A greve dos professores da rede estadual de São Paulo já dura 68 dias e parece não ter um fim no horizonte. Até o momento, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo não atendeu as reivindicações sobre aumento de salário e melhora nas condições de trabalho. Tomando como base a tentativa de ludibriar a categoria feita nas negociações de quarta-feira (13), quando o secretário afirmou um aumento, mas não revelou índices, também é possível que o governo Alckmin tente a todo custo não atender às expectativas dos grevistas.
Hoje, pela manhã, cerca de 60 professores fizeram um protesto no centro de Sorocaba (SP), em frente à diretoria de Ensino, com objetivo de protocolar um documento com reclamações e denúncias de irregularidades na rede de ensino.
Em meio a esta situação de possível greve prolongada, a professora e presidenta do Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo (Apeoesp) Maria Izabel – conhecida como Bebel -, concedeu uma entrevista ao Colunas Tortas, para esclarecer as posições que a categoria tem tomado perante à investidas de Alckmin contra a paralisação da Educação.
Colunas Tortas – Qual a posição da APEOESP em relação às negociações com o secretário da educação de SP?
Bebel – Os professores estaduais estão em greve desde o dia 13 de março e até o momento não houve verdadeiras negociações em torno da nossa pauta de reivindicações.
Estamos lutando para que o Secretário da Educação apresente propostas, sobretudo no que se refere à questão salarial, apontando o índice a ser praticado pelo menos no ano de 2015. Há, também, questões relativas à contratação dos professores temporários (categoria O), superlotação das salas de aula, jornada de trabalho, aposentadorias e condições de trabalho que precisam de respostas objetivas por parte do Governo Estadual.
Continuamos em greve em busca dessas respostas.
Colunas Tortas – A greve ainda tem adesão da maioria dos professores? Qual a porcentagem?
Bebel – A adesão à greve tem variado em torno de 50% a 55% atualmente. Há momentos em que essa adesão se eleva, ultrapassando 60%.
Colunas Tortas – Na sua opinião, por que Alckmin não tenta negociar com a categoria?
Bebel – Infelizmente o Governador priorizou a ideia de impor uma derrota à APEOESP, por termos recorrido à greve, que é um direito constitucional, reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal em diversos acórdãos que tratam do direito de greve para os servidores públicos.
Ele deveria priorizar a volta à normalidade na rede estadual de ensino, negociando com o sindicato os pontos da nossa pauta.
Colunas Tortas – Há professores que condenam a greve? Como você avalia isso?
Bebel – Lamento que isso ocorra. Há diversas razões para que alguns professores não compreendam a necessidade da greve. Muitos sofrem pressões diretas nas escolas. Temos orientado os comandos de greve e todos os professores que estão no movimento a dialogar com toda a paciência, explicando as razões de estarmos em greve, como último recurso para que o governo negocie e apresente propostas. Em muitos casos isto surte efeito e a adesão aumenta.
Colunas Tortas – A Apeoesp fomenta uma consciência de classe dentro da categoria dos professores? Como?
Bebel – Sim, permanentemente a APEOESP procura formar a consciência dos professores e professoras não apenas em relação às suas questões profissionais, mas também no que se refere à nossa luta por educação pública de qualidade e as lutas gerais dos trabalhadores.
Fazemos isto por meio de nossos materiais informativos, com publicações específicas, webconferências, cursos, encontros, conferências educacionais, congressos e outras formas.
Instagram: @viniciussiqueiract
Vinicius Siqueira de Lima é mestre e doutorando pelo PPG em Educação e Saúde na Infância e na Adolescência da UNIFESP. Pós-graduado em sociopsicologia pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo e editor do Colunas Tortas.
Atualmente, com interesse em estudos sobre a necropolítica e Achille Mbembe.
Autor dos e-books:
Fascismo: uma introdução ao que queremos evitar;
Análise do Discurso: Conceitos Fundamentais de Michel Pêcheux;
Foucault e a Arqueologia;
Modernidade Líquida e Zygmunt Bauman.