O surrealismo pode perfeitamente tomar forma em desenhos futuristas e cibernéticos. É o que Alvaro Miguel Pascale nos prova com seu trabalho de influência surrealista e simbolista. O artista nasceu em Montevidéu, em 1974, e já com 6 anos começou a desenhar, saltando para a pintura com tintas aos 14. Sua arte convida o espectador para um mundo desconhecido, para uma entrada na realidade cibernética digna de livros de ficção científica.
A própria ficção científica é uma das referências de Pascale, que ultrapassa os limites das artes plásticas em suas influências. Segundo o artista, Jack Vance, autor de O Homem Sem Rosto, e Isaac Asimov, lendário autor da série de livros Robots, foram figuras importantes de sua trajetória artística, apesar de não serem as únicas, “minhas influências são em sua maioria os surrealistas, dado que desde criança admiro a capacidade destes artistas em conseguir enxergar o mundo de um ponto de vista fora da realidade clássica, revelando uma realidade diferente, cheia de símbolos e formas”.
Relembrando parte da cultura pop nos anos 70, suas obras lembra a capa do disco Tarkus, de 1971, lançado pelo supertrio britânico Emerson, Lake and Palmer. A faixa-título retrata a vida de um tatu mutante, uma mistura de animal com arma de guerra, que enfrenta diversos desafios em sua jornada, vence seus inimigos, mas acaba perdendo sua última batalha.
O impressionismo e o renascentismo também marcam seu rol de influências, que dão base para Pascale pintar a realidade, a natureza, a vida como um todo. Não há nada que não possa ser objeto da criatividade de um artista, “a natureza das coisas, dos elementos básicos até o simples voo de um pássaro lhe convidam a criar tudo, tudo é arte você só tem que ver onde está a magia e que o leva a ter uma curiosidade criativa maior”, conta.
Pascale também revela que a complexidade em retratar a realidade crua é seu grande impulso, haja vista que retratar aquilo que habitou o planeta “é muito intenso, já que se está mostrando algo que foi criado pela natureza, que é parte da história. Criar se torna um desafio e isso me encanta”.
Em Dragon Serpiente Cibork pode-se observar um resumo de sua influência sci-fi e surrealista. Uma criatura similar a um dragão-de-komodo pintado com perfeição e desenhado em detalhes traduz um mundo futuro em que as máquinas terão parte ativa em nossa civilização. A grande sacada do sci-fi é este: as máquinas não são somente um instrumento, mas são quase como agentes, uma dependência humana visceral.
Suas obras expressam aquilo que vê na realidade. lembrando que a realidade de Alvaro Pascales é a realidade dos surrealista, o que importa não são as formas cotidianas que nosso senso estético está apto e treinado a reconhecer, “por exemplo, em meu quadro ‘Torero’, mostro meu repúdio às touradas de maneira que o quadro expressa esse meu descontentamento graficamente, em outros busco expressar a liberdade em formas variadas e também os medos noturnos”.
Os medos noturnos tomam o espaços em “Placeres”. A musa sem olhar, de lábios grandes e peitos em destaque, se levantando de uma mar de sangue, consegue aproximar o a noção freudiana da satisfação do gozo proibido. O prazer está logo ao lado, mas ele não pode ser acessado, não pode ser satisfeito. A falta do olhar parece indicar a generalidade do prazer: é qualquer coisa, mas é o prazer. Esta satisfação carrega consigo uma consequência sanguinária, mais que transgressora, ela é criminosa.
Seus traços são parecidos com Lucas Gazinhato, que já teve uma matéria no Colunas Tortas. Ambos são atraídos pelo sci-fi, apesar de Lucas ter como influência-mor H.R. Giger, que morreu hoje, após cair da escada de sua casa, em Zurique.
Sua obras podem ser vistas em sua página no DeviantART. Abaixo reproduzimos algumas.
Instagram: @viniciussiqueiract
Vinicius Siqueira de Lima é mestre e doutorando pelo PPG em Educação e Saúde na Infância e na Adolescência da UNIFESP. Pós-graduado em sociopsicologia pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo e editor do Colunas Tortas.
Atualmente, com interesse em estudos sobre a necropolítica e Achille Mbembe.
Autor dos e-books:
Fascismo: uma introdução ao que queremos evitar;
Análise do Discurso: Conceitos Fundamentais de Michel Pêcheux;
Foucault e a Arqueologia;
Modernidade Líquida e Zygmunt Bauman.