A libertação dos loucos de suas correntes, por Vladimir Safatle – DROPS #15

SAFATLE, Vladimir. Colóquio Interlocuções Foucaultianas. Universidade Federal do Cariri (UFCA), 2019.

Nós vemos claramente a explanação crítica de Michel Foucault sobre a história do nascimento da psiquiatria moderna, pois agora se trata de um modelo de intervenção que vai privilegiar a intervenção da coerção moral. Nasce o psicológico.


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a libertação dos loucos em Michel Foucault

Neste momento, então, de uma certa forma o processo de influência entre médico e paciente que é o prenúncio da ideia de transferência aparece como elemento decisivo ao dispositivo clínico. Então, nasce a própria ideia do psicológico, mas nasce também uma ideia muito clara de disciplina, um modelo de intervenção psicológica. Este modelo que a liberação da loucura de suas correntes significa encontrar lá no espaço da mente, da consciência, os tipos sociais aos quais os pacientes devem agora se conformar. Não há nada de emancipação neste gesto. O que existiu, na verdade, foi uma volta ainda mais profunda do parafuso da alienação.

Vocês percebem que esta liberdade é solidária da assunção de tipos sociais endossados pelo discurso médico. A cura não seria outra coisa que a reedificação de uma sociedade partindo do tema da conformidade aos tipos [sociais] e isso explicaria porque Foucault dirá que na verdade essa liberdade não é outra coisa que a internalização da alienação. É um mito que se faz passar pela liberação de uma verdade que não é outra coisa que a reconstituição de uma moral. Faz passar por cura espontânea da loucura o que é talvez uma inserção secreta numa realidade artificial. Não haveria mito mais forte do que a crença desta natureza normativa de uma unidade funcional da personalidade. Um mito que Hegel parece partilhar ao falar sobre a contradição entre a particularidade da determinação corporal e a totalidade da consciência.

Mas o tipo social mais perverso do que diz respeito à força de sua alienação não seria exatamente a ideia de uma unidade funcional da personalidade? Tão decisivo para nossa compreensão ainda hoje do que significa sofrimento psíquico, haja vista de que, em última instância, nosso saber psiquiátrico retornou a um entendimento de uma psicose monista, de uma leitura monista da psicose, de tal maneira que só existiria uma forma de transtorno psicótico, o transtorno psicótico esquizofrênico com todas as suas categorias internas. É sempre bom lembrar que desde o seu nascimento, a questão fundamental da esquizofrenia aparece como a cisão da unidade funcional da personalidade.

Figuras do desatino

2 Comentários

  1. Esse Safatle, almofadinha, nunca esteve em um sanatório. Eu, Valter José Maria Filho, pós-doutor em Filosofia pela FFLCH, estive em sanatório durante quatro meses. Não fui bem acolhido pelo horrível serviço de Aconselhamento da Psicologia da USP, se houve cura foi por minha própria conta. Agora vejo esse Safatle, rainha da bateria, pululando na matéria, Que tempos vivemos.

    1. Fala, Valter!

      Obrigado pelo comentário, acredito que o vídeo seja estritamente focado na loucura na Idade Clássica a partir do livro de Foucault e do entendimento hegeliano da razão e não-razão.

      Muito obrigado e fique à vontade!

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