A existência de um dispositivo racial no Brasil formado desde o período colonial produz subjetividades submetidas à relação hierárquica entre classes e produz processos identitários que naturalizam, inconscientemente, a inferioridade de uma raça frente a outra. A participação negra na acadêmia num contexto racista tende a ser um forma de resistência do próprio intelectual quando adequado à norma, mas não surge como solução para os fatores sociais, econômicos, políticos e até mesmo ontológicos que promovem a exclusão negra do trabalho intelectual.
Categoria: Sueli Carneiro
O encobertamento da discriminação social como tática – Sueli Carneiro
Entende-se que o silêncio é uma tática de reprodução das relações de poder e das relações discursivas que garantem a manutenção do dispositivo racial que hierarquiza negros e brancos no Brasil. Entende-se, portanto, que a prática do silêncio cúmplice e do silêncio transitivo é uma maneira de construir subjetividades que normalizam e internalizam as dinâmicas hierárquicas entre raças no Brasil.
Negros não podem ascender socialmente – Sueli Carneiro
Os desenvolvimentos presentes na própria transformação interna do sistema educacional brasileiro e na esfera política nacional não interferem no dispositivo de racialidade na medida em que não visam diretamente alterá-la. O resultado é a mudança nas técnicas de exclusão de pessoas negras do sistema educacional e da educação de qualidade mesmo após os avanços nos últimos séculos.
A educação negada ao negro no período pós-abolição – Sueli Carneiro
Quando as classes altas e médias puderam pagar por escolas privadas que paulatinamente cresciam em número, as escolas de baixa estrutura tendiam a ser destinadas para os alunos pobres e negros. O epistemicídio, assim, acontece na própria exclusão do negro do processo educacional de integração social que tem como consequência um habitus distinto e uma péssima disciplinarização pelos mecanismos que funcionam na esfera do trabalho.
Os jesuítas e o epistemicídio negro no Brasil – Sueli Carneiro
A Companhia de Jesus aplicou no Brasil um humanismo restrito aos sujeitos legitimados enquanto humanos, detentores de alma. Um humanismo restrito àqueles que não eram negros. Uma bondade cristã limitada às determinações históricas e afundada no racismo próprio das nações colonizadoras.
O epistemicídio negro – Sueli Carneiro
A teoria da dominação e um analítica do poder são elementos que permitem compreender que o racismo está para além da ignorância ou do esclarecimento. É parte da própria estrutura social. O epistemicídio não promove uma concorrência ou uma convivência entre culturas, mas a hegemonia de uma cultura particular que, sozinha enquanto produtora dos critérios de legitimação, se autoproclama superior.
Mulher negra como signo da negligência – Sueli Carneiro
A própria ausência de pesquisas em nível nacional que evidenciem o recorte racial é uma das maneiras de perceber, enquanto manifestação concreta, o racismo estrutural que o biopoder é apoiado e apoia na fabricação do corpo destinado à morte. As mulheres são alvo do descaso das práticas médicas e da invisibilização da falta de pesquisas que tragam dados em nível nacional deste tipo de negligência.
O homem negro como signo da morte – Sueli Carneiro
É possível estabelecer uma relação entre a escravização, o momento pós-abolição de exclusão social de ex-escravizados que nem sequer entraram no fluxo de disciplinarização para entrada no mercado de trabalho e o presente de morte estatisticamente superior de pessoas negras comparadas com pessoas brancas.