O fascismo enquanto processo – Anita Prestes

Anita Prestes explica como o fascismo não pode ser entendido enquanto fenômeno estático, fixo, mas como processo em situações de incapacidade burguesa em conduzir a sociedade através da democracia parlamentar.

Anita Leocádia Benário Prestes nasceu em 27 de novembro de 1936 na prisão de mulheres de Barnimstrasse, em Berlim, na Alemanha nazista, filha dos revolucionários comunistas Luiz Carlos Prestes, brasileiro, e Olga Benario Prestes, alemã. É doutora em história social pela Universidade Federal Fluminense, professora do Programa de Pós-Graduação em História Comparada da UFRJ e presidente do Instituto Luiz Carlos Prestes.


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Em minhas pesquisas, verifiquei que o Estado Novo, no Brasil, não pode ser chamado de Estado fascista. Não vou entrar em detalhes, mas à época do Estado Novo, não havia dominação do capital financeiro no Brasil. O Estado Novo se caracterizou por intervenção do Estado muito acelerada e importante na economia para montar uma indústria de base e assegurar a industrialização do país em novas bases e isso beneficiou uma burguesia brasileira ainda de caráter basicamente nacional.

Após 1964 é que eu vejo, principalmente após o AI5, Ato Institucional número 5 de 1968, que realmente ocorreu um processo de fascistização. Ele não se plantou num dia, foi um processo. A partir principalmente do AI5, há pesquisas que na prática quem dirigia o país era o alto comando do exército naqueles anos a partir de 69/70. Havia já a formação nesse período de um novo sistema econômico que alguns caracterizavam até como capitalismo monopolista de Estado, mas enfim, sem entrar na discussão, houve uma interligação muito grande entre o Estado, os monopólios nacionais que já tinham se formado nessa época e os monopólios internacionais. Uma articulação entre esses fatores e o latifúndio que se capitalizou até se transformar, mais tarde, no agronegócio em que grande multinacionais, grande empresas do capital financeiro que investem na agricultura.

Para que se fizesse funciona este sistema, foi necessário a repressão. O fascismo, nós devemos entender, é recorrido pela burguesia quando ela não consegue segurar suas crises pelos meios da democracia parlamentar burguesa. É necessário entender que o fascismo, e nesse sentido a contribuição de Palmiro Togliatti, dirigente do partido comunista italiano na época do fascismo, também é muito interessante quando dizia que o fascismo não é um fenômeno possível ou passível de ser definido como estabelecido definitivamente. Até lembro de uma pequena citação do autor: é preciso não considerar o fascismo, dizia ele, como qualquer coisa definitivamente caracterizada. É preciso considerá-lo em seu desenvolvimento, nunca como algo fixo, nunca como um esquema ou um modelo, mas como consequência de uma série de relações econômicas e políticas reais resultantes de fatores reais da situação econômica, da luta de classes.

Então o fascismo não é algo estático, é algo que muda dependendo de uma série de circunstâncias.

No Brasil, nem mesmo nas vésperas do golpe de 64, nós podemos falar que havia uma ameaça revolucionária, mas em 59 havia acontecido a Revolução Cubana. Então medidas de caráter preventivo foram tomadas pelas burguesias, pelo capital internacionalizado existente no Brasil e em outros países da América Latina para se prevenir contra os perigos de contágio da revolução cubana. O pânico com sua possível influência em todo o continente latino americano era muito grande.

Anita Prestes


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