As causas distantes da loucura, ou do lunatismo – Michel Foucault

As causas distantes indicavam um conjunto de explicações possíveis, imediatas, mas de antecedência com a loucura. Indicavam uma distância física, uma distância que significava impotência perante a causa. No curso do século XVIII esta significação muda e um conjunto novo de condições emerge. Este conjunto insere o meio como elemento para se compreender o corpo humano e, assim, modifica a noção de causas distantes para aquilo que promove uma relação não só de antecedência, mas um novo sistema de relações causais que insere um novo tipo de corpo no olhar médico.

As causas próximas da loucura – Michel Foucault

Das passagens qualitativas às observações anatômicas e fisiológicas, o entendimento sobre a loucura e sua relação com o corpo e a alma caminhou para a desconsideração paulatina do simbolismo próprio das qualidades para a consideração passível de ser medida das alterações cerebrais. Esta nova estrutura de causalidade linear será determinante na percepção da loucura na formação discursiva da loucura na Idade Clássica.

Corpo, alma e loucura – Michel Foucault

Aos poucos, o problema da relação entre alma e corpo toma forma no problema indicado por Voltaire: a loucura de fato afetaria a alma? A alma pode ser materialmente observada na afecção dos sentidos? Caberá à medicina o estudo dos fenômenos, a metafísica tratará de estudar as relações profundas entre corpo e alma

Paixão e loucura – Michel Foucault

Foucault investiga o próprio movimento da nova teoria das paixões que dá possibilidade primeira à existência da loucura. Alma e cérebro não estão ligados num caminho retilíneo, mas se relacionam numa confusão entre setores do humano (alma e corpo) que parecem se entender se maneira arbitrária. Assim, o desatino se faz num movimento de irracionalidade que começa no desarranjo da imaginação frente às paixões.

Homossexualidade e loucura – Michel Foucault

A partir da insanidade, a família foi capaz de reunir toda uma variedade de inadequações e inseri-las num campo de culpabilidade que se tentou encontrar, em vão, a culpabilidade anteriormente moral nas próprias características da doença mental. É a partir dela que a homossexualidade se tornou caso de família e caso de tensão familiar. A família, assim, se torna topos da geração de um número diverso de formas da loucura.

O desatinado em Michel Foucault – DROPS #3

FOUCAULT, Michel. História da Loucura na Idade Clássica. São Paulo: Perspectiva, 9ª edição, 2012, p. 249. Grifos nossos. Esse gesto que fazia a loucura desaparecer num mundo neutro e uniforme da exclusão não assinalava um compasso de espera na evolução das técnicas médicas, nem no progresso das idéias humanitárias. Ele se revestia de seu sentido…

Loucura e crime – Michel Foucault

Há uma implicação específica que une loucura e crime em uma relação de mutualidade: o mais exaltado dos loucos terá, ao menos, uma parcela de maldade em seu espírito; o mais maldoso dos criminosos será, ao menos um pouco, desatinado. O relacionamento entre loucura e mal não está mais no campo do todo fantasmagórico da Renascença, um todo oculto do mundo. Na Idade Clássica, há uma loucura e uma maldade justapostas e dependentes de uma decisão individual, de um poder todo do homem, sua escolha, sua vontade.

O dispositivo – Michel Foucault

Entende-se que o dispositivo, através da explicação de Foucault, pode ser compreendido a partir de três características: sua heterogenia, sua emergência e a urgência que pretende responder. O dispositivo é composto por um conjunto de elementos dispersos, sem coerência explícita necessária, elementos discursivos e não discursivos, que se relacionam, resolvem uma urgência específica. O dispositivo é uma ferramenta analítica avessa ao universal, avessa ao atemporal.

A loucura suicida – Michel Foucault

O suicídio passa a frequentar um campo fora do sagrado, um campo de existência que depende de uma certa secularização da pena e, ao mesmo tempo, ressacralização institucional: a emergência da Contrarreforma e seu olhar ao erro contra o próprio corpo em conjunto com a máquina de internamento do século XVII. O suicida, assim, passa a ser exemplo de um tipo de insano clássico: aquele que expressa uma recusa ética fundamental.

O modelo de poder da tecelagem – Michel Foucault

O poder pastoral tem entrada na Europa a partir do pensamento oriental, principalmente hebreu, mas também pitagórico. O pensamento grego, por sua vez, redireciona a análise do homem político para o paradigma da tecedura, em que cabe ao político organizar, unir e dar condição para o exercício dos pastorados particulares na cidade: é a tecedura que permite uma administração para favorecer o pastorado do ginasta, do médico, do pedagogo e etc.