Slavoj Zizek contra o pseudo-ativismo: não aja, pense!

Slavoj Zizek é um dos maiores pensadores da contemporaneidade. Aqui, ele debate um pouco a questão das alternativas para o capitalismo atual e a onda de pseudo-ativismo pós-moderna.

Slavoj Zizek, um dos maiores pensadores da esquerda contemporânea, nasceu em 1949 em Liubliana, na Eslovênia.

Completou sua graduação em filosofia e ciência sociais em 1971, apresentando sua tese sobre A relevância prática e teórica do estruturalismo francês em 1975.

Como ela foi considerada anti-marxista, já que não seguia a ortodoxia do Partido Comunista, Zizek viu a chance de se tornar professor universitário ir pelo ralo.

Slavoj Zizek
Slavoj Zizek. Foto: Wikipedia

Foi quando amargou o desemprego e viveu “fazendo freelas” de tradução. No fim dos anos 70 vai para França e estuda Psicanálise com Jacques-Alain Miller, genro de Lacan e volta para seu país com um emprego no Instituto de Sociologia de Liubliana, que, segundo o filósofo, lhe deu tempo para ler inúmeras obras e escrever freneticamente.

Após a publicação de O Sublime Objeto da Ideologia, em 1989, Zizek se torna amplamente reconhecido no mundo e no ano seguinte se candidatou à presidência da Eslovênia, em suas primeiras eleições democráticas na era pós-guerra-fria.

Sua mistura de Lacan, Hegel e Marx o tornam um teórico e analista único no cenário filosófico e político atual. Sempre utilizando referências populares, em suas palestras e conferências, Zizek ignora as distinções entre cultura alta e baixa, fazendo-se entender por meio do humor e por frases inesperadas. Atualmente é professor da European Graduate School e pesquisador sênior no Instituto de Sociologia da Universidade de Liubliana.

Slavoj Zizek contra o pseudo-ativismo

Neste pequeno vídeo, o autor dá seu pitaco sobre o pseudo-ativismo alarmista atual (veja o vídeo no fim do texto). O capitalismo é aqui entendido mais como uma categoria ético-religiosa do que como uma categoria meramente política ou econômica. Para Zizek, “o capitalista ideal é alguém que está pronto para dar sua vida, arriscar tudo simplesmente para que a produção cresça, o lucro cresça e o capital circule. Sua felicidade está totalmente subordinada a isso”.

Começar sua fala por este tópico serve como argumento para contrariar a maioria dos analistas políticos que teimam em afirmar e criticar capitalistas por seu “egoísmo”. Capitalistas não são egoístas, na verdade, é exatamente por isso que o capitalismo precisa ser visto também como uma categoria ético-religiosa. O capitalismo tem sua ética própria que demanda total entrega do indivíduo.

Então, para ir além da crítica moral do capitalismo e para sabermos de fato o que queremos, é necessário pensar no capitalismo como um sistema que não é feito por pessoas más que bolam planos maquiavélicos para dominar o mundo, mas sim pensá-lo enquanto um sistema com uma ética particular eficiente.

Segundo Zizek, “é simples ser formalmente anti-capitalista, mas o que isto quer dizer? Está totalmente em aberto. Esse é o motivo, como sempre repito, com total simpatia pelos movimentos para ocupar Wall Street, que seu resultado foi… Eu chamo isso de lição Bartleby.

Bartleby de Herman Melville, sabe, que sempre respondia “eu prefiro que não”… A mensagem do Ocuppy Wall Street é: prefiro não jogar o jogo da existência. Existe algo errado com o sistema e as formas institucionalizadas de democracia não são fortes o suficiente para lidar com os problemas”.

Não precisamos saber para onde vamos nos mudar quando a casa está em chamas. Precisamos simplesmente fugir da casa! O Ocuppy Wall Street é uma maneira, então, de começar a pensar o mundo em termos diferentes, para Slavoj Zizek. É o símbolo da tentativa de inventar algo que seja eficiente.

“As alternativas do século XX para o capitalismo e o mercado falharam”, continua Zizek, “por exemplo, na União Soviética eles tentaram se livrar da predominância da economia de um mercado monetário, o preço que pagaram foi um retorno a uma violenta relação mestre e servo de dominação direta”.

Como se livrar do mercado e não regressar para uma relação de dominação direta do tipo mestre e servo? “A) [devemos] começar a pensar. Não se leve por uma pressão pseudo-ativista […] Segunda coisa, não estou dizendo que as pessoas estão sofrendo, suportando coisas horríveis e nós devemos só sentar e pensar, mas devemos ser cuidadosos com o que fazemos”.

O que é ser cuidadoso com o que se faz? Para responder esta questão, Slavoj Zizek coloca o exemplo de Obama a mesa: é moda criticá-lo, mas já sabíamos desde o início que ele não faria dos Estados Unidos um país socialista, entretanto, o debate sobre a assistência média universal é extremamente importante, pois coloca em cheque um dos pilares da ideologia norte-americana de liberdade individual e de liberdade de escolha (sempre contra um Estado que funciona para retirar as liberdades individuais).

“Ao mesmo tempo”, diz Zizek, “assistência médica de saúde não é uma ideia louca, radicalmente de esquerda. É algo que existe em vários lugares e funciona basicamente muito bem: Canadá e a maioria dos países do Oeste Europeu. Então, a beleza é selecionar o tópico que toca mais os fundamentos de nossa ideologia, mas ao mesmo tempo, não podemos ser acusados de promover uma agenda impossível, como abolir toda propriedade privada”.

“Então essa seria minha ideia, selecionar cuidadosamente questões como essa, onde sacudimos o debate público, mas não podemos ser acusado de utópicos num senso errado do termo”. Ou seja, devemos mostrar os limites claros do capitalismo.

Veja aqui o vídeo de Slavoj Zizek sobre o assunto:

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