Venho por meio desta coluna apoiar Bruno Hoffman em seu esforço de trazer à luz a imundice que os jovens estão fazendo com nosso bom e velho pagode anos 90.
Segundo Bruno, “em geral são cineastas, jornalistas, designers e uma amiga maluquinha que faz moda na Faap”.
É necessário entender essa frase com cuidado. Ela não aponta a objetividade dos membros do grupo, mas a característica essencial desta formação: são indies. São consumidores de cultura da primeira fileira:
- São os trabalhadores de agências;
- São aqueles que “amam o que fazem”;
- São aqueles que não gostam de ser chamados de “redator”, o jeito deles de chamar é “Creative Content Writer Ninja Analyst”;
- São aqueles que gostam de cinema francês;
- São aqueles que procuram música ruim de outros países para refinar o próprio gosto;
- São aqueles que, do Dark Side of The Moon inteiro, dizem gostar mais de On the Run;
- São os frequentadores da Augusta, em São Paulo;
- São aqueles que adooooram o Beco, a Funhouse, a Outs.
- São os lindos da sociedade de consumo, a raspa do tacho. Sobrevivem à custa de ares europeus.
Essa juventude indie, aliás, é aquela que não tem a menor ideia do que está acontecendo no cenário político, mas finge que sabe. O processo de fingir envolve decorar enunciados que são repetidos frequentemente e que aparentam alguma autoridade. Consomem política.
Vivem na ânsia eterna de consumir mais e mais. Precisam consumir, porque é só através do consumo que podem ser alguém nesta porra de mundo.
São jovens que encaram o mundo como um grande meme, uma grande rede social, um grande grupo de Facebook em que a superficialidade da vida impera sob a forma de ares blasé e roupas de franceses dos anos 60; são os depressivos porque querem, que adoram o rótulo, que amam o fato de poderem ser depressivos; são os tristes, os simulacros de dramas europeus.
A descrição de Bruno sobre o evento não é nada incomum,
a minha última visita a um karaokê, dois sujeitos de barba e três meninas de tatuagem de mandala no braço (ou algo parecido) invadiram o palco e começaram a berrar os versos de Mina de Fé, dos Morenos – detalhe importante: o palco é para, no máximo, duas pessoas. Enquanto cantavam, seus amigos cineastas, jornalistas, designers (a amiga maluquinha da moda da Faap estava no palco) levantaram e cantaram juntos a plenos pulmões, algo muito próximo ao berro, com a mão um no ombro do outro.
A caricata situação demonstra a performance necessária para realizar o consumo perfeito desta nova mercadoria. Você precisa elevar seus níveis de emoção ao extremo exatamente para mostrar que não tem nenhuma emoção séria ligada à música. Não é o som que você escuta quando está triste dentro do ônibus, é o som que você coloca no rádio naquele churrasco cheio de gente, pra todo mundo cantar junto. É um som que só vale se for junto com outras pessoas.
Isso faz parecer que é som “da galera”. Não sejamos tão cristãos. No rock, pagode não é igual maconha entre amigos. Não foi feito para se compartilhar. Diferente disso, o pagode (no meio dessa gente) foi feito para se mostrar. Um mostra ao outro seu consumo específico de Raça Negra.
A colonização alcançou níveis em que foi necessário, inclusive, criar o pagode perfeito. O pagode perfeito é aquele que finalmente pode se escutar no ônibus, afinal, essa porra não é mais pagode! Veja:
A existência da mediocridade acima revela um dos possíveis caminhos do gosto pelo pagode: a paródia. Convenhamos, o som acima é uma paródia sem ritmo engraçado: é quase como uma paródia francesa dos anos 60.
Bruno termina com a cartada final, “ainda pude ouvir, feliz, o casal do drinque de morango [que havia cantado Raça Negra aos berros] cantar Titãs. Não há dúvidas: há de se respeitar totalmente quem canta Titãs no karaokê. Nunca haverá um cantor irônico de Epitáfio”. De fato, não há porque ser irônico com Titãs, este é um gosto legítimo.
O grupo de fedelhos com mais de 22 anos que entra no bar para cantar aos berros uma música qualquer de pagodão dos anos 90, não tenha dúvida, faz parte do topo da lata de lixo da cultura. Segundo Bruno, esta seria uma forma de tentar expressar sua brasilidade. De dizer que, apesar de serem letrados em Strokes, também são brasileiros, também gostam do Molejo.
