Da série Friedrich Nietzsche.
A vontade de potência não se manifesta em plenitude quando a barriga está vazia. Muito menos quando a fome é uma companheira diária. De certa forma, a fome pode ser tratada como a doença em Nietzsche, já que ela é aquilo que impede a afirmação de si do indivíduo, ao mesmo tempo que o coloca em situação de delírios e ressentimento.
Segundo Oswaldo Giacoia Junior, em “Nietzsche: humano como memória e como promessa”, a doença pode ser vista em duas modalidades, “por um lado, aquela do doente incurável e, por outro, aquela do enfermo que pode retornar a si e partir para uma nova saúde, tendo a grave enfermidade como condição” dentro da filosofia nietzschiana. Isso significa que o doente pode se recuperar e partir para uma nova saúde depois da experiência da doença, do delírio, da desrazão, ou cair em profundo ressentimento e se perder.
Para o comentarista, “sequestrada pelo ressentimento, a doença se torna a fraqueza num sentido particularmente perigoso: em razão da debilidade, o ressentimento invade e domina a consciência do sofredor, transtornando o metabolismo psicológico que regula a alternância entre percepção, esquecimento e memória das vivências, sobretudo o processo de assimilação dos traços de lembranças negativas. Uma vez minada a força plástica do esquecimento, o sofredor se torna incuravelmente ressentido, porque sua consciência é pervadida pelos traços das lembranças aflitivas, que atraem como ímã a energia dos outros estados psíquicos”.
A doença é fraqueza porque é ressentimento, no entanto, este não é o único caminho, já que ainda existe o caminho da força, da superação da dor, da vivência do sofrimento como uma experiência de construção de uma nova saúde. O que isso significa? Que o Programa Bolsa Família, se situando como o impulso que retira o doente (no caso, o faminto) do ressentimento, é aquilo que possibilita o livre fluxo da vontade de potência.
A prova disso é o empoderamento das mulheres, que são 93% das titulares do programa. Ser titular de um programa de distribuição de renda permite que o indivíduo se afirme de maneira genuína, afinal, a fome e a opressão dentro dos lares eram causas que impediam qualquer autoafirmação das mulheres pobres, hoje líderes de seus lares.
Para tentar combater esta modesta proposta de aproximar o bolsa família com o conceito de vontade de potência, é provável que a ojeriza de Nietzsche pela caridade seja aqui jogada na mesa, no entanto, resta entender que este programa não é uma caridade ao sofredor. O sofredor é aquele que só sabe viver de seu sofrimento, ele o internaliza e começa a viver a partir dele, já o beneficiado do bolsa família é aquele que é forçado por condições exteriores a sofrer, mesmo tentando sair de seu sofrimento.
As condições materiais em que os beneficiários estão inseridos os colocam como sujeitos vulneráveis: são pessoas sem possibilidade prática de superar um sofrimento resultante da estrutura econômica capitalista. A prova de que elas não estão em posição de interiorização do sofrimento é o fato de que 12% das pessoas que já receberam o programa, o deixaram após declararem-se acima do limite de renda estipulado pelo Governo Federal.
Todas as contrapartidas deste programa social (escolaridade, vacinação, acompanhamento médico e etc) também são impulsos para uma construção de um tipo de homem autossuficiente e forte o bastante para agir politicamente. Assim, consigo formular a hipótese de que o programa não é uma prisão do sofredor em um eterno sofrimento, mas ele é a superação do sofrimento pela via do empoderamento e da fortificação do corpo (que passa a ser um agente político não-vulnerável).
Instagram: @viniciussiqueiract
Vinicius Siqueira de Lima é mestre e doutorando pelo PPG em Educação e Saúde na Infância e na Adolescência da UNIFESP. Pós-graduado em sociopsicologia pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo e editor do Colunas Tortas.
Atualmente, com interesse em estudos sobre a necropolítica e Achille Mbembe.
