Segundo matéria da Folha, uma das revelações dos inquéritos da PM do Rio de Janeiro foi a presença ilustre de Mikhail Bakunin. Após ser citado em conversas monitoradas, ele foi colocado na lista de possíveis suspeitos. Por conta desta incoerência grave, Camila Jourdan, presa por ser potencial vândala, pôde afirmar, “do pouco que li, posso dizer que esse processo é uma obra de literatura fantástica de má qualidade”.
Ela nem mesmo aceitou o papel de líder que as autoridades policiais lhe deram, “existe uma necessidade de se fabricar líderes para essas manifestações. E quem se encaixa muito bem no papel da mentora intelectual? A professora universitária. Cai como uma luva, entendeu?”
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Ainda disse vigorosamente, “Foucault diz que os intelectuais descobriram que as massas não precisam deles como interlocutores. Não tenho autoridade para falar sobre a opressão de ninguém. O movimento não precisa de mim para este papel”. O movimento não precisa de um líder para ser o que é, então, como a polícia, treinada para caçar o líder, poderá combatê-lo? Fabricando uma liderança.
A liderança capturada também é uma anestesia para o restante da sociedade, temerosa em relação aos vândalos nas ruas. Se o líder foi preso, então todos podem respirar em paz.
Camila também sabe que as eleições não são o melhor meio para uma mudança radical na sociedade. Segundo ela, “A participação política não pode se resumir a um objeto de consumo. Mandam o eleitor comprar um candidato. O ser humano precisa de participação política real e permanente. Nós fazemos isso nas manifestações e nos trabalhos de base, com movimentos sociais e assembleias populares”.
“Não adianta você mudar as peças do jogo se o problema é o jogo”, termina sua entrevista para a Folha. Neste jogo, até mesmo Bakunin foi ressuscitado.
Instagram: @poressechaopradormir
Pós-graduado em sociopsicologia pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo e editor do Colunas Tortas.
Atualmente, com interesse em estudo do biopoder nos textos foucaultianos.
Autor dos e-books:
Fascismo: uma introdução ao que queremos evitar;
Análise do Discurso: Conceitos Fundamentais de Michel Pêcheux;
Foucault e a Arqueologia;
Modernidade Líquida e Zygmunt Bauman.