A vida ordinária desdobra sentidos por meio das palavras, sons e imagens.
Muita gente trata o banal sem banalidades. Apreender o cotidiano enquanto categoria de existência é um exercício praticado por pessoas que vão ao bar, não somente para consumir, mas, para refletir o que foi dito em sala de aula, trocar informações sobre viagens e projetos de vida, afogar as mágoas de uma traição e claro, comemorar.
O que comemorar? Uma final de campeonato de futebol, casamento, aniversário, ter passado de ano e o mais óbvio e mais importante, festejar a vida. São nessas prosas entre familiares, amigos e desconhecidos que o bar, boteco ou botequim, como são popularmente conhecidos é um espaço social e é nele que as interações presentificam.
“A vida diária habita o cotidiano que, apesar de suas ordenações, permite práticas de desvio e a diversidade de experiências. O cotidiano é, em si, uma maneira de experimentar a vida” – pondera a pesquisadora Beatriz Bretas.
O renomado filósofo francês, Michel de Certau destaca, “A vida comum é também permanentemente inventado para permitir o fluxo da vida, abrindo-se à criatividade”.
No dia a dia, a hora do lazer é essencial para não levantar questões porque levamos as ações factuais como se fosse algo devidamente encaixado. Esse lema carrega um saber irrefletido originário da experiência, principalmente através da experiência compartilhada e que não pensa com saber. Aí está a questão. O saber irrefletido nos transmite uma dimensão objetiva e subjetiva.
Levantar cedo, tomar café, ir à escola, ao trabalho, almoçar, transporte coletivo, voltar para casa, jantar, assistir ao telejornal, ler, dormir, todas são ações diárias. No entanto, não realizamos as mesmas ações exatamente de forma igual.
Ninguém é pontual todo dia ao acordar, nem come o mesmo prato todo santo dia, se as coisas, funcionassem assim, seria penoso demais. Justamente por isso que aqui defendo que os bares são espaços sociais democráticos e pontos ideais para situações face a face ou em grupos.
Não sei se há pesquisas nesse sentido, mas creio veementemente que uma bela conversa de bar de teor produtivo, àquelas conversas que vão além do próximo capítulo da novela das nove ou querer saber o resultado de uma partida de jogo de futebol, prende mais a atenção e dá maiores condições de apreensão do que está sendo tratado numa sala de aula sem “galanteios” aos alunos, por exemplo.
No período implicado pela ditadura no Brasil, os botequins eram na maioria das vezes, pontos de encontros dos universitários, questionadores do poder, intelectuais esquerdistas… Era o maior corre corre quando uma viatura estava por vir. Logo, o bar se encontrava vazio. Muitos desses que conseguiram escapar, hoje, devem ter uma certa nostalgia daquela época.
Gostei. Concordo com edsa vissâo.