Autor dos e-books:
Fascismo: uma introdução ao que queremos evitar;
Análise do Discurso: Conceitos Fundamentais de Michel Pêcheux;
Foucault e a Arqueologia;
Modernidade Líquida e Zygmunt Bauman.
Desconfio, não vejo uma forma de superação do individuo antes miserável que passava fome.
Logo Nietzsche vocês usaram… Vocês já leram Vontade de potência? Vontade de potência é aquele livro que Nietzsche declara o comunisno como páreo ao cristianismo? Que debocha do comunismo e o chama de niilismo negativo passivo?
Eu não sei o que é pior, usar Nietzsche para argumentar em favor do bolsa família ou usar Nietzsche para se opor ao consumo animal.
Eu gostaria que Nietzsche estivesse vivo e falasse do quando ele acha o bolsa família decadente… Você acha que alguém que defende o regime monárquico vai se importar? Quem é esse Vinicius? De onde esta pessoa tira suas alucinações? É muita besteira em um blog só…
Ué, não eh o mesmo Nietzsche que debochava dos ídolos e fazia da filosofia uma arma de guerra? Leia Nietzsche, mas nunca o faça cânone.
E obrigado pelos elogios. Agradeço seu tempo em ter vindo até aqui.
Não quero que pense que eu acompanho o blog para apenas me opor ou debochar, eu apenas gosto de ler pensamentos diferentes. Não quero que pense que eu coloco Nietzsche em um altar, no fundo eu o acho incoerente, mas gosto do seu pessimismo, e da forma de como ele aborda a moral e a religião.
Sobre os tópicos do blog… Eu gostei de alguns, li até aquele artigo sobre o vegetarianismo, material de qualidade… Mas convenhamos, alguns textos são por demais ”pessoais” e sem sentido algum.
Temos colunas com crônicas, temos resenhas, traduções. Não somos tao específicos.
Nossa, eu cheguei aqui com uma premissa totalmente oposta do que foi exposta no texto. Visto os ataques que Nietzsche fez a igualdade, pensei que iria sentir um certo desprezo dele pelo bolsa família, e ao ler isso, percebo que é bastante coerente com as ideias de vontade de potência. Já vi que vou passar o resto do dia refletindo sobre outras coisas que podem causar esse impulso hahaha. E não só como uma obra de reativos, como estava no meu imaginário. Parabéns pelo texto, Vinicius.
Vlw, Winston!
Grande abraço e volte mais vezes aqui!
Massa a reflexão Vinícius! Trazer Nietzsche para os dias atuais de forma tão elucidativa é difícil e você o fez com maestria e clareza.
Cruzar os pensamentos dessa pessoa que foi N. com outros pensamentos complementares é fundamental pra que nós humanos vivos continuemos ampliando as percepções da vida neste globo flutuante e a aperfeiçoando.
Estudar o pensamento de N. me ampliou muito e também causou muitos tilts no início, principalmente em função de uma formação antes mais materialista, mas são pensamentos complementares e tua reflexão deixa isso muito evidente. Encontrar novas transas Dioniso-Ariana entre estes pensadores ilustres como N. e seus contemporâneos e os nossos contemporâneos é necessário.
Obrigado pelo texto! 🙂 até breve.
Volte a nos visitar!
Caro Vinícius, seu texto é uma bosta, daquelas bem fedidas, se manque, crie vergonha nessa sua cara, escrever sobre Nietzsche não é pegar qualquer bosta e achar que pode relacionar com seus conceitos, vá estudar vá filho. E ainda tem os retardados que acham tudo isso lindo, vocês só podem ter usado uma droga muito pesada pra isso.
Amigo, vá tomar no miolo de seu cu.
Seu texto é interessante, em que pese estarmos passando por tempos sombrios neste país de covardes e golpistas…
Sugestão: não responda a insultos, principalmente vindos de pessoas visivelmente perdidas e minúsculas. Ignore-as.
Obrigado, sempre nos leia!