As pessoas que trabalham produzindo saberes ou que tenham obviamente de escrever ordinariamente devem ter se perguntado, alguma vez, se somos obrigados a escrever. Essa pergunta danada vem repentina quando você quer realizar o ato, mas esse ato se torna intrigante. Afinal, escrever por quê? Para quem? Qual o propósito?
Infinitas são as possibilidades de resposta. Uns escrevem por necessidade de “dizer” o que pensam, outros por mera provocação, outros para assumirem a postura de escritor, alguns para se sentirem livres como a autora que vos fala.
Esta semana comecei a ler Maurice Blanchot. Não conhecia suas obras. Além do limiar da filosofia, o romancista francês abordou o campo jornalístico e a política francesa da década de 1940. Era amigo de Michel Foucault e Jacques Derrida. Dos livros publicados, conheci: “O livro por vir”. Trata-se da aflição que os escritores sentem, do esforço intelectual que é a escrita, sendo ela uniforme ou não. Para Blanchot, infelizmente escrever é para poucos e é um enigma sem cálculos pragmáticos:
“O fato de pensar só pode ser perturbador que aquilo que existe para ser pensado é, no pensamento, o que dele se afasta e nele se exaure inesgotavelmente, que sofrer e pensar estão ligados de uma maneira ou outra, pois se o sofrimento, quando se torna extremo é tal que destrói o poder de sofrer, destruindo sempre à frente dele mesmo, no tempo, o tempo em que ele poderia ser retomado e acabado como sofrimento, o mesmo acontece, talvez, com o pensamento”.
A leitura desse livro é instigante. E em várias passagens me peguei na sua linha de raciocínio. Prontamente enviei um e-mail a um amigo que costumo ter contato via internet. A caixa de entrada me revelou que já havia uma ponderação rotineira:
O moço – E aí, moça, escrevendo muito? Como foi a semana? Espero que tenha sido boa!
A moça – Daquele jeito, mas, tá dando pra levar. E você como vai? Eu preciso saber da tua vida, sem paródias musicais.
O moço – Pra escrever ou ler certos temas essa é a trilha sonora perfeita.
Mas então, eu por muito tempo investi na música, tocava guitarra solo, rock n’ roll clássico (Rolling Stones, Beatles, Led, AC/DC, Black Sabbath etc…), mas já tem uns 3 anos que eu dei um parada, espero voltar com o mesmo ânimo logo. Agora, por mais que tem hora que a gente chega a desanimar, estou tentando mesmo publicar o livro. Escrevo outro, de terror, e traduzindo esse que te enviei para o inglês, por que lá fora que ficção fantástica é realmente popular.
Mas estou curioso pra saber da história da garota das crônicas. Diga aí um pouco de você. Abraço.
A moça – A garota das crônicas espia de forma singular a vida ao redor. Ama música e literatura. Além de gatos e vinhos! Tentou tocar bateria e violão, mas ela se contenta em ser só critica musical. Gosta de explanar as banalidades e tá de cara com o que tá acontecendo com a política nacional.
É uma faixa com dizeres mais repugnantes que outras. Manifestação legítima a favor da democracia pedindo intervenção militar. Tem algo mais contraditório? Um bando de gente louca nas ruas deste país que deviam estar fazendo tratamento em hospício…
A garota das crônicas não tem sorte no amor e nem na própria sorte. Mas ela é romântica e acha que um dia vai achar o sapato pro seu pé descalço. Questionamentos de quase tudo ela faz. E tá chegando à conclusão de que o fim se aproxima. O caos toma conta e isso seria um belo filme de aventura.
Ela pede à natureza que a mesa sempre esteja farta, que não falte amigos e o amor de família. Antes ela acreditava em Deus, mas hoje, ela pensa que isso pode ser qualquer coisa é só uma forma de tentar abstrair ou de justificar as causas impossíveis, ou os constrangimentos. Ela tem fé nas suas atitudes e são elas que justificam o porvir e devir.
Ela é complexa assim como qualquer ser humano. E ela se policia para não virar um ser humano mesquinho. Ela não quer ser milionária, mas ter uma vida sem problemas financeiros para poder ajudar outras pessoas. A menina das crônicas é a favor do aborto, da legalização das drogas, é feminista, mas não extremista. É de boa com todo mundo, não tem inimigos e quer algum dia, adotar uma criança. Um sonho pra ela é poder seguir fazendo com o que mais gosta: escrevendo dela e de pessoas, de estar em companhia dos amigos, de ouvir músicas clássicas quando está feliz ou triste. Ela ama viver.
O moço – Você é direta, gosto disso. Foi bom mesmo conhecer mais um pouco de tu. E desculpa pela mensagem meio “superficial” que mandei. Estou com uma daquelas ressacas bravas, mal conseguindo levantar da cama. Minha cabeça tá lenta. Quando tiver melhor vou tentar explicar um pouco mais o que passa pela minha cabeça meio doida.
A moça – Tranquilo. O mundo quando a cabeça roda tem outra perspectiva.