Texto originalmente publicado no blog Species and Class
Por Kevin Watkinson
Recentemente, um aparente conflito surgiu entre a filosofia percebida, a política e a prática do veganismo. Há aqueles que acreditam que é preciso promover uma forma liberal do veganismo, minimizando o contexto político e enfatizando o “consumo vegano”ou uma “integração”, onde qualquer um possa consumir produtos veganos e evitar aqueles que não são.
Em contraste, há aqueles que enfatizam a base filosófica do veganismo, onde ideias sobre a oposição à exploração e crueldade com animais têm destaque. Essa perspectiva tende a ser expansiva [1] na medida em que considera diferentes formas de exploração, como a exploração está relacionada com a dominação, e como o sistema utilizado para discriminar os animais (porque eles são “apenas” animais) também é usado contra pessoas, que são também marginalizadas e oprimidas dentro do atual sistema econômico e político.
Do ponto de vista despolitizado do veganismo não há desafio direto ao sistema político ou ao sistema econômico sob o qual atualmente vivemos, um sistema que depende da exploração para a sua existência. Ao capitalismo é permitido que continue normalmente e forneça-nos nossas diversas “iguarias” veganas.
Desta forma, não desenhamos as conexões entre a situação da exploração animal e da exploração humana. A visão liberal permite a todos adotarem a definição de veganismo, incluindo nazis ou outros fascistas. Dentro destes sistemas hierárquicos pode haver exploração animal ou não, depende da natureza dominante/elite. No entanto, dentro de uma definição politizada do veganismo que enfatiza o contexto de exploração e dominação, não é possível ser vegan sem levar em conta os aspectos de dominação que também podem ser aplicados a pessoas (animais humanos).
A definição liberal do veganismo refere-se à prática do veganismo sem consideração à sua origem [2]. Na forma liberal, as pessoas podem ser veganas que adotam a prática apenas para melhorar o seu bem-estar físico [3], ignorando completamente a questão dos animais, e podem descartar abertamente a dieta, como a uma moda, quando se torna conveniente fazê-lo. Dentro de uma definição liberal, pessoas como Bill Clinton são veganas, mas ele nunca foi vegano de qualquer maneira (consumindo peixe). Neste exemplo, a imprensa informou sobre seu veganismo sem considerar as contradições. Ele não foi contestado do ponto de vista animal, e nem foi a mídia desafiada por grupos dominantes sobre a sua definição (ou mal uso) do termo “vegan”.
Às vezes, tem sido afirmado que seríamos “mais fortes juntos” ao aceitarmos uma definição liberal. No entanto, por sua vez, não tem sido reconhecido que a visão liberal poderia ser dispensada em favor de uma definição que reflita oposição a toda a exploração animal. Não há nenhuma razão por que a filosofia e a prática não podem andar de mãos dadas, para que possamos ser coerentes com a definição original do veganismo, e expansivos, para além da consideração “pelos animais” ou apenas pelo “consumo vegano”, para abertamente nos opormos a formas de exploração em relação a ambos: animais humanos e não humanos, e em relação ao ambiente em que vivemos.
Referências
[1] Esta abordagem não apresenta um caminho fácil a ser seguido, existem muitos desafios ao longo dele que nos obrigam a reavaliar crenças mais profundas, enquanto aprendemos e nos adaptamos a situações em que nos encontramos. Veja particularmente o Vegan Information Project para mais materiais.
[2] As páginas 2-9 de um folheto publicado pela The Vegan Society demonstram uma forma original em que as pessoas, os animais e o planeta foram considerados em relação ao veganismo. No entanto, enquanto a Sociedade Vegana contemporânea menciona estes aspectos, ela não consegue criticar os elementos da sociedade “mainstream” que estão em oposição à filosofia do veganismo. Então, ao invés de definir o veganismo como algo que está enraizado na justiça social, eles enfatizam que o veganismo é para “todos”. Dessa forma, eles se mostram confusos sobre o significado do veganismo, e muitas vezes parecem defini-lo como meramente o boicote da exploração dos animais não-humanos.
http://www.vegansociety.com/sites/default/files/uploads/Ripened%20by%20human%20determination.pdf
[3] Da mesma forma, alguns ambientalistas enfatizam os impactos da pecuária no meio ambiente, e vão longe o suficiente para adotar uma dieta baseada em vegetais. No entanto, este grupo não contesta a condição de mercadoria dos animais ou considera a libertação animal como uma questão de justiça social.
Fontes:
- ‘From animals to anarchism’ by Kevin Watkinson and Donal O’Driscoll. (2014)
http://dysophia.org.uk/from-animals-to-anarchism-open-letter-3/ - ‘Making a Killing: The political economy of animal rights’ by Bob Torres. (2008)
- Food Empowerment Project: http://www.foodispower.org/
- Movement for Compassionate Living: http://www.mclveganway.org.uk/info.html
- Vegan Information Project: http://veganinformationproject.org/
Acredito que a palavra segue sendo meu ponto fraco.