Arte e a construção social da realidade

As pessoas visitam um museu em particular por ele possuir alguma obra em especial e, vivenciam a conexão não apenas com a pintura mas com a importância que outrem colocara na pintura. Alguns museus contém peças com séculos de idade estabelecendo uma conexão com sociedades passadas e civilizações perdidas.

Texto originalmente publicado no site Everyday Sociology.

arte construção social
Pablo Picasso: Demoiselles D’avignon

O que é arte? Essa é uma pergunta sem resposta, certamente meu intuito não seria responde-la nesse post.

Uma visita recente à um museu de arte contemporânea me incitou essa indagação enquanto eu passeava pela exposição, onde se encontrava caixas de madeira, um dreno, rabiscos de mapas desenhados à mão em pedaços de papeis marrons, fantoches feitos de meia e também um diário que incluía o peso do criador, temperatura corporal e uma espécie de cronograma de eliminação do peso do corpo do artista.

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Para essas peças estarem em um museu alguém deve ter atribuído à elas mérito artístico (o que alguns críticos discordam). Ou então os criadores consideram-se artistas e começam a criar algum tipo de arte, e assim, são considerados artistas pelos outros. Definir o que é arte não é apenas uma diligência individual, mas algo que é fundamentado em nosso contexto social.

As pessoas visitam um museu em particular por ele possuir alguma obra em especial e, vivenciam a conexão não apenas com a pintura mas com a importância que outrem colocara na pintura. Alguns museus contém peças com séculos de idade estabelecendo uma conexão com sociedades passadas e civilizações perdidas.

Ir ao museu é obviamente um ato social, talvez um modo de conectar nossa identidade com ‘’culturas superiores’’ ou práticas sociais que foram tradicionalmente preservadas de forma minuciosa particularmente pelas elites da sociedade. Não é difícil notar os nomes dos patronos nas descrições das peças se elas forem doadas. Ser um ‘’patrono das artes’’ traz um significado social específico de poder e status. Marcar um encontro em um museu pode afirmar uma característica sobre sua classe, ou pelo menos criar a impressão que você é uma pessoa refinada e com bom gosto que aprecia artes.

Em um nível mais básico, o museu destaca como um contexto molda nossa interação com outros – nossas conversas e seu volume, em última instância – e ainda há tipicamente guardas designados a monitorar o ambiente e corrigir qualquer comportamento fora dos parâmetros socialmente estabelecidos.

Existe alguma relação entre arte e beleza? No caso de muitos museus, a beleza e o refinamento na arquitetura e como o ambiente é estruturado atrai tantos visitantes quanto as peças em exibição. Então percepção do que é belo é socialmente construída, algo que está além do que o indivíduo carrega e que está amarrado à outros sistemas de significado, incluindo o modo que atribuímos sentidos de gênero, raça, classe, sexualidade e outras forças sociais. A ida ao museu oferece uma janela na construção histórica da beleza e dos status. Quais retratos foram historicamente pintados? E quais não foram? Como essas decisões culturais e sociais são relacionadas com classe, gênero e raça?

A questão a respeito da beleza está no coração de alguns dessas obras contemporâneas como os que eu mencionei anteriormente. Onde se está a beleza em ler sobre alguém que acorda e vai urinar? A visão de um dreno na parede ou uma caixa de madeira representa o que é belo?

Talvez, arte contemporânea nos pergunta como nós definimos arte, com a sorrateira intenção de desestabilizar seu significado apontando que a arte em si é socialmente construída. Alguns acham esse processo prazeroso e gozam do seu desafio intelectual, tentando decodificar seus significados. E algumas pessoas acham absurdas essas várias formas de arte contemporânea, como por exemplo Morley Safer em 1993 nos seus 60 minutes que questionou certos valores focando em exibir mictórios característicos, aspiradores de pó e telas em branco que pessoas pagavam dez, cem mil dólares ou mais. O vídeo de Safer mostra essa característica dúbia da arte e sua realidade.

Mesmo que você concorde ou não com Safer, algumas pessoas consideram seu trabalho de alta importância, Um dos entrevistadores de Safer nota que gastar dinheiro faz com que seus compradores se sintam como se eles fizessem parte de um novo movimento artístico, alguns são apenas investidores esperando estar a frente dos outros ao comprar uma peça de um novo artista importante e, então, ganhar dinheiro com isso. No entanto, miríades de significados são adscritas nesses assuntos.

Visite um museu local e pense sobre o que as peças em exibição nos pode dizer sobre a construção social da realidade e como os significados da arte são criados através do contexto social e da interação social.

http://www.cbsnews.com/8301-504803_162-57405985-10391709/morley-safers-infamous-1993-art-story/?tag=contentBody;listingLeadStories

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