Perfil: Leandro Konder

Por Vinicius Siqueira.

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Biografia

A filosofia é um terreno de resistência que se pergunta não para que serve uma determinada teoria, mas qual a sua verdade.

Leandro Konder [1]

Leandro Konder. Imagem: O Popular, 2014.
Leandro Konder. Imagem: O Popular, 2014.

Leandro Konder (1936-2014) foi um filósofo brasileiro, nascido na cidade de Petrópolis, RJ.

É filho do líder comunista e médico sanitarista Valério Konder.

Formou-se em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e lá, conseguiu seu doutorado em Filosofia no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, em 1987[2]. É um grande leitor e articulador dos trabalhos de Karl Marx.

O autor explica suas raízes comunistas:

Com 15 anos entrei no Partido Comunista Brasileiro (PCB) e fiquei por mais de trinta anos. Entrei no Partidão, como era chamado, depois de 45 – em 50, já estava fazendo campanha pro papai quando ele se candidatou ao senado.[3]

Seu pai foi figura marcante na vida política. Ele não começou a vida na medicina social, mas tentou se tornar psiquiatra. Foi médico em hospício, mas desistiu e mudou seu caminho.

O negócio dele era a ação, tendo participado de algumas atividades paralelas à revolução de 1935 e, por causa delas, acabou sendo preso. Já casado com minha mãe, que estava grávida, ele teve de fugir. Em Petrópolis, minha mãe entrou em trabalho de parto. Assim que ele entrou na casa de saúde, foi preso. Assim, nasci dando origem à prisão do meu pai, o que já me garante vinte anos de análise.[4]

Para Konder, o marxismo no Brasil assumiu uma forma doutrinária, o que o torna uma forma de pensamento que aprisiona e conta com seus vigilantes para cobrar responsabilidade com a doutrina. Com a mesma visão, o autor também insere o pensamento de direita: “e até mesmo o liberal e o centrista se deixam revestir de uma forma doutrinária”[5].

Leandro Konder foi professor da PUC-RJ e UFF.
Leandro Konder foi professor da PUC-RJ e UFF.

Konder conheceu Carlos Nelson Coutinho logo após se formar e o viu como uma exceção à posição doutrinária perante o marxismo. A partir desta amizade, o filósofo ficou fascinado pelo pensador marxista György Lukács e leu diversas obras de sua autoria.

Por conta disso descobri um baiano doidinho, que também se interessava por Lukács – o Carlos Nelson. Ele escreveu um artigo absolutamente entusiasmado por Sartre e o enviou para a revista Estudos Sociais, de cujo comitê de redação eu fazia parte. O artigo causou constrangimento entre alguns companheiros, mas resolvemos criar uma nova seção – Problemas e debates – só para publicar o artigo do Carlos Nelson.[6]

Carlos foi amigo de Konder também no Partido Comunista Brasileiro, organização em que ficou até o ano de 1981. Depois disso, foi para o PMDB, num ato que ele chama de ingênuo:

Depois que eu saí, disse uma maldade numa entrevista que dei a uma revista e que deixou um amigo – não vou dizer quem – puto comigo. Eu disse: “Entrei para o PMDB, virei PMDBista. Em seguida, já havia notado como havia me tornado um PMDBesta. Mas antes de virar um PMDBosta, dei um PMDbasta”.[7]

Foi ao Partido Socialista, Partido dos Trabalhadores (PT) e terminou sua vida no Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).

A gente escreve por que a gente quer participar da história, quer influir na transformação da sociedade. Agora, a gente põe paixão… A paixão nos move e nos confunde, porque de repente você vai procriando divergência políticas com posições próprias, o que é bom, mas também com ideias endurecidas que não se expõem de maneira adequada para o diálogo. Isso é ruim. Acho que eu tenho feito um esforço de me abrir ao diálogo, mas não sei se tenho conseguido (KONDER, 2008).

E, sobre a maneira como Sergio Buarque de Holanda desmistificou as relações de classe no Brasil:

Existe um cara que e impôs pela sua honestidade e pela sua lucidez que é o Sergio Buarque de Holanda. Eu vi num jornal um ataque a ele, um ataque que demonstra lucidez do lado de lá: o Sergio teoriza aquilo que não deve ser teorizado, ele teoriza como que os de cima oprimide e reprimem os de baixo. Só há mudanças efetivas nessa sociedade quando a pressão cresce de tal maneira que fica inevitável. Só o aumento de participação efetiva e democrática pode superar essa dinâmica perversa do conservadorismo no Brasil, mas as pessoas não querem isso, os donos do poder estão aí pra dificultar a transformação necessária, por isso mistificam com se desfere golpes contra a desigualdade social. O que levou ao Darcy Ribeiro dizer que essa era a classe dominante mais inteligente que ele já viu (KONDER, 2008).

