Livro da Semana: Crítica da Razão Pura – Immanuel Kant

Em sua obra mais importante, Kant discute o conhecimento e contextos de percepção e análise racional que pautam nosso entendimento do mundo. Clique e leia!

O que importa aqui é um traço pelo qual possamos distinguir de modo seguro um conhecimento puro de um empírico.

Crítica da Razão Pura, edição de 1790.
Crítica da Razão Pura, edição de 1790. Clique na imagem e adquira o livro.

Kant é considerado o maior filósofo da modernidade. As suas estruturas epistemológicas, que buscavam conciliar o raciocínio dedutivo e o conhecimento indutivo, são das maiores contribuições à humanidade na história da filosofia. Seu livro mais conhecido é o Crítica da Razão Pura e é ele que iremos abordar hoje. Na Crítica da Razão Pura, Kant tinha dois objetivos: mostrar os limites do conhecimento humano sobre o mundo – nossa capacidade de apreensão – e também agir como “árbitro” das especulações metafísicas a partir do seu sistema. Qual seria a legitimidade das investigações sobre Deus partindo do sistema Kantiano?

Kant foi um dos pais da chamada “Revolução Copernicana” na filosofia: Um antropocentrismo radical, nele personificado no seu Idealismo Transcendental. Para outros filósofos, o homem estava localizado dentro de um espaço e de um tempo, como comumente se imagina e como parece estar de acordo com o que a ciência nos diz. Já para Kant, os objetos só existem se o sujeito os percebe – Mas não exatamente como em Hume e seu “A árvore que cai na floresta só existe se a ouvirmos cair?”. Dessa forma, o mais importante, mesmo de uma escala cosmológica, é o que a mente humana percebe. Para isso, é preciso compreender como o filósofo define cognição.

Kant divide a cognição entre análise racional e percepção sensorial. A razão nos dá conceitos – verdadeiros ou falsos, passíveis de análise -, porém tautológicos, e a percepção, conteúdo imagístico fenomenológico. Tudo que passa pela percepção dos sentidos existe numa escala de espaço e tempo. Porém, essas condições básicas para a existência de um algo também não devem ser percebidas? Kant afirma que elas devem ser ‘pressupostas’ antes de perceber a realidade, e dessa forma possuem características ‘transcendentais’ por si mesmas. Porém, mesmo nesse conceito espaço e tempo estão presentes dentro da nossa mente, e não têm existência exata fora dela, são apenas ideias a priori e são condição necessária para todas as percepções possíveis, como já dito. Eles são “formas puras da intuição sensível” em que percebemos tudo como sendo localizado no espaço e no tempo. Leibniz sustentou que o espaço é produzido por nossas mentes – quase antecipando o argumento kantiano -, Newton declarou que o espaço era absoluto – complementando Leibniz para formar a argumentação do prussiano, que afirmou um espaço objetivo quando aplicado a objetos, como eles aparecem para nós, mas é subjetivo quando os objetos são considerados como coisas em si, independente de nossas percepções. Se existem bases necessárias à percepção, existiriam também à análise racional? Kant afirma que sim, e essa seria a lógica. Ou seja, mesmo as ciências estariam presas ao pensamento racional e aos axiomas fundamentais da lógica, mesmo as descobertas empíricas feitas com o método científico.

Disso surge o conceito de “juízos sintéticos a priori”, os enunciados científicos, que, por serem “infalíveis” dentro da empiria, são dotados de validez universal. Existem dois tipos de juízos: O analítico, que apenas, como o nome diz, analisa uma particularidade do objeto em questão, e o sintético, que analisa uma característica do objeto, mas que, ao analisá-lo ontologicamente, notamos que não está contida em-si-mesmo. Assim, como a ciência consiste na produção de conhecimentos novos sobre as coisas, conclui-se que seus enunciados são basicamente juízos sintéticos. Porém, suas descobertas, quando tomadas por leis gerais, são analíticas.

