Os diversos torpedos disparados pelo Estado de Israel sobre a Palestina, atingindo milhares de civis e até mesmo ambulâncias enviadas para salvar feridos, junto com corpos empilhados sob escombros transformam o território palestino em um grande campo de terror. Esta é a imagem que vemos pela televisão e nos poucos vídeos amadores que vazam na internet. O problema é que o massacre israelense tem raízes um pouco além da pura ocupação territorial, e está ligado aos eventos da Primavera Árabe de 2011. As informações são do Red Flag.
Primavera Árabe e sua contrarrevolução
Os eventos da Primavera Árabe em 2011 tiveram como dois centros de contrarrevolução o governo de Abdel Fattah el-Sisi no Egito e do Rei Abdullah na Arábia Saudita. Ambos tinham como objetivo acabar com todos os focos das revoltas no Oriente Médio, com el-Sisi se aproveitando da hostilidade contra a Irmandade Muçulmana para realizar seu intento enquanto o rei árabe se utiliza de uma falsa dicotomia entre regimes autoritários Vs extremismo islâmico para escamotear a verdadeira oposição entre a ditadura instalada Vs as demandas do povo.
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Segundo o governo egípcio, o Hamas seria uma extensão da Irmandade Muçulmana. El-Sisi é aliado da extrema direita israelense e o redator do jornal ligado ao governo declarou em seu twitter, “Thank you Netanyahu, and God give us more men like you to destroy Hamas!”.
A proposta de “cessar fogo” feita pelo Egito foi, na verdade, um pedido de total desistência por parte da Palestina, que abria possibilidade e dava todo o poder para o exército de Israel invadir Gaza com total autoridade.
O rei árabe se encontra ao lado do Egito em suas forças ostensivas para suprimir a resistência palestina e qualquer Estado que pretenda oferece alguma ajuda: os países do Oriente Médio sofrem pressão da Arábia Saudita, dos Emirados Árabes e da Turquia para acabarem com qualquer ligação com a Irmandade Muçulmana.
É interessante perceber que o Egito foi o mesmo país que teve levantes populares com inspiração na resistência palestina e o medo do regime militar atual está exatamente num retorno dos ventos revolucionários. Sisi não tem um ódio particular ao Hamas ou à Irmandade Muçulmana, mas sim a qualquer organização pró-palestina. O presidente egípcio teme que seu regime militar seja posto em cheque por organizações de resistência e teme que de fato uma revolução pan-árabe possa acontecer, levando a tão pedida justiça social e democracia a estes países.
As estratégias da Arábia Saudita e do Egito envolvem recriminar qualquer oposição como “islamo-fascista” e utilizar um discurso de proteção do processo revolucionário, quando, na verdade, há uma força para mitigá-lo.
A dificuldade palestina
Apesar de vários protestos por toda Europa e pelo Brasil, as capitais árabes não estão sendo palco de protestos pró-palestina. Hezbollah e o Hamas, dois movimentos que combatem Israel, o primeiro no Líbano, o segundo em Gaza, estão de mãos atadas e o povo árabe lamenta a oportunidade perdida em 2011, quando a Primavera Árabe, que começou na Tunísia, se espalhou para o Egito, Síria, Iêmen, Líbia, Marrocos, Jordânia entre outros países.
Desde então, ficou claro que a aliança entre Israel e o Egito está cada vez mais profunda, com isso, a necessidade de uma revolução mais forte é ainda necessária e urgente. As forças contra a Palestina teimam em afirmar que é impossível viver um Oriente Médio sem imperialismo, divisão de classes, sectarismo, sionismo e opressão. Dizem que somente o governo autoritário que eles mantém é a solução para a falta de estabilidade política no OM, mas atacam e reprimem todas as formas de poder popular.
Falta, então, uma revolução que elimine a antiga ordem subserviente ao imperialismo, que a deixe para fora do Oriente Médio e, acima de tudo, que crie novas formas de política e de se viver em sociedade em sentido amplo.
Instagram: @viniciussiqueiract
Vinicius Siqueira de Lima é mestre e doutorando pelo PPG em Educação e Saúde na Infância e na Adolescência da UNIFESP. Pós-graduado em sociopsicologia pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo e editor do Colunas Tortas.
Atualmente, com interesse em estudos sobre a necropolítica e Achille Mbembe.
Autor dos e-books:
Fascismo: uma introdução ao que queremos evitar;
Análise do Discurso: Conceitos Fundamentais de Michel Pêcheux;
Foucault e a Arqueologia;
Modernidade Líquida e Zygmunt Bauman.