Em texto que circulou pela internet recentemente, um colunista disse que devemos fechar as escolas e construir mais prisões, para educarmos a sociedade na base da punição. Então, como faremos para garantir um futuro para os nossos jovens?
Nossa democracia é nova, nasceu há mais ou menos 26 anos. Durante 21 anos, estivemos sob um regime ditatorial que deixava toda a população viver com medo ― medo de falar, medo de se organizar, medo de pensar. Era proibido se organizar contra o governo, caso contrário, você corria risco de “desaparecer”. Depois de tudo isso, nosso país, que foi palco de várias revoltas e revoluções, acostumou-se a viver com medo.
O medo acabou gerando esse pensamento punitivo: “Coloquemos tropas de choque fortemente armadas na rua, só assim acabaremos com o crime!”, “Mandemos o exército subir a favela para acabar com esses marginais!”, “Diminuamos a maioridade penal para colocar esses marginais na cadeia! Se tem dó, leve para casa!”. Há décadas pensamos assim e reproduzimos esse comportamento de punição. No entanto, vem a pergunta: adiantou alguma coisa? É mais fácil perceber que o aumento da repressão não foi suficiente para acabar com a criminalidade.
Outro dia, o Jornal Extra publicou um artigo dizendo que houve uma tragédia antes da tragédia. O jovem, que havia sido preso há pouco, não teve família, não teve acesso a educação, não teve acesso a emprego, só vivenciou a violência, falta de perspectiva e desilusão. Na esquina da sua casa há um traficante que lhe oferece uma alternativa bem mais fácil e mais eficiente: o crime. A tentação é grande, e o crime aparece como uma alternativa mais rápida de se ter uma vida um pouco melhor.
Se, em vez de aumentarmos a repressão para levarmos mais pessoas para a prisão, oferecermos-lhes mais oportunidades e qualidade de vida, estaríamos impedindo que cenas assim se repetissem. Se o jovem pudesse estudar em uma escola boa, com professores bem formados e bem pagos, material didático, porta na sala e merenda; se ele tivesse mais programas de incentivo ao trabalho para que ele aprendesse uma profissão e pudesse trazer dinheiro para casa; se ele tivesse, enfim, mais condições de vida, não teríamos veríamos cenas como essa se repetirem. Em países onde há maior igualdade social, vemos o resultado do investimento em educação e formação na diminuição considerável da criminalidade e até no fechamento de prisões.
É necessário enfatizar que a redução da maioridade penal atingirá justamente as populações mais vulneráveis do país, aquelas que mais sofrem em um país com a maior desigualdade social do mundo.
Finalmente, sobre o argumento de “doutrinação” [argumento recorrente quando se fala de educação crítica], o que há de errado em ensinar os jovens a analisar a sociedade de maneira crítica? Doutrinação seria impedi-los de fazer isso e lhes dar verdades prontas. Quanto mais os jovens tiverem consciência de seu papel na sociedade, melhor, pois eles podem se organizar para melhorar sua realidade. A educação é extremamente necessária em nossas vidas, pois ela é a base de tudo; é graças à educação que nossa sociedade saiu da pré-história.
Não podemos retroceder à barbárie. Precisamos de menos prisões e mais escolas! Mais educação, e mais empatia, por favor.