Por Rodrigo Barros, acadêmico de ciências sociais, em colaboração com o Colunas Tortas.
Seu uso é antigo e remonta inúmeras culturas pelo mundo. É motivo de debate, polêmica e conflito. Alguns a defendem como algo completamente neutro (há quem diga que até faz bem para o cérebro), já outros enxergam nela a porta para todo o mal que existe na humanidade. Controverso? Talvez nem tanto. Estamos falando da famosa Maconha (Cannabis Sativa), uma das drogas mais conhecidas e consumidas, e que vez ou outra aparece na televisão, nas ruas e em inúmeros outros lugares.
Ultimamente, não é raro ouvir falar sobre projetos a respeito da sua legalização, permitindo a venda e o consumo por qualquer cidadão dentro de normas estabelecidas. Alguns países inclusive já o fizeram. A proposta é considerada radical por muitos no Brasil, e nada mais saudável do que uma boa pesquisa sobre o assunto. Foi o que o historiador Jean Marcel Carvalho França pretendeu fazer em seu livro História da Maconha no Brasil, publicado pela editora Três Estrelas.
A droga em si é cercada por inúmeros estereótipos e ideias deturpadas, senso comum a respeito do que ela é e daqueles que a consomem. Se em séculos passados era considerada inofensiva e não chamava nenhuma atenção, mudanças no discurso e nos interesses da sociedade a tornaram nociva e perigosa aos olhos de muitos. Já foi considerada a droga dos negros, e que por isso seria a culpada da degeneração nacional. Outros textos de tom pseudo-científico, mas bastante alarmistas, colocavam a droga como uma ameaça total para qualquer pessoa que dela fizesse algum uso.
A maconha não seria somente uma recreação arriscada, mas um perigo para a estabilidade e para a ordem. Nada mais justo, pelo tom emergencial dos folhetins do século XIX, do que combatê-la a qualquer custo. O autor mostra como essa ótica dos problemas acabou por gerar soluções baratas para se lidar com a questão. Declarou-se guerra às drogas (e não só contra a maconha), o que criou um submundo do crime organizado e um grande rastro de sangue, dinheiro sujo e ineficiência. O historiador nos mostra que em todas essas décadas que se passaram, a política do fuzil não mostrou bons resultados; na verdade, parece funcionar no sentido inverso.
Em 152 páginas, História da Maconha no Brasil chega para reforçar a importância do debate sobre a cannabis, mas não somente a respeito dela. Conciso sem ser prolixo, preciso sem ser demasiadamente técnico, o livro nos defronta com dados e possibilidades, deixando claro que as sociedades sempre consumiram drogas (o álcool, por exemplo, que “curiosamente” está relacionado a muitos óbitos a mais do que outras drogas ilícitas). O que nos resta não é impedir o consumo de todas as drogas, mas aprender como lidar com elas de forma mais racional, e não tão passional.
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