Pra mim, esta afirmação é precipitada. Não acredito que haja qualquer tentativa de bradar o nascimento em terras tupiniquins. Existe uma maneira específica de consumo que só pode se manter com base na ironia. A relação social direta e honesta precisa se perder: a ironia é aquilo que toma conta das ações, porque essas ações necessariamente precisam significar algo para além do que elas se mostram.
Cantar Raça Negra não é gostar da banda e querer cantá-la, não é como cantar Titãs. Cantar Raça Negra é performar como um indie deve. Não se trata de uma tentativa de tornar-se brasileiro – aquilo que de fato envergonha um pseudolondrinho das ruas de São Paulo -, mas sim na reprodução de eventos que mantém a classificação “indie” válida.
O nascimento do fenômeno não interessa, com certeza a existência de Sambô e aquela união do Fresno com Chitãozinho e Xororó fazem parte da mesma configuração ideológica que abriu caminho aos indies cantarem pagode no karaokê. Mas não é tão importante. O que importa é a função de cantar pagode, que na verdade pode ser extrapolada: a ironia é um modus operandi. Quando não se pode odiar um gosto (porque todos os gostos passam a ser bons e válidos) só se pode ser irônico.
Voltando ao início desta coluna, é necessário reafirmar que é este mesmo grupo de pessoas que não está nem aí se a CLT acabar, pois ser PJ e trabalhar de homeoffice é “libertador”. Nada melhor que ser um social media, um analista de marketing, um assistente de direção, enfim…
A função destes jovens dentro da sociedade é perfumar a merda do capitalismo. Porém, além de jogarem o perfume, também a comem.
Já sou velho, mas olho para o mundo a partir de seu ineditismo, nunca sob o ranço interminável dos anciãos.
Porque a galera deturpa assim o termo “indie”… acho que você quis dizer hipster. Indie é abreviação de independente, são artistas que produzem música sem apoio de gravadora. É gente com pouca grana, que dorme na van ou na casa dos fãs em turnê, que rala pra caralho pra fazer o som acontecer. Hipster daí é essa moçada descolada aí, que, para o seu infortúnio, vive em uma democracia que permite que eles tenham acesso a qualquer música que exista no mercado. O fato deles ouvirem pagode não pode só ser considerado um ato de ironia, mas também de nostalgia. Eles cresceram ouvindo isso em programas de TV, rádio e outras mídias dos anos 1990. Dizer que não gosta ou ouvir ironicamente pode ser apenas pose, mas se eles estão consumindo, indo nos shows e pagando 120 reais por um vinil novo não é bom para os negócios dos já milionários pagodeiros?
O termo não depende de sua origem ou jeito “certo” de usar. Depende de sua prática. Se conseguiu entender quem são, estou satisfeito, amigo.
com essa resposta dá pra perceber o nível do texto, sendo que o uso correto dos termos nem é importante…
generalismo exagerado com tom polêmico pra atrair as pessoas pra matéria.
oiee
Ótimo texto. Só uma observação: perfumam o capitalismo? Não tenho a menor dúvida de que a grande maioria dos indies irônicos, globalizados e pós-modernxs é “SUPERconsciente”, “engajada”, “politizada” e… de esquerda, com ideias bastante românticas (e perfumadas) de oposição ao capitalismo. Também são financiados pelos pais, claro.
Na prática, perfumam o capitalismo, eles se dizendo de esquerda ou direita. Não me interessa a classificação que eles fazem deles mesmos.
Obrigado pelo comentário.
Belo texto para limpar a bunda.
Você passa seu computador no cu, Kennel?
Pare com isso, compre um rolo de papel higiênico.
Cara, seu texto não tem base argumentativa, é um vomito de preconceito esteriotipado em um grupo. Muito ódio, preconceito e nada de solido nesse texto. Ah, retrogrado também.
tá certo então, Gustavo.
Obrigado por comentar.
Nunca li tanta besteira junta!!!
Vc é chato hein?
Ou há uma enorme generalização ou uma confusão de gênero textual. Eu fico com a segunda opção. Dica: crônica é um gênero, artigo de opinião é outro. Favor observar. Essa publicação e o teor das respostas aos comentários (emitidos pelo autor) foi um convite a deixar de seguir. Réplicas não serão lidas.