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Biografia
Ferdinand de Saussure nasceu em 1857, em Genebra, na Suíça, no seio de uma família de conhecidos cientistas. Foi um importante linguista e teve papel central na formação da linguística como ciência no século XX e no surgimento do estruturalismo como modelo de análise.
O autor foi base para o desenvolvimento das teorias sociais da década de 50 até a década de 70, principalmente na França. O modelo estruturalista de análise foi incorporado pelo antropólogo Claude Lévi-Strauss, foi referência para sociólogos como Pierre Bourdieu, filósofos como Michel Foucault e Jacques Derrida, além de ter participação no marxismo de Louis Althusser e na análise do discurso de Michel Pêcheux.
Saussure publicou seu primeiro trabalho notável ainda no fim da graduação, na Universidade Humboldt de Berlim, Mémoire sur le système primitif des voyelles dans les langues indo-européennes, de 1879. Nesta publicação, Saussure explica com notável clareza o funcionamento do sistema de vogais utilizado nas línguas indo-europeias e as alternâncias que nele aparecem, como da letra a.
A dissertação foi bem recebida, ela resumia a centralidade que Saussure coloca no sistema linguístico para compreender o conhecimento e comportamento humano, no entanto, nenhum outro trabalho de destaque foi lançado nos anos seguintes.
Foi um influente professor, iniciando sua trajetória na École des Hautes Études, em Paris, de 1881 até 1891. Logo em seguida, conseguiu um posto de professor de sânscrito e linguística indo-europeia na Universidade de Genebra, de 1901 até 1911.
No fim de seu ciclo em Genebra, também lecionou o Curso de Linguística Geral, de 1907 até 1911. Mais tarde, as notas de seus alunos seriam editadas por Charles Bally e Albert Séchehaye e publicadas, dando fama ao mais famoso trabalho de Saussure e ponto de partida da reestruturação da linguística moderna do século XX.
Ferdinand de Saussure tinha pensamento alinhado com as propostas de seu contemporâneo Émile Durkheim e considerava a linguagem como um fenômeno social, a união entre língua e fala, sendo a língua, um fato social, portanto, de existência coletiva. A língua, assim, é um sistema estruturado que pode ser visto sincronicamente (num dado momento, como uma fatia) e diacronicamente (em suas transformações ao longo do tempo).
Principais ideias
Corte entre língua e fala
Ferdinand de Saussure, em seu “Curso de Linguística Geral”, define o papel da linguística como a história das línguas, a busca de leis universais e a definição do campo de estudo. Ele distingue entre língua e fala, ressaltando que a língua, como um sistema social de signos, é a base do estudo linguístico, enquanto a fala, um ato individual, pode ser abordada pela fisiologia e psicologia. Saussure privilegia a língua por sua natureza coletiva e essencial, enquanto a fala é vista como individual e acidental.
A língua é um produto social que possibilita o uso da faculdade da linguagem e é anterior à capacidade humana de articular palavras, funcionando como um conjunto de convenções necessárias para a comunicação. Embora a língua seja essencial para a linguagem, Saussure a distingue da faculdade natural de criar uma língua. A língua é um sistema social, enquanto a fala é um ato individual que expressa o pensamento pessoal.
Saussure argumenta que a língua, como instituição social, tem regras e um funcionamento independente da vontade individual ou social, contrastando com a fala, que é uma expressão individual e não premeditada. A língua não é uma função do falante, mas um sistema social registrado passivamente, enquanto a fala é um ato de vontade e inteligência.
Língua enquanto instituição social
Ferdinand de Saussure define a dicotomia entre língua e fala como a oposição entre o coletivo e o individual, e o essencial e o acessório. A língua representa o aspecto coletivo e normativo da linguagem, sendo um fenômeno social necessário para a expressão e comunicação. Em contraste, a fala é um ato individual, mais flexível e não obrigatório, que pode se adaptar a diferentes formas de expressão.
Para Saussure, a língua é uma instituição social que existe independentemente do indivíduo, sendo um contrato coletivo entre os membros da comunidade. A aprendizagem da língua é necessária para que os indivíduos compreendam seu funcionamento. A fala, por sua vez, é vista como um ato pessoal de vontade e inteligência, que envolve a combinação do código da língua para expressar pensamentos e o mecanismo psicofísico para articulá-los.
A língua, como sistema, é duradoura, homogênea e normativa, exigindo que os indivíduos se adaptem a ela. É distinta de outras instituições sociais, como as políticas e jurídicas, devido à sua natureza peculiar, que se baseia nas regras internas do sistema e na relação arbitrária entre significantes e significados.
A linguagem
Saussure argumenta que a linguagem é uma faculdade humana exercida através da língua, que é uma convenção social necessária para a comunicação. Ele critica a ideia de que o aparelho vocal é determinante para a expressão linguística, argumentando que a língua, como sistema de signos, é prioritária para o entendimento da linguagem. A fala, embora importante, é um ato individual e não essencial para a estrutura da língua.
A língua é descrita como uma instituição social que existe por meio de um “contrato” implícito entre os membros da comunidade, e sua natureza social e normativa a torna o foco principal do estudo linguístico. A fala, por sua vez, é vista como uma prática individual e criativa que utiliza a língua, refletindo a liberdade do sujeito.
O conceito de “contrato” social utilizado por Saussure sugere que a coesão na comunicação resulta de normas compartilhadas, embora a explicação dessa coesão possa ser complexa e não totalmente satisfatória apenas pelo conceito de contrato. A linguagem é, portanto, entendida como a combinação de um sistema normativo e coletivo (a língua) e a prática individual (a fala), com a língua sendo a base para a análise linguística.
Em resumo, para Saussure, a linguística deve focar na língua como o sistema coletivo e normativo, enquanto a fala é considerada um elemento subordinado e individual. A linguagem, portanto, é a união desses dois aspectos, com a língua fornecendo a estrutura necessária para a comunicação e a fala manifestando a liberdade individual dentro desse sistema.
Artigos no Colunas Tortas sobre Ferdinand de Saussure
- O valor linguístico;
- A linguagem;
- O signo linguístico;
- Relações sintagmáticas e relações associativas;
- Língua enquanto instituição social;
- Elementos internos e externos da língua;
- O corte entre língua e fala.
Livros de Ferdinand de Saussure
- Mémoire sur le système primitif des voyelles dans les langues indo-européennes (1879);
- Os Anagramas de Saussure (1906 – 1909);
- Curso de linguística Geral (1916).
Ferdinand de Saussure: resumo
Nome: | Ferdinand de Saussure. |
Nascimento: | 26/11 de 1857, Genebra, Suíça. |
Morte: | 22/02 de 1913 (55 anos), Vufflens-le-Château, Suíça. |
Nacionalidade: | Suíço. |
Campo de atuação: | Semiótica e linguística. |
Formação: | Universidade Humboldt de Berlim (1878–1879). |
Influência de: | Foi referência para sociólogos como Pierre Bourdieu, filósofos como Michel Foucault e Jacques Derrida, além de ter participação no marxismo de Louis Althusser e na análise do discurso de Michel Pêcheux. |
Referências
Ferdinand de Saussure. Encyclopaedia Britannica. Disponível em: <https://www.britannica.com/biography/Ferdinand-de-Saussure>. Acesso em: 22 set. 2018.
KEMMER, Suzanne. Biographical sketch of Ferdinand de Saussure. Rice University. Disponível em: <http://www.ruf.rice.edu/~kemmer/Found/saussurebio.html>. Acesso em: 22 set. 2018.
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Veja também