A vitória do Syriza é uma vitória de quem? Do proletariado?
O capitalismo é mais que um partido de direito no poder: é um sistema econômico que dá fundamento para sua superestrutura institucional. Por isso as eleições não significam necessariamente uma mudança do poder: o poder não está nas mãos de um partido, mas está nas mãos da classe dominante.
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A afirmação acima se expressa às vezes bruscamente e às vezes sutilmente. Por exemplo, o Syriza nomeou o conservador Prokopis Pavlopoulos para a presidência da Grécia. Apesar de ser um cargo apenas figurativo, é interessante perceber que dar representação para o partido conservador Nova Democracia não é um problema no governo desta “esquerda radical”.
A esquerda radical do Syriza também está voltando atrás em relação à privatização do porto de Piraeus. Ele estão com ânimo para liberar quase 70% do porto para o mercado e conseguir a grandiosa confiança da Troika. Mas porque conseguir a confiança da Troika? Por que ter um ministro das finanças que participou da queda trágica da Grécia (Yanis Varoufakis foi assessor econômico do governo grego de 2004 a 2006)?
Gerar confiança à União Europeia é uma faceta explícita de que a máquina estatal burguesa ainda está lá, com suas relações de poder entre classes (com a dominação sobre a classe operária) nada abaladas. Com certeza a vitória do Syriza foi simbólica, afinal, temos um partido que se diz de esquerda, apoiado por uma massa anti-austeridade e crente em um governo para os pobres. No entanto, a realidade nos mostra outra coisa: o Syriza não é mais que uma extensão da máquina burguesa estatal: ele é o resultado das eleições democráticas e sua defesa como processo justo de alternância de poder.
O problema é que essa alternância não existe de fato: o poder passa de partido para partido, mas continua nas mãos da classe dominantes, dos banqueiros e da troika, representação institucional e político-econômica de suas reivindicações.
O Syriza e sua performance revolucionária são ideologia. O processo de mistificação do processo eleitoral sob a justificativa de que “já que um partido da esquerda radical [sic] pode ser eleito, então ele funciona”. O Syriza talvez seja a melhor arma do capitalismo na Europa: ele é a naturalização das eleições.
Já sou velho, mas olho para o mundo a partir de seu ineditismo, nunca sob o ranço interminável dos anciãos.