De regresso à cidade que amo, não tive muito tempo para exercer a escrita, mesmo que fosse em linhas gerais. Talvez, não escrevia por certo descontentamento dos dias corridos ou, por não acreditar em minhas qualidades e temer meus devaneios e objeções.
No fundo, isso sempre me perturbou e me provoca uma grande inquietação. Mas, quem é que poderia ser audacioso e dizer que sim? De saber veementemente a diferença entre o correto e o equívoco? Justamente por essas questões, tenho inúmeras razões para recusar a escrever.
Não se trata de mero capricho! Vocês, bem sabem que não. Temerosa em afirmar minhas humildes memórias, utópicas fantasias, em gerar um mundo perfeito, de um amor eterno, de mesquinharias…
Todos temos o poder extraordinário de nossas faculdades mentais. Faz parte da natureza biológica de qualquer ser humano. Haveria necessidade de alguém testemunhar tais feitos? São indagações que têm me tomado bastante tempo, e, valorizo.
Valorizo e dou fé nesses pensamentos, como nos seres que acreditam e devotam o sobrenatural… Uma vida plena e feliz, no fim é o que todos buscam.
Acompanhada do vento gélido e das notas de Almicare Ponchielli, criador da ópera La Gioconda em meados do século XIX, tenho a sensação de que não sou a única a sentir-se assim. Há tempos, tenho prestado atenção aos outros, inclusive, alguns dediquei para justificar o lema: “Aprendes a escutar e a falar menos”. É um exercício realmente penoso, principalmente para mim. Além do mais, não se ensina a fazê-lo na escola e, muito menos, não tive a sorte de aprender em meu seio familiar. Todos são tagarelas ambulantes…
É algo realmente estranho o que acontece… Pode ser em fila de banco, fila de supermercado e dentro do ônibus… Sempre vem alguém até mim e começa a explanar a sua vida, seus problemas. Fico ali, quietinha de ouvinte. Nunca afirmo ou nego o que a pessoa fez. Requer sensibilidade que creio só os sábios poderiam transmitir. Apenas, abro um grande sorriso e jogo palavras positivas no ar.
Ah! Como a vida é cômica e irônica. Toda vez que esse tipo de situação ocorre, penso que deveria ter feito Psicologia. O banco do ônibus é o verdadeiro divã urbano! Não trata-se de um discurso individualista, é universal. E, acho que isso tudo está estreitamente ligados às questões sociais, políticas e econômicas no qual estamos inseridos. Algo parecido ocorreu com vocês?