecendo uma visão ampla sobre como os discursos operam dentro da sociedade.
A abordagem de Maingueneau é profundamente interdisciplinar, conectando linguística, filosofia e sociologia. Ele argumenta que o discurso deve ser entendido não apenas pela análise interna das palavras e estruturas gramaticais, mas também pela consideração dos contextos socioculturais mais amplos nos quais ele é produzido e interpretado. Essa visão integradora permite uma análise mais rica e complexa dos discursos, evidenciando como a linguagem atua como um instrumento de poder e influência nas interações sociais.
Na teoria de Dominique Maingueneau, cenografia é o conceito que descreve o espaço discursivo criado pelo texto, moldando como ele deve ser interpretado. Esse cenário imaginário influencia a interação entre o texto e o leitor, definindo o contexto e a orientação da interpretação.
O ethos refere-se à imagem do autor ou locutor projetada no discurso, essencial para estabelecer credibilidade e autoridade. O discurso, por sua vez, é visto como uma prática social que vai além das palavras, integrando aspectos socioculturais e contextuais que moldam sua produção e interpretação.
Veja abaixo nossos artigos sobre o trabalho do autor:
O contexto – Dominique Maingueneau
Conclui-se que a elaboração da noção de contexto na análise do discurso de Maingueneau promove um foco na situação, entretanto, a retirando de considerações somente psicológicas: a própria situação atualiza a possibilidade de interpretação dentro do gênero especificado, a partir dos indicadores dêiticos presentes e etc, além de dar sentido ao dito que, por sua vez, quando dito, também atualiza o conjunto de elementos a que chamamos contexto.
A dêixis discursiva – Dominique Maingueneau
Entende-se que a dêixis discursiva é marcada por quatro formas de aparecimento: 1) o locutor, 2) o destinatário discursivo, 3) uma cronologia e 4) uma topografia, que são contrapartida do eu, tu, agora e aqui da dêixis linguística. A identificação da dêixis discursiva é uma maneira de se aproximar da cenografia de uma formação discursiva. Toda dêixis discursiva se refere a uma dêixis fundadora que lhe dá validade.
Os gêneros discursivos – Dominique Maingueneau
Os gêneros do discurso exigem aceitação de suas regras àqueles que participam, entretanto, tal aceitação não acontece num nível instrumental, não precisa ser objeto de um acordo explícito. Este acordo é firmado entre sujeitos que “interpretam” papéis, ou seja, suas práticas verbais não são aleatórias e nem dependentes de todas as determinações possíveis: os papéis são particulares. Por fim, na união entre contrato e papel, o jogo aparece, sendo que, no jogo, as regras estão em prática e aqueles que não a aceitarem, “saem do jogo”.