Em Doença Mental e Psicologia, Michel Foucault dá seus primeiros passos em direção da arqueologia dos saberes. Seu trabalho é elaborar uma crítica à psicologia de sua época (qual ele considerava pseudocientífica) e definir o nascimento do homo psychologicus.
O homo psychologicus é o sujeito da psicologia, o homem que é feito por ela (e que, ao mesmo tempo, é causa de sua existência). Este e-book em PDF com 98 páginas vai te conduzir pela trajetória de Foucault ao longo do livro: seu guia de leitura para entender a maneira foucaultiana de pensar.
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O autor:
Vinicius Siqueira é pós-graduado em sociopsicologia e editor do portal de conteúdo de ciências humanas Colunas Tortas. Também é autor de “Foucault e a Arqueologia” e “Análise do Discurso: Conceitos Fundamentais de Michel Pêcheux”.
O Homo Psychologicus
Doença Mental e Psicologia, de Michel Foucault, é um livro de duas faces: a primeira é seu lançamento, em 1954 e sob o nome de Doença Mental e Personalidade, através de um Foucault de 28 anos, após pequena passagem pelo Partido Comunista Francês. O conteúdo do livro revela uma preocupação em elevar a psicologia ao status de ciência, já que o filósofo a via dominada por modelos abstratos e incapaz de definir conceitos básicos como de doença mental e saúde mental.
Esta primeira escrita é marcada pela tentativa de dar força aos primeiros trabalho de Pavlov, behaviorista soviético que passou a ter sua ciência como versão oficial na URSS após o Congresso Soviético para o Estudo do Comportamento Humano de 1930. Apesar de rejeitar qualquer psicologia como científica (e por isso ter empreendido tal esforço acadêmico), Foucault toma Pavlov como referência para suas análise e estabelece aquilo que Hubert Dreyfus iria chamar de “uma combinação instável entre existencialismo antropológico heideggariano e teoria social marxista”[1].
A segunda face de Doença Mental e Psicologia foi apresentada para o mundo em 1962, agora sob sua atual alcunha. A segunda parte do livro foi inteiramente revisada, o capítulo dedicado ao materialismo histórico foi retirado e o livro passou a atender um segundo anseio de Foucault: em vez de buscar pelo estatuto científico da psicologia, seria necessário esclarecer a emergência do sujeito própria da psicologia. Mesmo sob novo objetivo, o filósofo ainda tentou evitar reimpressões do livro e traduções (de fato, Doença Mental e Personalidade não tem traduções registradas para português ou inglês).
Mas porque Foucault se esforçou tanto para evitar que seu livro fosse reimpresso e traduzido? Mahon entende que o problema específico da primeira versão era visualizar a doença mental como um fenômeno cultural e entender que a sociedade “se expressa positivamente através dos tipos de patologia que ela reconhece”[2]. Já na sua segunda versão, o problema está, como dito anteriormente, em estudar a constituição histórica do homo psychologicus, do sujeito propriamente da psicologia.
A versão resenhada aqui de Doença Mental e Psicologia irá estudar como a psicologia e a medicina utilizam erroneamente um mesmo método de análise, cabendo à psicologia criar seu método específico que atenda suas necessidades. Para isso, Foucault investiga como se forma o sujeito doente mental em âmbito cultural, existencial e psicológico. O autor, portanto, denuncia a inabilidade da psicologia em entender a patologia mental e procurar desfiar o pano que impede a construção de um saber que consiga dar cabo da mente, ao mesmo tempo em que desvela a emergência do homo psychologicus.
Este trabalho, mais tarde, será substituído pelo empreendimento em descobrir a constituição da loucura na história. A arqueologia da loucura, feita em sua obra seminal História da Loucura na Idade Clássica, coloca Foucault em outro patamar de pesquisa: não se tenta descobrir uma ciência rigorosa, nem mesmo encontrar um homo psychologicus, porque este já está incluso na pesquisa: o objeto é entender como a própria loucura se formou durante a história[3].
Entretanto, o que causou tamanha mudança no pensamento de Foucault ao longo dos anos que separaram a primeira e a segunda versões de Doença Mental e Psicologia? A genealogia nietzscheana é o início dessa explicação. Em 1957, Foucault lançou o ensaio intitulado Psychology from 1850 to 1950, pontuando que a realidade humana não pode ser confundida com a simples objetividade natural.
Neste tempo, Foucault já havia absorvido a epistemologia canguilhemiana, principalmente posta no ensaio O Normal e o Patológico. Lá, Georges Canguilhem aponta que a definição da doença fisiológica deve ser vista como uma relação entre o sujeito e seu meio: a doença é aquilo que não permite ao doente normatizar sua vida: ele não consegue mais criar regras para si e está sempre à mercê das regras que a própria doença determina[4]. O que lhe faltava era o traço nietzscheano encontrado em seus estudos genealógicos.
O próprio Foucault respondeu prontamente a pergunta sobre qual Nietzsche mais lhe influenciou, quando entrevistado por Giulio Preti, “obviamente, não o de Zaratustra, mas sim aquele do Nascimento da Tragédia, da Genealogia da Moral“.
Doença Mental e Psicologia, portanto, é um livro de transição, um mestiço, posicionado no meio da caminhada de Foucault até a História da Loucura, livro de inspiração claramente nietzscheana. No entanto, ele não perde sua vitalidade e, pelo contrário, ganha importância devido a sua reflexão única. O trabalho de Foucault neste livro é estudar as diferentes faces que a doença mental pode ser explicada e criticá-las continuamente, por isso Simone Reis e Márcia Teshima classificam uma das posições ontológicas do autor em relação ao objetivo de estudo como de ser crítico.
Se trata, então, de um estudo psicológico, histórico e, acima de tudo, crítico.
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Resenha detalhada
O projeto de resenha detalhada que culminou no e-book Homo Psychologicus tem sua vantagem em ser um meio direto e didático de conversar com o leitor. A análise foucaultiana é descrita em seus detalhes, tendo como base o livro Doença Mental e Psicologia.
Veja abaixo como o e-book Homo Psychologicus está estruturado:
- Introdução
- Capítulo I – Medicina Mental e Medicina Orgânica
- Primeira Parte – As Dimensões Psicológicas da Doença
- Capítulo II – A Doença e a Evolução
- Capítulo III – A Doença e a História Individual
- Capítulo IV – A Doença e a Existência
- Segunda Parte – Loucura e Cultura
- Introdução (Loucura e a sociedade)
- Capítulo V – A Constituição Histórica da Doença Mental
- Capítulo VI – A Loucura, Estrutura Global
- Conclusão (Homo Psychologicus)
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