Por fim, Konder reflete sobre a possibilidade de se criar um homem novo, desaburguesado:

“Para nós, como poderíamos deixar de ser homens burgueses? É possível, claro que é possível. Mas o caminho seria um projeto de criação de bases para um homem não burguês. A sociedade burguesa, tal qual ela está organizada, o capital, que surgiu em torno do mercado, nos deforma. Tenho consciência que, desde os tempos em que eu matava as tarefas do Partido, já nos idos de 1950, eu tenho algo de burguês, algo de pequeno burguês preguiçoso. Mas tenho a clareza de que é possível criar um homem novo se você tiver instituições novas, uma sociedade nova – e isso foi tentado e não funcionou. O socialismo, por enquanto, não criou isso. Eu não estou dizendo que não tenha jeito. Espero que tenha. Mas não é fácil.”[8]

Veja aqui todas as publicações do Colunas Tortas sobre Leandro Konder.

Livros

Livros publicados por Leandro Konder:

  • A Cidade de Cada Um. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1963. (Coletânea com o conto: Um Ordálio Carioca)
  • Marxismo e alienação. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1965.
  • Kafka: vida e obra. José Álvaro, 1966.
  • Os Marxistas e a Arte. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1967.
  • Marx: vida e obra. São Paulo, Paz e Terra, 1968.
  • Introdução ao Fascismo (Série Teoria e Realidade). Rio de Janeiro, Edições graal, 1977.
  • A democracia e os comunistas no Brasil. 1980.
  • O que é dialética (Coleção Primeiros Passos). São Paulo, Brasiliense, 1981.
  • Barão de Itararé. São Paulo, Brasiliense, 1983.
  • O marxismo na batalha das ideias. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1984.
  • Walter Benjamin: O Marxismo da Melancolia. Rio de Janeiro, Campus, 1988.
  • A derrota da dialética. Rio de Janeiro, Campus, 1988.
  • Intelectuais brasileiros & marxismo. Belo Horizonte, Oficina de Livros, 1991.
  • Hegel: A razão quase enlouquecida. Rio de Janeiro, Campus, 1991.
  • O futuro da filosofia da práxis: o pensamento de Marx no século XXI. São Paulo, Paz e Terra, 1992.
  • Flora Tristan: uma vida de mulher, uma paixão socialista. Rio de Janeiro, Relume Dumará, 1994.
  • Bartolomeu. Rio de Janeiro, Relume Dumará, 1995.
  • Fourier, o socialismo do prazer. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1998.
  • A morte de Rimbaud. São Paulo, Companhia das Letras, 2000.
  • Os sofrimentos do “homem burguês” (Coleção Livre Pensar). São Paulo, Senac, 2000.
  • A questão da ideologia. São Paulo, Companhia das Letras, 2002.
  • Histórias das ideias socialistas no Brasil. São Paulo, Expressão Popular, 2003.
  • As artes da palavra: elementos para uma poética marxista. São Paulo, Boitempo, 2005.
  • Filosofia e educação: de Socrates a Habermas (Coleção Fundamentos da Educação). Rio de Janeiro, Forma e Ação, 2006.
  • Sobre o amor. São Paulo, Boitempo, 2007.
  • Memórias de um intelectual comunista. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2008.
  • Em torno de Marx. São Paulo, Boitempo, 2010.

Resumo

Nome:Leandro Augusto Marques Coelho Konder.
Nascimento:03/01/1936, Petrópolis, Rio de Janeiro.
Morte:12/11/2014, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
Nacionalidade:Brasileiro.
Campo de atuação:Filosofia; Marxismo.
Formação:Doutorado em Filosofia pela UFRJ
Influências:György Lukács, Karl Marx.

Referências

[1] ROCHA, Penha. Leandro Konder: O discreto charme do marxismo. Revista Pesquisa FAPESP. Edição 82, Dezembro de 2002.

[2] Konder, Leandro. Dicionário Político, Marxists.org. Disponível em: <<https://bit.ly/2EigEra>> Acessado em: 17 dez 2018.

[3] AUSTREGÉSILO, Camila et al. “Os liberais são os gigolôs da moderação”. Jornal Algo a Dizer. Edição 2, Outubro de 2007. Disponível em: <<https://bit.ly/2BYP2ox>> Acessado em: 17 dez 2018.

[4] SADER, Emir; PINASSI, Maria Orlanda. Leandro Konder. Revista Margem Esquerda. Edição 5, Sem Ano de Publicação. Disponível em: <<https://bit.ly/2B4hbsL>> Acessado em: 17 dez 2018.

[5] ROCHA, Penha. Leandro Konder: O discreto charme do marxismo…

[6] SADER, Emir; PINASSI, Maria Orlanda. Leandro Konder…

[7] AUSTREGÉSILO, Camila et al. “Os liberais são os gigolôs da moderação”…

[8] AUSTREGÉSILO, Camila et al. “Os liberais são os gigolôs da moderação”…

KONDER, Leandro. O filósofo que sonha. Documentário produzido pela UNIRIO, 2008.