Pornografia e prostituição: Quando o sexo não é emancipatório (pt 2)

A prostituição têm sido frequentemente analisada dentro de uma perspectiva liberal de “escolha”, em que as mulheres prostituídas, sendo donas de seus corpos, têm o direito de vendê-los, exercendo um “trabalho como qualquer outro”. Ela também tem sido naturalizada na medida em que essa mercantilização de corpos - histórica e majoritariamente femininos – é desvinculada das relações de dominação de gênero, de seu papel dentro do patriarcado.

PARTE II – PROSTITUIÇÃO

A prostituição têm sido frequentemente analisada dentro de uma perspectiva liberal de “escolha”, em que as mulheres prostituídas, sendo donas de seus corpos, têm o direito de vendê-los, exercendo um “trabalho como qualquer outro”. Ela também tem sido naturalizada na medida em que essa mercantilização de corpos – histórica e majoritariamente femininos – é desvinculada das relações de dominação de gênero, de seu papel dentro do patriarcado.

“Cada vez mais se oculta que são as mulheres a grande maioria das pessoas que são prostituídas, como se a existência de prostituição masculina, de travestis e transexuais, retirasse o caráter patriarcal da prostituição.”
(Prostituição: uma abordagem feminista)

O primeiro ponto a ser considerado é o de que criticar a indústria do sexo não é criticar a sexualidade. Ao contrário de uma possível abordagem conservadora, a crítica à indústria do sexo por um viés de gênero pretende-se libertadora, pois deseja que as mulheres possam explorar sua sexualidade fora do âmbito das dominações financeiras e hierárquicas.

Mercantilização de corpos femininos

As experiências individuais de prostituição não podem ser desvinculadas da totalidade de um sistema fundado sobre a libido e o poder financeiro masculinos. Ao contrário da visão de que a prostituição é um “trabalho como qualquer outro”, há algumas diferenças essenciais explicitadas no seguinte trecho pela cientista política Carole Pateman:

“é um cliente do sexo masculino que participa do contrato de prostituição e não um patrão. Os serviços de uma prostituta não podem ser prestados a não ser que ela esteja presente; a propriedade na pessoa, diferentemente das propriedades materiais, não podem ser separadas do seu dono. O capitalista não tem um interesse intrínseco no corpo e no ser do trabalhador ou, pelo menos, não o mesmo tipo de interesse que o homem que participa do contrato da prostituição. O patrão está interessado no lucro. Os homens que participam do contrato da prostituição tem um único interesse: a prostituta e seu corpo. Na prostituição o corpo da mulher e o acesso sexual ao seu corpo são os objetos do contrato. Ter corpos à venda no mercado, enquanto corpos, é muito parecido com a escravidão.”
(Prostituição: uma abordagem feminista)

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Naturalização da prostituição

Ao ignorarmos a função histórica da prostituição e a reduzirmos a algum segmento da natureza humana, naturalizamos esta prática social dizendo que ela é “pré-política” e obscurecemos a possibilidade da crítica, sendo este um impasse para uma análise mais ampla.

Um dos argumentos centrais deste debate refere-se ao estereótipo de que a prostituição é a “mais antiga profissão do mundo”. No imaginário coletivo a ideia de que a prostituição é uma realidade que está além da cultura está profundamente enraizada. Todos os fenômenos sociais, para que possam se reproduzir ao longo do tempo, devem ser submetidos a processos permanentes de legitimação. A primeira legitimidade de qualquer fenômeno social está em sua própria facticidade. O fato de ter existido por longos períodos históricos pode sugerir que parte de uma “ordem natural” das coisas impossíveis de alterar.
(Claves para un análise feminista de la prostitucion – Proyecto Ambulante 2014)

A invisibilidade do cliente

Quando falamos em prostituição, a primeira – e frequentemente única – imagem que temos é a da mulher que vende seu corpo, sendo ignorados todos os outros elementos que lucram grandiosamente com esta empresa global: meios de comunicação, empresários do sexo, agências de turismo sexual, cafetões, narcotraficantes ou traficantes de mulheres. Mas outro elemento fundamental para a existência da prostituição é o cliente, e é a partir de seu esquecimento que podemos entender a relação de poder existente neste segmento da indústria do sexo.

No imaginário coletivo, no entanto, a prostituição está associada com a imagem da prostituta. E, contudo, não há mulheres prostituídas sem clientes. Por que o cliente tem sido invisível no imaginário da prostituição? A prostituição, no entanto, não deve ser definida como a profissão mais antiga do mundo, mas como a atividade que responde à exigência mais antiga do mundo: a de um homem que quer acessar o corpo de uma mulher e o consegue em troca de um preço. (…) Por isso é necessário resignificar o imaginário da prostituição e colocar os clientes em seu devido lugar. É necessário notar que estes homens são mais do que os consumidores e que a prostituição não é uma prática inócua, mas, como todas as outras, não pode ser separada das relações de poder que estrutura toda a sociedade.
(Claves para un análise feminista de la prostitucion – Proyecto Ambulante 2014)

Fontes:

[1] http://migre.me/pNVtG
[2] http://migre.me/pNVtZ
[3] http://migre.me/pNVuM

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