Talvez um dos mais influentes sociólogos da segunda metade do século XX, Pierre Bourdieu nasceu no sul da França em 1930 e faleceu em Paris em meados de 2002. Não se sabe muito sobre sua infância, o próprio não se dava o arrojo de falar sobre sua vida íntima, acreditava que talvez isso iria descredibilizar suas teorias.
Bourdieu alegava que não havia uma distinção entre prática e teoria, pois as duas seriam diretamente ligadas. Passou parte de sua carreira tentando preencher dicotomias sociológicas. Algumas das mais relevantes concebidas pela sua ontologia social não cartesiana foram: objeto e sujeito, materialidade e a representação simbólica e agente e estrutura.
O vídeo (de uma forma um tanto descontraída, aliás) foca em quatro conceitos chaves do pensamento bourdieusiano – O Capital, Campo, Habitus e Violência Simbólica. Tomemos uma breve análise desses conceitos.
Espécies de Capital: embora ele mesmo não se considerasse um marxista, Marx teve uma grande influência sobre seu pensamento. Tanto para Marx quanto para Bourdieu, o capital estrutura as fundações da vida social e dita as posições dos sujeitos nessa ordem social, ou seja, quanto mais capital alguém possuir, mais poder esse alguém terá e ocupará uma posição privilegiada. Porém, Bourdieu vai além do capital de acúmulo de bens e riquezas econômicas:
- Capital Econômico: diferentes fatores de produção, imóveis, salários, espólios etc.
- Capital Cultural: um antro de elementos sociossimbólicos como conhecimentos, experiências, maneirismos, títulos etc – o mesmo gosto por filmes, pinturas, esculturas, músicas e um diploma, por exemplo, cria um senso de identidade coletiva possibilitando uma mentalidade de uma determinada classe social.
- Capital Social: redes de relações sociais, relacionamentos, grupos, e relações sociais que podem se converter em recursos de dominação.
- Capital Simbólico: prestígio, honra e aquilo que possibilita o reconhecimento de certos agentes no espaço social.
Campo: um campo é um espaço simbólico que possui relações objetivas históricas e atuais no qual ocorre o posicionamento e disputas entre os agentes por meio dos diferentes tipos de capital. Um agente no campo artístico, por exemplo, usará do capital social e econômico para obter o monopólio do capital cultural. Dessa forma é visível que cada espaço represente um campo exclusivo – o campo religioso, o campo científico, o campo acadêmico etc – e assim, possui suas lógicas e seus princípios regulatórios característicos. Outro exemplo é a grande importância do campo do poder, onde a hierarquia das relações de poderes no campo político serve para estruturar a maioria dos outros campos.
Para Bourdieu a sociedade não é formada por uma totalidade de uma única peça integrada por funções sistémicas ou uma autoridade global, ele vê a sociedade como um conjunto de esferas sociais relativamente autônomas que não conseguiriam ser levadas a uma lógica social única, tais como o capitalismo, a modernidade e a pós-modernidade.
Habitus: é o sistema pelo qual nós produzimos nosso modo de pensar, falar e agir e, que sustém a estrutura da realidade social em qual nós residimos. O habitus é composto por um conjunto de experiências sociais e relações históricas que adquirimos durante o percurso de nossas vidas, é um sistema mental (ou cognitivo) de disposições que são duráveis e ao mesmo tempo transponíveis.
Violência Simbólica: sendo o habitus homólogo as estruturas objetivas na sociedade, quando essas estruturas impõem qualquer tipo de dominação sob o habitus do indivíduo em um determinado campo, ocorre uma naturalização da dominação, ou seja, regras e crenças que são impostas ao indivíduo soam como conceitos naturais e comuns à sua existência, tornando qualquer tipo de desigualdade imperceptível.
A submissão de trabalhadores e a exclusão de mulheres, negros, índios e homossexuais na estrutura social muitas vezes não é consolidada por uma concessão consciente, esse tipo de chauvinismo diário atribuído à uma hegemonia cultural tecida pela força brutal do capitalismo, do homem branco, dos proclamadores do machismo e legitimadores da exclusão social é sutilmente e tacitamente elaborada por agentes que estendem e formulam valorações morais e mecanismos culturais como o estado e a mídia. Logo a violência simbólica atua como uma concessão inconsciente, o dominado contribui para sua dominação e nenhuma relação antitética é criada entre o indivíduo e as estruturas vigentes, resultando na opressão em cumplicidade dos que são oprimidos com os opressores.
O vídeo abaixo nos conduz a uma introdução a esses conceitos com alguns detalhes e curiosidades para a compreensão do pensamento de Bourdieu:
Republicou isso em Elias Lima.
Muito elucidativo esse post! Você poderia me dizer exatamente em qual/quais livro(s) de Bordieu esses conceitos são apresentados/discutidos?
Abração.