Já a forma de analisar a veracidade de um juízo – fundamental para a base da análise racional, a lógica – divide-se em a posteriori e a priori. Um juízo é verdadeiro a priori se é possível afirmá-lo dessa forma mesmo antes de ter-se a percepção sensorial do que está sendo analisado, já os a posteriori’s precisam passar pelo “teste” perceptivo para serem passíveis de falsificação ou confirmação. Juízos analíticos, dessa forma, são a priori, e os sintéticos, a posteriori.

Porém, a ciência nos mostra que nem sempre é assim. Por exemplo a lei da aceleração constante para corpos em queda. É algo que está contido no sujeito por-si-mesmo, mas conhecimento novo, dessa forma juízos sintéticos a priori. Como eles são possíveis?

A resposta a essa pergunta é dada pela inter-relação entre as três faculdades base que geram todo o nosso entendimento do mundo: a razão, o entendimento e a sensibilidade (percepção).  As limitações aos objetos não seriam inerentes a eles, mas sim impostas pelo sujeito, dessa forma tornando possível o juízo sintético a priori. Estas seriam as “determinações transcendentais”. Assim, o caráter transcendental dado ao espaço e do tempo, para possibilitar a sensibilidade, é o que explica que eles sejam determinações universais e necessárias.

O entendimento é quando o ser recebe os fenômenos percebidos pela sensibilidade e submete-os a conceitos. Esses conceitos podem ser empíricos ou puros (categorias), onde as coisas, quando não entendidas a partir de conceitos empíricos, são dispostas em certas formas para tornarem-se inteligíveis ao sujeito. Kant diz que existem ao todo doze categorias, dispostas em quatro grupos: categorias de quantidade: unidade, totalidade, pluralidade; categorias de qualidade: realidade, negação, limitação; categorias da relação: inerência e subsistência, causalidade e dependência, e comunidade ou ação recíproca; finalmente, categorias da modalidade: possibilidade e impossibilidade, existência ou não existência, necessidade e contingência.

A causalidade é considerada a mais importante dessas categorias de relacionamento. São as conexões entre fenômenos, que dão ao mundo uma conexão causal. São elas que dão validez aos fenômenos científicos, por exemplo.

Em resumo, a sensibilidade recebe o que é percebido e impõe a elas forma do espaço-tempo, tornando-as em fenômenos. O entendimento, a partir de relações – categóricas ou não – dá ao mundo assume feição inteligível para nós, permitindo nosso conhecimento.

O que possibilita esse arranjo fino é, portanto, a razão. Kant afirma que o erro da Metafísica tradicional é a busca pela causa primeira, ao sair do particular e buscar um caso geral. É isso que Kant chama de uso regulativo da razão. Contudo, a razão pode passar, a partir desse sistema de busca pelo geral, a possibilidade – ou a certeza, de uma perspectiva racional- de um ser perfeito, que possua por si mesmo o máximo de todas as capacidades passíveis de atribuição pela mente. Ao usar a razão apenas para lidar com o que a experiência nos dá passamos a exercer um uso construtivo dos nossos processos racionais.

O existencialismo e demais correntes filosóficas que perguntam-se sobre Deus, alma, morta ou a cosmologia e suas noções de universo, estariam fadadas a sempre trabalhar com coisas que estão além do que a experiência pode nos fornecer. Dessa forma, seriam perguntas ilegítimas.

É possível notar uma influência Kantiana em muitos outros pensadores, mesmo que estejam em espectros interpretativos diferentes, como Schopenhauer e Wittgenstein – Principalmente o primeiro, de Tractatus Logico-Philosophicus.

Kant é, em suma, um filósofo muito complexo para caber em uma resenha simples. A leitura do livro completa é muito recomendada, e dele podem surgir novas considerações para as suas percepções de mundo, bem como uma análise diferente do trabalho do mesmo.

Crítica da Razão Pura, de Immanuel Kant

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