Robinho passa necessidade, ou o movimento de vitimização

Eu já iniciei a discussão acerca do movimento discursivo que envolve o estuprador e sua vítima no caso de estupro coletivo feito pelo ex-jogador Robinho. Neste movimento, o estuprador tende a ser inserido na situação como um protagonista e, em seu desenvolvimento, seu protagonismo é revestido por uma adjetivação específica: o estuprador é inserido na história como vítima.

Hoje, meu objetivo é inserir mais um ponto deste movimento discursivo de vitimização a partir de uma nova demanda do advogado de Robinho, José Eduardo Alckmin.


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Essa reviravolta é embasa por uma certa consciência e desejo da vítima real do estupro em estar em sua posição, somada a um mau-caratismo inserido nesta vítima por, mesmo querendo, denunciar o ato. Nesta abordagem individualista e moralista que o discurso do estupro preconiza, a vítima não é e não pode ser vítima, pois, por pressuposto, ela se colocou na situação por desejo próprio.

O preenchimento da vitimização do estuprador se desenrola não só no nível moral, como uma tentativa de difamação e tentativa de extorsão. No caso específico de Robinho, ele se estende também na própria condição do ex-jogador. Segundo seu advogado, com objetivo de aumentar o prazo de defesa:

Evidentemente há dificuldades. É um jogador que não está exercendo seu múnus [trabalho], tem dificuldade econômica. Eu perguntaria então se seria possível fixar o prazo um pouco maior para que se providencie a tradução juramentada.

A tradução juramentada a que se refere é a tradução do processo de Robinho na Itália, que já o condenou. No entanto, Robinho, que não exerce sua profissão, vive de renda e tem 20 imóveis e oito carros. O jogador, que não exerce sua ex-profissão, é rico.

Neste movimento discursivo específico, Robinho é inserido numa posição de vítima com dificuldades de se defender. Como vítima de uma situação que, no discurso machista do estupro, ele nem sequer protagonizou.

2 Comentários

  1. Em um pais que não descolonizou a mentalidade da sociedade os casos de Daniel Alves e do Robinho precisam ser amplamente debatido em público e desmitificar o caráter machista e a mentalidade escravocata que reina na cabeça da maioria das pessoas.

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