Da série “Janta Filosófica“.
Michel Gherman foi o convidado especial da Janta Filosófica nº28. Ele é professor da UFRJ e tem experiência na área de História, com ênfase em História Contemporânea, atuando principalmente em Estudos do Holocausto, Estudo sobre Sociedade Israelense, Conflito palestino Israelense, Oriente Médio, Estudos Judaico, judaísmo brasileiro, sionismo e Estudos da memória.
Nosso tema central foi a relação entre o nazismo e o bolsonarismo: como vê-la? Existem relações entre estas ideologias?
A estética bolsonarista da morte
“O que o Bolsonaro está propondo, e chegou ao poder apoiado pelo neoliberalismo, é a morte de todos. Nossa e dele. Isso que é trágico, isso que é trágico. Me lembra a ideia do mercador de Veneza, a ideia de que “a tua morte e a minha morte caminham juntas para a morte de todos” . É disso que o Alvim está falando, Alvim não está sendo somente um homem que promove exclusão, promove-se a morte e o suicídio. Nada mais coerente com o nazismo do que a morte de Hitler, do que a prática dele de produzir falas sobre a própria morte, de caminhar em direção à própria morte, de não se vacinar e falar sobre isso.
Não dá pra entender o bolsonarismo sem entender a fala do Achille Mbembe de que essas perspectivas que promovem necropolítica são de compromisso com o outro e consigo, no sentido de produzir a morte do outro e a própria morte. Estamos falando de um regime homicidário e suicidário. No final, se todos morrerem é que deu certo”.
Aproximações do bolsonarismo com o judaísmo
“Ser judeu, tal qual ser qualquer identidade na modernidade, é perguntar sobre o que se é. Esta é a definição básica e as respostas da judeidade à modernidade é o que acaba produzindo as formas de se ser judeu. Há uma questão fundamental nessa história: se o judeu é a metáfora da identidade moderna, se a modernidade utiliza o judeu como uma espécie de termômetro para saber até onde pode ou não pode chegar.
[O Bolsonarismo] Resgatando um tipo de judeu imaginário se pode, na verdade, resgatar aquilo que não era moderno porque se o judaísmo, se a judeidade é tão importante para a modernidade, se eu resgato o judeu de antes da modernidade, estou resgatando um mundo anterior ao moderno”.
“Em algum sentido, os nazistas não matavam judeus, consideravam o que eles consideravam judaico, porque se você se convertesse você não deixaria de ser morto, ou seja, a vitimização se dá a partir do assassino não a partir da vítima.
No caso do Bolsonarismo, ele veio numa onda de propaganda onde se criminalizava a esquerda, o petismo, o lula. O desejo que levou à eleição do Bolsonaro foi a possibilidade de você purificar o Brasil através da limpeza dessa esquerda. Isso não se parece com nazismo, isso é nazismo”.
“Além dessa referência que acredita que os judeus não foram substituídos pelo povo da igreja, de que os judeus são o povo da igreja, isso é parte do jogo, mas esse judeu que é apoiado pela igreja é um judeu imaginário, é um judeu pré-moderno, é um judeu branco, armado até os dentes, ultra capitalista e cristão. Um judeu baseado em uma perspectiva antissemita do judeu.
Quando você escuta a extrema direita falando sobre o judeu, ela está falando disso. […] O judaísmo imaginário só vai ser possível se houver o desaparecimento do judeu real e isso acontece da seguinte maneira: transformando o judeu em não judeu (o judeu liberal, o judeu comunista deixam de ser judeus), ou na morte do próprio judeu real”
Os evangélicos e o judeu imaginário
“Os evangélicos que se acham judeus estão passando por um processo de conversão e desconversão ideológica, produzindo a ideia de que a gora não cabe mais o judeu de esquerda, liberal, secular, o que cabe é o judeu ultracapitalista”
O bolsonarismo e o marketing nazista
“O bolsonarismo é nazismo. O bolsonarismo se aproxima do nazismo porque é nazista.
O Bolsonaro não é um grande estrategista, não faz algo para alguma coisa, ali há só tática.”
Instagram: @viniciussiqueiract
Vinicius Siqueira de Lima é mestre e doutorando pelo PPG em Educação e Saúde na Infância e na Adolescência da UNIFESP. Pós-graduado em sociopsicologia pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo e editor do Colunas Tortas.
Atualmente, com interesse em estudos sobre a necropolítica e Achille Mbembe.
Autor dos e-books:
Fascismo: uma introdução ao que queremos evitar;
Análise do Discurso: Conceitos Fundamentais de Michel Pêcheux;
Foucault e a Arqueologia;
Modernidade Líquida e Zygmunt Bauman.
“…posso levantar judeus a partir dessas pedras…”